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As pontes vivas de Meghalaya, na Índia

As fascinantes Pontes Vivas de Meghalaya, na Índia, revelam a engenhosidade dos habitantes locais na criação de pontes naturais sustentáveis com raízes de figueiras.

As vilas de Mawsynram e Cherrapunji, situadas no estado indiano de Meghalaya, cujo nome significa “Morada das Nuvens”, encontram-se em uma área reconhecida como uma das mais chuvosas do planeta, com uma média anual impressionante de 11.871 mm. Estas duas localidades estão distantes uma da outra por apenas 15 quilômetros. A abundância de precipitação na região é atribuída ao maciço montanhoso coberto por floresta tropical que se eleva ao lado da planície de Bangladesh.

Este maciço montanhoso, com seu ponto mais alto alcançando 1372 metros de altitude, desempenha um papel fundamental na retenção das nuvens. O relevo da região atua como uma barreira natural, capturando as massas de ar úmidas provenientes do Golfo de Bengala. Essas massas de ar, ao encontrarem o maciço, são forçadas a subir, resultando em condensação e precipitação abundante. Essa geografia única cria um microclima caracterizado por chuvas intensas, transformando Mawsynram e Cherrapunji em locais notáveis pela sua extraordinária quantidade de precipitação ao longo do ano.

Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Vila de Mawsynram | Crédito da foto

Devido às necessidades impostas pela região, os khasi, habitantes locais, adotaram uma solução engenhosa para enfrentar as constantes chuvas: o “knups”, um guarda-chuva de corpo inteiro feito de bambu e folhas de bananeira. Mesmo diante das precipitações intensas, esses moradores são compelidos a realizar suas atividades ao ar livre em busca do sustento de suas famílias. A região, frequentemente afetada por chuvas torrenciais, demanda pontes robustas capazes de resistir à força dos rios. Assim, os habitantes optaram por cultivar suas pontes em vez de simplesmente construí-las.

Assim, os khasi deram origem a uma das características mais fascinantes e belas da região: as pontes vivas. Essas estruturas foram cuidadosamente moldadas ao longo de séculos, utilizando as raízes e galhos de árvores específicas, sendo habilmente emaranhados e direcionados para seguir uma trajetória específica. O resultado é uma rede intrincada de pontes que, ao longo do tempo, tornaram-se seguras passagens sobre rios e desfiladeiros. Algumas dessas notáveis pontes têm mais de 250 anos de existência, continuando a crescer e fortalecer-se ao longo das décadas.

Os khasi desenvolveram uma solução arquitetônica ecológica verdadeiramente única no mundo, criando uma rede de pontes e escadarias que se estende por seu território, sendo literalmente à prova d’água. Essa prática ancestral não só demonstra uma engenhosidade notável, mas também destaca o respeito da comunidade pelo ambiente, promovendo uma coexistência sustentável entre o homem e a natureza.

Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Crédito da foto

A árvore Ficus elastica, conhecida como árvore-da-borracha indiana, é uma presença comum nas florestas tropicais do Sudeste Asiático, principalmente nas margens dos rios. Seu crescimento peculiar envolve rochedos e o solo, criando uma intrincada rede de raízes aéreas que se estendem em todas as direções em busca de solo estável para sustentar a árvore. Os khasi, percebendo o potencial dessas raízes, desenvolveram uma técnica única para transformá-las em pontes.

Ao dirigirem as raízes para a outra margem do rio, os khasi as sustentam com uma estrutura de troncos ocos de árvores de bétel ou bambu. Eles tecem e reforçam as raízes ao longo do tempo, guiando-as até que a árvore cresça e forme uma ponte resistente o suficiente para ser atravessada. Simultaneamente, é necessário nutrir as raízes durante o processo. Folhas e cascas de árvores são colocadas nos troncos que direcionam as raízes, permitindo que elas atinjam o solo do outro lado do rio e, eventualmente, se alimentem de forma independente.

Este processo de cultivo de pontes requer uma dedicação extraordinária, pois leva de quarenta a cinquenta anos para que a ponte alcance tamanho e solidez ideais. Essa prática única representa uma verdadeira obra de amor, uma contribuição duradoura dedicada às gerações futuras, destacando a paciência e o compromisso dos khasi com a criação de infraestruturas sustentáveis de maneira harmoniosa com a natureza.

Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Crédito da foto

Quanto mais ancestral a árvore, mais resistente torna-se a ponte, consolidando-se em robustez a cada ano que passa. Firme no solo, ela enfrenta com destemor a violência dos rios que descem das montanhas, arrastando consigo pedras e troncos. A estrutura dessas pontes revela uma harmoniosa fusão entre a beleza de uma árvore e a intricada trama de uma tapeçaria: raízes, algumas com a espessura de um vime e outras tão robustas quanto um braço, entrelaçam-se formando uma complexa teia de texturas e idades. Ao longo do rio, os “pilares” assumem a forma de troncos gigantescos adornados por uma exuberante coroa de folhas, que praticamente encobrem o céu.

É uma tradição khasi que cada pessoa que atravessa uma dessas pontes acrescente um nó ou corrija a direção das jovens raízes. A ponte é propriedade coletiva da comunidade e de suas gerações futuras, que naturalmente aprendem a dar continuidade a essa obra. Este cuidado constante reforça não apenas a estrutura física, mas também simboliza a conexão intrínseca entre as pessoas e a natureza, mostrando como o legado dessas pontes transcende o material, sendo um elo tangível entre passado, presente e futuro na tradição khasi.

Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Crédito da foto
Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Uma ponte nova acima sendo desenvolvida para substituir uma mais antiga | Crédito da foto
Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
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Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
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Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
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Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
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Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
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Pontes vivas de Meghalaya, na Índia
Pontes vivas de Meghalaya, na Índia

Artigo publicado originalmente em julho de 2016

Fontes: 1 2

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