Animais & Natureza

Pacu: O peixe comedor de testículos

O "pacu papa-bagos" é um peixe, apelidado de forma humorística, conhecido por seus dentes semelhantes aos humanos e hábitos alimentares específicos, que incluem a ingestão de frutas e sementes.
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O pacu, peixe nativo da região amazônica, compartilha laços familiares com as piranhas, pertencendo à subfamília Serrasalminae. No entanto, em notável contraste com os dentes afiados de suas primas, certas espécies de pacu desenvolveram uma dentição mais regular, apresentando extremidades quadradas que surpreendentemente se assemelham aos dentes humanos.

O termo “pacu” é utilizado de maneira genérica para designar várias espécies de peixes caracídeos, pertencentes à família Myleinae. Esses peixes podem atingir até 25 kg de peso, sendo comum encontrá-los até os 8 kg. Essa diversidade e peculiaridade na dentição do pacu destacam a fascinante complexidade da vida aquática na região amazônica.

A peculiar forma dentária do pacu é resultado de um processo evolutivo que se adaptou às suas fontes de alimento, incluindo plantas aquáticas, caramujos e nozes que caem das árvores. Em contraposição às piranhas, que necessitam arrancar pedaços de carne de outros animais, o pacu adquiriu uma dentição mais adequada ao seu estilo alimentar.

Uma teoria intrigante sobre a evolução dos dentes em peixes sugere que os antepassados desses animais possuíam um exoesqueleto. Essa adaptação ao ambiente e às necessidades alimentares específicas destaca a incrível diversidade e complexidade do processo evolutivo na fauna amazônica.

A evolução desses peixes revela um intrigante processo em que o exoesqueleto, inicialmente presente em todo o corpo, foi progressivamente perdido em outras regiões, enquanto permaneceu modificado na área da cabeça. Os primeiros dentes se assemelhavam a escamas pontudas, e ao longo do tempo, essas estruturas foram moldadas de acordo com o uso específico que cada espécie fazia delas.

No caso do pacu, essa adaptação resultou em dentes que, de maneira notável, lembram os dentes humanos, sugerindo uma fascinante convergência evolutiva. Essa semelhança não apenas surpreende, mas também destaca a complexidade e a diversidade das formas adaptativas que a natureza pode desenvolver ao longo do tempo.

Embora nativos do pantanal do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, dos rios amazônicos e bacia do Prata, e originários dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, relatos de capturas desses peixes no hemisfério norte, França, Dinamarca e Papua Nova Guiné indicam a possibilidade de introdução não natural em novos ambientes.

A presença desses peixes fora de sua área original pode ser atribuída a ações humanas, como compra, captura para aquários temporários e posterior soltura quando os cuidadores perdem o interesse. Esse comportamento, porém, pode ter consequências adversas para os ecossistemas locais, destacando a importância da responsabilidade na introdução de espécies em novos ambientes.

Pacu, o peixe papa bagos

Devido a incidentes relatados em várias partes do mundo, o pacu, que pode variar em espécies, ganhou notoriedade e o apelido peculiar de “pacu comedores de testículos“. Essa designação surge de incidentes em que o peixe, por vezes de espécies diversas, atacou homens que nadavam nus, confundindo seus testículos com nozes ou sementes. Em 2014, uma onda de preocupação se espalhou entre a população ribeirinha e pescadores nos Estados Unidos, devido à infestação crescente desse peixe nas águas dos rios no país.

Desde 1970, o US Geological Survey monitora o pacu e registrou um total de 115 avistamentos em todo o país, com maior concentração na Flórida, Texas, Geórgia, Indiana e Carolina do Norte. Embora os pacus não sejam tão agressivos quanto as piranhas, suas mandíbulas podem representar um perigo potencial. É importante ressaltar que esses incidentes específicos são raros, e o pânico gerado pode ser desproporcional, mas a vigilância contínua e a educação sobre o comportamento desses peixes são essenciais para garantir a coexistência segura com a vida aquática local.

Pacu, o peixe papa bagos

Em Edimburgo, na Escócia, uma criança teve que passar por uma cirurgia após ser mordida por um pacu em um aquário público. Além disso, em Papua Nova Guiné, há relatos de dois pescadores que perderam seus testículos em ataques desse peixe. Comentando sobre esses incidentes, Matthew Kane, gerente do zoológico Deep Sea World nos Estados Unidos, afirmou: “Pacus têm uma propensão para morder e consumir praticamente qualquer coisa, incluindo dedos de crianças e testículos que estejam nadando desprotegidos na água”.

Nos Estados Unidos, os pacus estão disponíveis para compra em lojas de aquários e são facilmente criados. No entanto, o desafio surge devido ao rápido crescimento desses peixes, podendo atingir até 1,2 metro de comprimento, tornando-se impraticável mantê-los em aquários convencionais.

Essa questão leva muitos proprietários a se livrarem dos pacus, liberando-os em canais, lagoas, riachos e, em alguns casos, até em reservatórios, o que pode resultar em impactos adversos para os ecossistemas locais. O comércio desimpedido e a liberação negligente desses peixes exigem uma abordagem mais cuidadosa para garantir a preservação da vida selvagem e a segurança pública.

Pacu, o peixe papa bagos

Outro exemplar marinho com uma dentição semelhante à humana é o Archosargus probatocephalus, conhecido como Sargo-de-dentes. Este peixe apresenta dentes frontais semelhantes aos nossos incisivos, enquanto na parte posterior da boca, exibe três fileiras de dentes semelhantes aos nossos molares.

Pertencente à família Sparidae, o Sargo-de-dentes é avistado no Mar do Caribe, no Golfo do México, ao longo da costa oeste do Oceano Atlântico e em toda a costa brasileira. Esses peixes têm preferência por habitats costeiros rochosos e recifes, podendo atingir impressionantes 91 cm de comprimento e pesar até 9,6 kg. Essa notável semelhança na dentição destaca a incrível diversidade e adaptação dos peixes marinhos, proporcionando uma perspectiva fascinante da evolução dentro dos ambientes aquáticos.

Pacu, o peixe papa bagos
Pacu, o peixe papa bagos
Pacu: O peixe comedor de testículos
Pacu: O peixe comedor de testículos
Pacu: O peixe comedor de testículos
Pacu: O peixe comedor de testículos

Artigo publicado originalmente em novembro de 2015

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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