Histórias

Jadav Payeng, o homem floresta da Índia

Em 1953, o escritor francês Jean Giono escreveu um livro intitulado “O homem que plantava árvores“, que descrevia um pastor que sozinho restaurou uma floresta inteira. Na obra, o autor dizia que havia testemunhado por anos, o trabalho de Elzeara Bouffier, o personagem principal de seu livro, e isso fez com que a obra parecesse que fosse baseado em fatos reais. A história era tão comovente, que os leitores acreditaram mesmo, que tudo era real, inclusive Elzeara. O livro fez muito sucesso na época, deixando seu autor orgulhoso. Anos mais tarde, o escritor admitiu que sua obra era pura ficção, e que havia inventado Elzeara “para despertar nas pessoas o amor pelas árvores, tentando assim, fazer as pessoas plantarem mais árvores“.

Jadav Payeng, o homem floresta da Índia

O indiano Jadav Molai Payeng da tribo Mishing nunca havia ouvido falar do livro de Jean Giono, mas poderia muito bem ser chamado de Elzeara. Ao contrário desde último, Jadav realmente conseguiu plantar uma floresta nas areias do leito do rio Brahmaputra, na Ilha de Majuli, estado de Assam na Índia. Durante 30 anos, o indiano plantou cerca de 1400 acres, o equivalente a 540 hectares ou 800 campos de futebol no tamanho oficial, lugar este que se tornou o lar de muitas espécies raras e ameaçadas de extinção, inclusive cinco tigres de bengala.

O rio Brahmaputra, um afluente do rio Ganges, é um dos maiores rios da Índia. Milhões de pessoas vivem em suas margens e todos os anos durante as monções, o rio inunda tudo, destruindo casas e fazendas e arrastando milhares de metros cúbicos de terra por centenas de quilômetros. Um dos lugares mais afetados, é a ilha de Majuli, uma das maiores ilhas fluviais do mundo e o lar de cerca de 150.000 pessoas. Desde 1917, a ilha perdeu mais da metade da superfície devido à erosão decorrente das inundações e o ritmo da erosão tem acelerado nos últimos anos. De acordo com estudiosos, a ilha poderia desaparecer completamente nos próximos 20 anos.

Jadav Payeng, o homem floresta da Índia

Em 1965, uma grande inundação destruiu a aldeia de Aruna Chapri situada na ilha, fazendo a família de Jadav e todos os seus moradores se mudarem para o outro lado do rio, a doze quilômetros de distância. Jadav não presenciou a mudança, pois devido a pobreza e com cinco anos foi deixado aos cuidados de um juiz em Jorhat, que cuidou de sua educação. Em 1979, quando seus pais faleceram, Jadav então um adolescente, desistiu da escola e voltou para sua terra natal para cuidar das vacas e búfalos de sua família.

Ele descobriu que centenas de cobras ficaram presas nos bancos de areias da ilha após às águas baixarem, depois de uma grande inundação que havia atingido a região naquele ano e devastado novamente a ilha. Sem a proteção das árvores e sob o sol escaldante, inúmeros répteis e outros animais morreram. Tamanha mortalidade comoveu o jovem Jadav, que procurou ajuda do governo local para que plantassem árvores na área e evitar tragédias futuras. Eles disseram que não podiam fazer nada, que aquilo era uma “zona morta” e nada cresceria ali. Então ele procurou os anciãos de sua aldeia, que também lhe disseram que nada poderia ser feito, mas lhe deram vinte mudas de bambu.

Jadav Payeng, o homem floresta da Índia

Sem dar ouvido as negativas que recebeu, ele começou a transplantar árvores de espécies nativas nas secas e áridas margens do rio e sementes de bambus nos bancos de areia da ilha, fazendo disso, seu objetivo de vida. Depois foi trazendo do continente, adubo natural e formigas vermelhas para reforçar o equilíbrio ecológico do solo e cuidando da vegetação por conta própria e unicamente com suas mãos, um trabalho solitário que durou anos, até a vegetação crescer e dar forma a “Molai Kathoni” (floresta molai), nome de um mascote de infância de Jadav.

O que foi um dia, uma região com bancos de areia no meio do rio, converteu-se num ecossistema completo, transformando num paraíso para a fauna. Um trabalho de uma vida, trabalho esse que Jadav, se dedicou com amor pela natureza, pela sua terra natal. No começo ele se estabeleceu na ilha corroída e coberta de areia e lodo e morou sozinho numa choupana, transplantando árvores e buscando sementes, mudas e adubo no continente. No período fértil entre abril e junho, ele plantava as mudas e sementes e no resto do ano, eles as coletavas em outras regiões.

Jadav Payeng, o homem floresta da Índia

Todas as manhãs e ao entardecer, ele regava as mudas e cuidava das plantas. Após alguns anos, uma moita de bambu floresceu, de onde ele retirou mudas e as replantou em outras áreas afetadas pela erosão, fortalecendo assim o solo. Após doze anos, a ilha já tinha uma grande variedade de flora e fauna, incluindo espécies ameaçadas, como rinocerontes, tigres e falcões e isso atraiu caçadores, onde ele teve que intervir para evitar a matança.

Em 2008, após uma manada de elefantes selvagens destruíram algumas cabanas numa aldeia vizinha, funcionários do Departamento de Floresta de Assam, tiveram conhecimento pela primeira vez sobre a pessoa conhecida como ‘Molai Kathoni’ e seu trabalho e ficaram surpresos ao ver uma densa floresta no meio de uma imensa área vazia de bancos de areia. Os elefantes cruzaram o rio e se refugiaram na ilha e os aldeões que tiveram sua casas destruídas pelos elefantes, quiseram devastar a floresta para afugentar os animais, onde Jadav ofereceu sua vida em troca, para que eles deixassem os animais em paz e isso sensibilizou a todos e a partir daí, Jadav e sua floresta começaram a virar notícia e se espalhar pelo mundo.

Jadav Payeng, o homem floresta da Índia

Sua floresta deu tão certo que uma manada de elefantes visita a ilha regularmente, ficando três a quatro meses. Por insistência dos anciões da aldeia, com 39 anos ele saiu com sua esposa e três filhos da ilha e foram morar junto com outras pessoas e sustenta a família com a venda de leite. Ele recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais por sua dedicação a natureza e se tornou uma espécie de herói do meio ambiente. Também começou a fazer o mesmo trabalho de reflorestamento num vilarejo chamado Mekahi. Sua história virou um filme chamado “Homem Floresta” do cineasta canadense Will McMaster, que ganhou vários menções em festivais europeus e norte-americanos. Um dia, Jadav comentou a uma reportagem que nesses 35 anos, os tigres comeram mais de 80 animais de seu sítio, mas para ele, isso não importava: “os tigres não sabem o que é uma fazenda“.

Jadav Payeng, o homem floresta da Índia

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Jadav Payeng, o homem floresta da Índia
Casa atual onde Jadav mora com sua família

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Fontes: 1 2 3 4

“Tudo o que o homem não conhece não existe para ele. Por isso, o mundo tem para cada um o tamanho que abrange o seu conhecimento”. – Carlos Bernardo González Pecotche

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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