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Daemonelix, os saca-rolhas do diabo

Fósseis inusitados e objetos misteriosos têm sido descobertos ao longo dos séculos, e eles acabam sendo desvendados por pesquisadores ou embasados em teorias das mais esquisitas para justificar sua origem. Um desses fósseis é conhecido como “Devil’s Corkscrew” (saca-rolhas do diabo) e foram descobertos nas planícies dos estados de Nebraska e Wyoming nos Estados Unidos.

Em meados dos anos 1800, os fazendeiros do condado de Sioux, em Nebraska começaram a desenterrar estranhas estruturas espirais de material endurecido, semelhante a rocha que estavam enterradas verticalmente no solo. As espirais eram grossas e algumas chegavam a ter mais de três metros de altura. Sem saber o que eram, os fazendeiros começaram a chama-las de “saca-rolhas do diabo”.

Um daemonelix no Nacional Agate Fossil Beds, em Nebraska, EUA

As estranhas estruturas chegaram ai conhecimento da comunidade científica através do geólogo E.H.Barbour em 1891, quando foi instigado a investigar um espécime que um fazendeiro local havia descoberto em sua propriedade ao longo do rio Niobrara. Barbour descobriu que as espirais eram tubos cheios de areia com as paredes exteriores feitas com algum material fibroso branco. Ele concluiu que eram fósseis, mas não tinha a certeza de sua origem. Ele os chamou de Daemonelix (helicoidais), que era o equivalente em latim para seu nome local.

No ano seguinte à descoberta, Barbour apresentou sua primeira teoria. O material fibroso das estranhas torres helicoidais lhe forneceu a primeira vista, enquanto a história geológica da região onde foram encontrados, forneceu-lhe a segunda. Ele acreditava que se tratava de raízes de extintas esponjas gigantes que cresciam em imensos lagos de água doce que existiam naquela região no passado. Por um tempo, esta teoria foi aceita, mas haviam falhas na teoria que confundiam os pesquisadores, principalmente a presença de ossos de roedores dentro dos saca-rolhas.

Outras pesquisas também revelaram que as rochas nos entornos dos locais dos fósseis tinham mais em comum com pastagens semiáridas do que com fundos de lagos, levando Barbour sugerir que as espirais eram um um novo tipo de plantas gigantes. Mas foram os ossos dos roedores que acabaram desfazendo a teoria das plantas fósseis.

Daemonelix, os saca-rolhas do diabo
Ilustração de como eram os saca-rolhas do diabo | Crédito da foto

Em 1893, os pesquisadores Edward Drinker Cope e Theodor Fuchs propuseram de forma independente que os daemonelix eram os restos de antigas tocas que se enchem de areia e limo. Os ossos encontrados nos saca-rolhas pertenciam aos roedores que os cavaram e terminavam enterrados em seu interior. Mas Barbour não desistiria ainda de sua teoria de plantas fósseis. Ele argumentou que a forma do saca-rolhas era muito perfeita para ter sido construída por uma “criatura irracional”.

A controvérsia terminou com a descoberta de marcas de arranhões no interior das tocam, indicando que tinha sido um animal que as tinha arranhado no solo úmido. Em 1905, os animais responsáveis pela criação dos saca-rolhas foram identificados como o agora extinto gênero de castores chamados Palaeocastor fossor que viveram nas planícies norte-americanas há cerca de 22 milhões de anos.

Daemonelix, os saca-rolhas do diabo
Detalhes das tocas dos Paleocastores | Crédito da foto

Os Paleocastor eram do tamanho de atuais toupeiras ou ainda mais pequenas. Elas tinham pernas e rabos curtos, com um corpo bastante longo, com garras longas e dentes dianteiros também longos que cresciam rapidamente para compensar o desgaste que resultavam de suas escavações. Tais animais tinham cerca de 30 centímetros de comprimento.

Evidências sugerem que os animais fixavam seus pés traseiros no eixo da espiral e, literalmente se aparafusavam diretamente no chão. Dois metros abaixo, a toca se estendia em várias câmaras laterais que serviam para dormir e criar os filhotes. Algumas dessas câmaras eram criadas mais acima do final da toca, que mantinham os animais salvos das inundações.

Daemonelix, os saca-rolhas do diabo
Uma das tocas expostas no Museu de História Natural do Estado de Nebraska | Crédito da foto

A forma em espiral da toca proporcionava proteção contra predadores que não podiam adentrar na toca tão facilmente se a mesma fosse construídas retas. A estrutura dessa forma também poderia facilitar que o animal empurrasse a sujeira escavada em uma espiral suavemente inclinada, do que se fosse uma toca reta e íngreme. Os Paleocastores se extinguiram durante a época do Oligoceno, quando o ecossistema do planeta mudou de um clima mais frio e úmido, tornando a terra mais secas, fazendo as florestas diminuírem, dando lugar a áreas abertas e prados arborizados.

O Monumento Nacional de Ágata Fossil Beds preservou uma grande variedades de mamíferos contemporâneos. desde rinocerontes até camelos pigmeus. O parque pode ser visitado e na trilha Daemonelix ver in loco às várias tocas em forma de saca-rolhas dos antigos roedores incorporadas nas encostas das colinas.

Daemonelix, os saca-rolhas do diabo
Fóssil de um Paleocastor | Crédito da foto
O pesquisador Frederick C. Kenyon ao lado de um Daemonelix descoberto no final do século 19, no Monumento Nacional de Agate Fossil Beds
Daemonelix, os saca-rolhas do diabo
Fóssil de um Paleocastor | Crédito da foto

Fontes: 1 2 3

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