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Empire State, história de um edifício que fez história

Antes de mais nada, vamos aos números. São 102 andares, 73 elevadores, 1.860 degraus, 25 mil inquilinos, 210 colunas, 6.500 janelas e 381 metros de altura – 443 se considerarmos, também, os 62 metros da antena de TV localizada no topo. Feito isso, vamos aos fatos. Esses números não significam mais nada. Há tempos veem sendo sucessivamente batidos por construções bem maiores e mais modernas ao redor do planeta.

Então, por que será que até hoje,  uma multidão de quase um milhão de pessoas vem aqui todos os anos só para visitar esse incrível arranha-céu (nome que se dava aos grande edifícios de antigamente) plantado no coração da belíssima Nova York desde o ano de 1931? A resposta esta justamente nesta data: em 1931 não havia nada igual no mundo.

Empire State, história de um edifício que fez história

The Empire State, nome pomposo (“O Império” em português), para algo realmente imponente, foi muito mais do que um simples grande edifício de sua época. Foi o maior de todos eles e, durante muito tempo, sinônimo de ousadia e grandiosidade – virtudes que, de certa forma, ele mantém até os dias atuais. Depois de anos de sua construção o Empire State segue sendo o que sempre foi: um monumento, muito mais do que apenas um edifício. E se já não é o mais alto do mundo, com certeza ainda é o mais famoso de todos eles. Pois é charmoso, histórico e revolucionário.

Quando foi projetado, no final dos anos 20, o Empire State tinha por objetivo chocar as pessoas – e, de quebra, vencer uma guerra particular entre o seu construtor, o empresário americano John Jacob Raskob, e o arqui-rival Walter Chrysler, idealizador do Chrysler Building, também em Nova York, que fora construído na mesma época com o único propósito de ser mais alto que a Torre Eiffel, em Paris.

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Com seu projeto, Raskob conseguiu as duas coisas: desbancou o Chrysler Building, a Torre Eiffel e tudo mais da sua época, fazendo do seu gigantismo seu maior atrativo. Construído numa área do tamanho de três campos de futebol e em um dos endereços mais elegantes do mundo (Quinta Avenida), mesmo local do lendário hotel Waldorf-Astoria, que era frequentada pelo “Four Hundred” (termo inglês para a elite social de Nova York na época, literalmente “os quatrocentos”.

Numa manhã de 1930, 3.400 operários começaram a trabalhar na construção do edifício, sob o olhar incrédulo das pessoas, que não conseguiam acreditar que algo tão grandioso estivesse sendo construído, muito menos no prazo estipulado de apenas dezoito meses. Os trabalhadores, a maioria imigrantes da Europa, juntamente com centenas de Mohawk (tribo de índios) principalmente da reserva Kahnawake próximo à Montreal, que, segundo se dizia, não sofriam de vertigens. De acordo com os dados oficiais, cinco trabalhadores morreram durante a construção.

Um ano e 45 dias depois, os operários pararam o trabalho. Os nova-iorquinos estavam certos: o Empire State não levaria dezoito meses para ficar pronto. Ele já estava !!! – cinco meses antes do previsto !!! Pressionados por Raskob, que queria um retorno rápido para o seu investimento de 41 milhões de dólares, e pela própria magnanimidade do projeto, que previa ser o maior, o melhor, o primeiro e o máximo em todos os aspectos, os operários trabalhavam de domingo a domingo, num alucinante ritmo de quatro andares e meio por semana. Literalmente, a cada 24 horas, o futuro espigão crescia visíveis 2 metros e meio – um fenômeno de engenharia, mesmo para os dias de hoje.

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Contribuiu e muito para essa agilidade a própria forma como o edifício foi feito: uma estrutura de colunas de aço revestidas com blocos de granito, que dispensavam acabamento e iam se encaixando rapidamente uns nos outros. O Empire State foi o primeiro prédio do mundo a abolir as janelas – pelo menos aquelas convencionais, que se abrem e deixam o ar entrar.

Para ganhar tempo e evitar uma catástrofe (pois, a 300 metros de altura, quem abrisse uma janela correria o risco de sair voando na ventania), os vidros foram aplicados diretamente nas paredes, apenas com uma moldura de aço ao redor, o que acabou conferindo ao edifício a aparência de um foguete – grande, brilhante e metálico. Tudo muito fácil e rápido. Tão prático que o próprio projeto andou sendo alterado durante a construção.

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Diz a lenda que, entusiasmado com ritmo das obras, Raskob teria sugerido duas modificações. Primeiro perguntara aos seus arquitetos qual seria a altura máxima que eles poderiam fazer o prédio subir sem o risco de cair – e assim o Empire State passou de 80 para 86 andares na sua estrutura principal. Depois, ao olhar a nova maquete pronta, teria completado: “Mas isso precisa de um chapéu!” – e o edifício ganhou a sua marca registrada: uma torre mais estreita de dezesseis novos andares, até para justificar tamanha altura, foi instalada uma estação de atracação de dirigíveis.

O objetivo era fazer com que os passageiros do sofisticado Graf Zeppelin, que na época fazia voos regulares entre a Europa e os Estados Unidos, desembarcassem nas terras do Tio Sam de uma maneira grandiosa: pelos elevadores do Empire State – uma forma sutil de mostrar a sua superioridade americana, já que o edifício sempre teve algo a ver com poder e glória.

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O plano, no entanto, não deu certo. O vendaval implacável no alto do prédio (até hoje terror de todas as saias)simplesmente impedia que os dirigíveis se aproximasse da torre sem o risco de se espatifar de encontro a ela. A ideia foi abandonada. O Empire State era alto demais mesmo para os voadores. Como os pássaros, por exemplo. Todos os anos, nas noites de nevoeiro, as luzes do topo são apagadas para não prejudicar a migração das aves. No passado, desorientadas pela intensidade e altura das luzes, elas costumavam bater aos milhares nas paredes do edifício.

Todos os dias, uma multidão passa pelo saguão principal do Empire State Building, onde uma sequencia de vitrais mostra as oito maravilhas do mundo – a oitava, segundo eles, é o próprio edifício. Um exagero e certo, mas ninguém reclama. São executivos apressados com pastinhas 007 (porque no Empire State só existem escritórios) e turistas deslumbrados com suas maquinas fotográficas (porque, afinal, o Empire State é o Empire State). Os inquilinos raramente vão aos terraços.

Mas é para lá que vão todos os turistas. E no caminho já experimentam a primeira grande atração do Empire State: os seus elevadores. São 73 deles, cada um mais rápido que o outro. Tão velozes que a contagem interna dos andares é feita de dez em dez e não de um em um, porque não daria tempo de ler, nem haveria espaço dentro do elevador para tamanho letreiro. A velocidade é impressionante.

Empire State, história de um edifício que fez história
Vista de Manhattan no alto do Empire State

Vai-se do 1 ao 80 andar em menos de um minuto, ou despenca-se do 50 ao térreo em quarenta segundos – menos do que você levou para ler este parágrafo! No último trecho, do terraço (aberto) do 86 andar ao mirante (fechado) do 102 andar, a contagem é feita em pés e não mais em pisos – um truque para disfarçar a altura, já que o 102 andar é, na verdade, o 101 andar, pois os técnicos consideraram perigoso demais para os turistas o antigo ponto de atracação dos dirigíveis, que era.

E ainda é, aberto. Na prática, porém, não faz a menor diferença: acima do 80 andar é tudo igual- tão alto que o olho humano não consegue mais captar as sutilezas da altura. É como sobrevoar a cidade em um avião. Na verdade, melhor, porque não balança tanto, só um pouco. Do alto do Empire State tem-se uma vista fabulosa. Em dias de céu claro, da para ver coisas a 100 quilômetros  de distancia, como as luzes das cidades vizinhas ou os navios ao largo da baía.

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No dia de sua inauguração, o principal arquiteto do projeto, que preferiu partir de férias na véspera, enviou uma mensagem para as autoridades na festa. “É inacreditável”, disse. “ Um dia inteiro no mar e ainda continuo vendo o edifício no horizonte”. Na festa, a reação das pessoas não foi diferente. Estupefata, elas descobriam que estavam acima até de algumas nuvens. Uma mulher entrou em pânico e se recusou a voltar pelo elevado, pois temia que ele caísse lá de cima. O jeito foi descer pelas escadas.

Mais tarde, alguém gostou da ideia e resolveu criar a Corrida dos Degraus, uma folclórica competição que, desde 1932, consiste em subir as escadas do Empire State no menor tempo possível. Todos os que passaram por ele se impressionaram e ainda se impressionam os que o visitam. Realmente é um marco na historia da construção civil, e se hoje o Empire State impressiona imagine no passado.

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O edifício foi oficialmente aberto em primeiro de maio de 1931 numa inauguração dramática quando o então Presidente dos Estados Unidos da América, Herbert Hoover, acendeu as luzes com o apertar dos botões de Washington, D.C. Ironicamente o primeiro uso das luzes no topo das torres do Empire State no ano seguinte foi para sinalizar a vitória de Franklin D. Roosevelt contra Hoover nas eleições presidenciais de Novembro de 1932.

A abertura do edifício coincidiu com a Grande Depressão dos Estados Unidos, e como resultado muitos de seus escritórios não foram alugados. Em seu primeiro ano de funcionamento, o deck de observação arrecadou aproximadamente 2 milhões de dólares, todo o dinheiro que seus donos conseguiram em aluguel aquele ano. A falta de interessados em alugar os escritórios do edifício fez com que os nova-iorquinos apelidassem o edifício de “Empty State Building” (empty = vazio, conotação ao grande número de escritórios vazios).

O edifício não se tornou lucrativo até 1950. A famosa venda do Empire States em 1951 a Roger L. Stevens e seus sócios foi quebrada pela proeminente diretor da Manhattan Real State Firm, Charles F. Noyes & companhia, por um recorde de 51 milhões de dólares. Até a data, esse foi o maior preço já pago por um único edifício na história do mercado imobiliário.

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O Empire State Building continuou a ser o arranha-céu mais alto do mundo por 41 anos, e a estrutura mais alta já feita pelo homem por 23 anos. Ele foi superado com a construção da Torre Norte do World Trade Center em 1972. Com a destruição do World Trade Center nos ataques de 11 de setembro de 2001, o Empire State Building novamente tornou-se o edifício mais alto na cidade de Nova York até 2013 e o terceiro edifício mais alto de todo os Estados Unidos, atrás apenas da Willis Tower, que fica em Chicago e o One World Trade Center que fica em Nova York com 541,3 m.

Em 28 de julho de 1945, às 9:40, um bombardeio tipo B-25, pilotado pelo tenente-coronel William Franklin Smith Jr, em meio a um nevoeiro, colidiu com a face norte do edifício, entre os andares 78 e 80, causando 14 mortes, três no avião e 11 no prédio. O incêndio causado pela colisão foi controlado em apenas 40 minutos. A operadora de elevador, Betty Lou Oliver sobreviveu a uma queda de 75 andares dentro de um elevador, que ainda permanece como o Recorde Mundial do Guinness para o maior sobrevivente a uma queda de elevador já registrada. Apesar dos danos e perdas de vida, o prédio foi aberto para negócios em muitos andares na segunda-feira seguinte.

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Ao longo dos anos, mais de trinta pessoas cometeram suicídio no topo do edifício. O primeiro suicídio ocorreu mesmo antes do seu término, por um trabalhador que tinha sido despedido. Uma cerca ao redor do terraço observatório foi colocada em 1947, após cinco pessoas tentaram pular durante um período de três semanas.

Em 01 de maio de 1947, Evelyn McHale de 23 anos, pulou para a morte do andar 86 de observação e caiu em uma limusine das Nações Unidas estacionado na calçada, ela parecia dormindo segurando o colar de pérolas. Robert Wiles, um estudante tirou uma foto do corpo de McHale aparentemente intacto, há poucos minutos após sua queda e morte. A polícia encontrou uma nota de suicídio entre os bens que ela deixou no deck de observação que diziam: -“Ele é muito melhor sem mim… Eu não faria uma boa esposa para ninguém“.

A foto circulou em 12 de maio de 1947 edição da revista Life e é muitas vezes referida como “The Most Beautiful Suicide“. Mais tarde foi usado pelo artista plástico Andy Warhol em uma de suas pinturas, intitulada Suicide (Fallen Body). Em 1979, Elvita Adams atirou-se do octogésimo sexto andar, caiu no octogésimo quinto andar com diversos ossos partidos. O edifício também foi o local escolhido para suicídios em 2004 e 2006. O último foi cometido pelo advogado que se lançou do sexagésimo nono andar numa sexta feira, 13 de abril de 2007.

Empire State, história de um edifício que fez história
Evelyn McHale, jovem de 23 anos, que se suicidou em 01 de maio de 1947 e que ficou conhecida como The Most Beautiful Suicide

Sequencia de fotos do acidente com bombardeio tipo B-25, em 28 de julho de 1945

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Galeria de fotos em homenagem aos trabalhadores do Empire State Building

O fotografo Lewis Hine encontrou na construção, um excelente território para as suas fotografias. Correndo riscos enormes acompanhou a evolução das obras lado a lado com os operários, às vezes em situações tão precárias quanto as deles. As imagens são arrepiantes. Mostram condições de trabalho sem qualquer tipo de segurança, pessoas literalmente em equilíbrio instável e poses acrobáticas, que confiam em Deus ou na sorte para não caírem. É de estranhar que, mesmo assim, apenas cinco operários tenham morrido em acidentes durante a construção. Após a conclusão das obras Hine publicou um livro com as fotografias que tirou. Intitulou-se Men at Work.

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No vídeo abaixo, a construção do Empire State Building do início ao fim

Artigo publicado originalmente em maio de 2016

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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