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Mauthausen e as infames escadas da morte

O campo de concentração Mauthausen-Gusen, foi o centro de um maiores complexos de campos de trabalho escravo na parte da Europa controlada pela Alemanha, que foram construídos ao redor das vilas de Mauthausen e Sankt Georgen an der Gusen, no estado de Alta Áustria, localizado numa colina ao longo do rio Danúbio, a cerca de 20 quilômetros a leste da cidade de Linz, na Áustria.

Inicialmente consistindo apenas de um pequeno campo, o complexo foi se expandindo ao longo do tempo e no verão de 1940, Mauthausen tinha se tornado um dos maiores campos de trabalho nazista, com quatro principais sub-campos em Mauthausen e nas proximidades de Gusen, e quase outros 100 sub-campos localizados por toda a Áustria e sul da Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial.

Mauthausen e as infames escadas da morte
Crédito da foto

Entre estes, Mauthausen tinha as mais severas e brutais condições de detenção. Foi classificado como “Grau III” (Stufe III), onde os mais “incorrigíveis inimigos políticos do Terceiro Reich” foram enviados para serem exterminados, muitas vezes através da exaustão, por extremo trabalho forçado. Ao contrário de outros campos nazistas que recebiam gente de todas as classes e categorias, Mauthsausen era destinado a integrantes da Intelligentsia (intelectuais) dos países ocupados, pessoas da alta sociedade e maior grau de educação e cultura.

Foi um dos primeiros complexos de campos de concentração da Alemanha nazista e o último a ser liberado pelos Aliados ao fim da guerra. A SS chamava Mauthausen de Knochenmühle, ou “moedor de ossos”. Além de trabalharem na pedreira, os prisioneiros fabricavam armas e munições, peças de aviões e minas, sob um regime de trabalhos forçados que causou centenas de milhares de mortes.

O campo estava localizado nas encostas de uma pedreira de granito chamada Wiener Graben. O local foi escolhido devido à proximidade da pedreira para a cidade de Linz, uma cidade que Hitler planejou reconstruir com edifícios grandiosos, projetados pelo arquiteto alemão Albert Speer.

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Várias vezes ao longo do dia, os prisioneiros eram forçados a carregar blocos de pedra, pesando até 50 quilos, subindo as 186 escadas da chamada “Escada da Morte” e depois ainda caminhar por uma trilha de quase um quilômetro. Muitas vezes, os prisioneiros exaustos caíam por cima dos outros, derrubando sua carga sobre os que o seguiam abaixo, criando um terrível efeito dominó, com os prisioneiros caindo um atrás do outro.

As pesadas pedras acabavam esmagando membros e ossos dos prisioneiros, selando seu destino. Um divertimento dos guardas da SS era que quando um prisioneiro chegasse ao final das escadas, era empurrado escada abaixo, e assim iniciando o efeito dominó. As pessoas morriam nessas escadas todos os dias.

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Esta brutalidade proposital seguia os métodos dos SS, que forçavam prisioneiros a subirem correndo os degraus da pedreira carregando pedras, após horas de trabalho pesado, sem comida nem água suficientes, e os que caíssem eram executados; os poucos sobreviventes participavam então do chamado Muro do Paraquedas, onde alinhados, grupos de oito ou dez homens na crista da pedreira à beira do precipício, tinham a escolha de morrerem fuzilados perfilados na fila ou jogarem o companheiro ao lado pela borda do penhasco.

Lá embaixo, outros prisioneiros tinham que limpar a bagunça e levar os corpos para o Krematorium, onde seriam incinerados. Alguns prisioneiros incapazes de suportar as torturas, saltavam deliberadamente do penhasco, sendo frequentes esse tipo de suicídio.

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Outros métodos de extermínio usados em Mauthsausen eram: Surras com bastões até a morte; Chuveiro de gelo, onde eram obrigados a tomar banho gelado e depois deixados para secar do lado de fora da barraca sob um frio de -30ºC, morrendo de hipotermia (3.000 morreram assim); Fuzilamento em grupo; Experimentos médicos, com inoculação de bactérias de tifo e cólera nos prisioneiros para testar vacinas. (2.000 mortos); Enforcamento; Fome em solitárias; Afogamento em barris de água.

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Em 1944, apesar da construção de novos pequenos campos no complexo, o número de prisioneiros superava em muito a capacidade das instalações, chegando a quatro internos por cama. Os prisioneiros do campo também eram “alugados” para trabalho escravo, sendo usados por empresas austríacas para trabalhar em fazendas, construção e reparo de estradas, reparos em barragens do rio Danúbio e até escavações de sítios arqueológicos.

Com o início dos bombardeios estratégicos aliados à indústria de guerra alemã, os planejadores alemães decidiram mover a produção para locais construídos em túneis e sob o solo, impenetráveis às bombas, onde os prisioneiros de Mauthsausen construíram fábricas de aviões Messerschmitt Me 262 e de foguetes V-1.

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Oficiais da SS subindo a “escadas da morte” em abril de 1941 | Crédito da foto

Houve uma fuga em massa de Mauthsausen de aproximadamente 500 presos, quase todos oficiais soviéticos em fevereiro de 1945. Os prisioneiros atacaram as torres de vigia e conseguiram ocupar uma delas. Com cobertores molhados provocaram um curto circuito nas cercas de arame farpados eletrificadas e assim puderam escalar. Muitos fugitivos exaustos não foram longe, e foram baleados antes de conseguirem chegar a floresta.

Após a fuga, a SS organizou uma grande busca, onde a ordem era “de não trazer nenhum detento vivo“. A caçada foi chamada de “Mühlviertler Hasenjagd” ou como “Caça a lebre Mühlviertler“. Em menos de três semanas, a maioria dos fugitivos foram mortos, no local onde foram encontrados. Apenas onze pessoas conseguiram escapar e sobreviver até o fim da guerra.

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Vista da pedreira de Wiener Graben e da “escadas da morte” (Todesstiege) no campo de concentração de Mauthausen | Crédito da foto

Em 3 de maio de 1945, a guarda SS de Mauthausen deixou os campos junto com seu comandante, o SS-Standartenführer Franz Ziereis, devido ao avanço das tropas aliadas. Foram substituídos no dia seguinte por homens desarmados da Volkssturm, a guarda nacional criada por Hitler nos últimos dias de guerra, formada basicamente por homens de meia idade e inválidos de guerra, policiais aposentados e bombeiros de Viena, que criaram junto com os internos um sistema de controle do campo pelos próprios prisioneiros.

Em 5 de maio, o complexo foi o último a ser libertado pelas tropas norte-americanas do 3º Exército dos Estados Unidos, que desarmaram os policiais e estes se retiraram. A grande maioria dos SS já havia fugido, mas cerca de 30 restantes do pessoal de apoio que ficaram foram linchados pelos prisioneiros.

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Prisioneiros em trabalho forçado na pedreira de Wiener Graben no campo de concentração de Mauthausen. | Crédito da foto

Entre os sobreviventes estavam o tenente americano Jack Taylor, que seria uma testemunha chave nos subsequentes julgamentos de crimes de guerra de Mauthausen e um engenheiro chamado Simon Wiesenthal, que dedicaria o resto de sua vida a caçar criminosos de guerra nazistas. Após a capitulação alemã, o campo passou a fazer parte da zona de ocupação soviética na Áustria.

Inicialmente sua área foi usada para instalações de barracas de acampamento de tropas do Exército Vermelho a medida que as fábricas subterrâneas iam sendo desmanteladas e enviadas para a URSS como butim de guerra; em 1947 os soviéticos explodiram os túneis e devolveram o local ao governo austríaco, que declararam o local memorial nacional.

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Em 1975, o chanceler Bruno Kreisky abriu no local o Museu Mauthausen. A área antes ocupada pelos sub-campos do complexo hoje é coberta de edificações residenciais construídas no pós-guerra. Um total de 119.000 prisioneiros foram mortos em Mauthausen e seus sub-campos. Desses, apenas um terço eram judeus. O número total de prisioneiros registrados em Mauthsausen era de 200 mil. Hoje, as “Escadas da Morte” fazem parte das visitas guiadas ao Memorial de Mauthausen. As escadas foram refeitas e endireitadas para que os turistas possam subir e descer facilmente, mas naquela época, elas estavam inclinados e escorregadias.

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Vista interna atual de Mauthsausen | Crédito da foto
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Novos prisioneiros aguardando a desinfecção no pátio de Mauthsausen | Crédito da foto
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Um dos crematórios de Mauthsausen | Crédito da foto
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Monte de mortos encontrados pelas forças aliadas | Crédito da foto
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Tanques da 11º Divisão de Blindados dos Estados Unidos entrando em Mauthsausen em 6 de maio de 1945 | Crédito da foto

Fontes: 1 2 3

“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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