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Dargavs: A cidade dos mortos

Dargavs, na Ossétia do Norte, é uma aldeia com o enigmático "Cemitério da Cidade dos Mortos", composto por 96 criptas antigas e lendas únicas que envolvem tragédias e maldições.

Na pitoresca aldeia de Dargavs, habitada por cerca de 160 pessoas e situada na República da Ossétia do Norte, um pequeno país que conquistou sua independência da Geórgia nos primeiros anos da década de 1990, encontra-se um antigo cemitério alaniano. Este cemitério remonta ao período de Alânia, um reino medieval que prosperou na Ciscaucásia entre os séculos 7 e 9. Rodeado por mitos e lendas, este local tem sido evitado pelas pessoas, especialmente durante a noite, ao longo da história, sendo acreditado, no passado, que qualquer intruso que se aventurasse ali jamais sairia vivo.

O nome da aldeia, Dargavs, traduz-se como “necrópole”, expressão que deriva do grego antigo e significa “cidade dos mortos”. Esse fascinante cemitério repousa nas encostas de uma colina com vista para o vale do rio Fiagdon, com majestosas montanhas ao fundo, algumas delas alcançando picos com altitudes superiores a 4.000 metros. Este local não só encanta pelos seus mistérios e histórias, mas também pela beleza natural que o circunda, proporcionando uma atmosfera única e intrigante.

Dargavs, a Cidade dos Mortos

O cemitério abriga um total de 96 antigas criptas de pedra, testemunhos silenciosos do passado em que os habitantes das montanhas da região escolhiam sepultar seus entes queridos. Estes túmulos, muitas vezes adornados com pertences pessoais, refletem uma prática cultural única, sendo alguns deles até mesmo acompanhados por pequenos barcos. Tal peculiaridade tem origem na crença ancestral de que a alma do falecido precisava atravessar um rio para alcançar o céu.

As criptas são construções robustas, quadradas, feitas de pedras e argamassa, pintadas de branco, apresentando uma única abertura por onde os corpos eram inseridos. As criptas de famílias mais numerosas podiam se estender verticalmente, com dois ou até quatro andares, destacando-se pelos telhados pontiagudos no topo, seguindo a elegante arquitetura Nakh. Alguns túmulos, por sua vez, mantêm uma simplicidade térrea, com apenas duas águas.

Numa dessas criptas mais amplas, os arqueólogos descobriram mais de 90 crânios, sugerindo uma acumulação ao longo dos anos. Apesar de se acreditar que esses crânios não pertencem todos à mesma família, a complexidade das relações familiares ainda é objeto de estudo. O clima local e a construção peculiar das criptas têm desempenhado um papel crucial na preservação dos corpos, resultando em muitos deles que se encontram mumificados até os dias de hoje. Este cemitério, além de seu legado histórico, oferece um vislumbre fascinante das tradições e rituais funerários de um tempo distante.

Dargavs, a Cidade dos Mortos

As raízes das criptas mais antigas remontam ao distante século XII. Destacando-se na parte mais elevada do cemitério, encontra-se uma torre cuja finalidade ainda é objeto de especulação, acreditando-se que poderia ter sido utilizada para defesa ou observação estratégica.

As criptas mais simples ou isoladas, por sua vez, eram destinadas aos que não faziam parte da aldeia ou eram designadas para os indivíduos considerados criminosos. Em uma área específica do cemitério, encontra-se um poço, cercado por uma tradição intrigante. Segundo ela, um membro da família do falecido lançava uma moeda no poço, e se o impacto fosse audível ao bater em alguma pedra no fundo, isso era interpretado como um sinal de que a alma do morto havia alcançado o céu.

A primeira referência documentada sobre a “Cidade dos Mortos” data do início do século XIV. Os antepassados dos ossetianos inicialmente se estabeleceram nos picos das montanhas circundantes, mas, devido à dificuldade de acesso à terra, optaram por estabelecer o cemitério em um local mais baixo no vale, próximo ao rio. Esse movimento estratégico revela a importância atribuída ao local, que, ao longo dos séculos, se tornou um testemunho fascinante da história e das tradições únicas da região.

Dargavs, a Cidade dos Mortos

De acordo com uma lenda envolvente, no século XVII, uma terrível praga assolou Ossétia, ceifando vidas de famílias inteiras. Quando alguém ficava isolado e doente, sem auxílio ou quem o enterrasse, optava por se voluntariar para uma espécie de quarentena dentro de uma cripta, aguardando pacientemente seu destino. A sobrevivência se limitava a parcas rações de pão e água providenciadas por moradores compassivos. À medida que esses indivíduos faleciam, seus corpos eram deixados para se decompor no local.

Esta peculiar forma de sepultamento é singular na região e não encontra paralelo nos países vizinhos. Curiosamente, o cemitério não é utilizado pelos moradores locais na atualidade. Uma lenda local, por sua vez, lança luz sobre a origem desse misterioso local. Há muitos anos, um grupo de guerreiros acompanhava uma mulher de extraordinária beleza quando foram capturados. O desejo de possuí-la gerou discórdia na aldeia, levando a violentos conflitos que se prolongaram por vários dias. Diante desse cenário caótico, os anciãos da aldeia tomaram uma decisão drástica para pôr fim aos confrontos, optando por sacrificar a bela mulher.

Com a morte dela, uma maldição recaiu sobre os habitantes da aldeia. Mortes e decomposição dos corpos assolaram a comunidade, mesmo aqueles que tentavam fugir para aldeias vizinhas não escapavam da terrível maldição. O destino final desses moradores foi o local que hoje é ocupado pelo cemitério. Seus ossos, agora transformados em pedras, foram utilizados na construção das criptas, originando assim a misteriosa “Cidade dos

Dargavs, a Cidade dos Mortos
Dargavs, a Cidade dos Mortos
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Dargavs, a Cidade dos Mortos

Artigo publicado originalmente em julho de 2016

Crédito das imagens: Sergey Mukhamedov e Wikipédia

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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