Histórias

Semipalatinsk, a terra nuclear secreta da extinta URSS

Semey é uma cidade localizada na Província do Cazaquistão Oriental, na República do Cazaquistão. Até o ano de 2007, a cidade era conhecida pelo nome de Semipalatinsk (Semipalatinsk-21). Com uma população atual de cerca de 400 mil habitantes, ela abrange aproximadamente 210 quilômetros quadrados de território e é atravessada pelo rio Irtich, um dos afluentes do rio Ob.

Durante o período da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), uma área de 18.000 quilômetros quadrados em Semipalatinsk foi usada para realizar testes nucleares pelo Exército Vermelho. Esses experimentos ocorreram na vasta estepe cazaque, especificamente na região conhecida popularmente como O Polígono, situado a cerca de 150 quilômetros a oeste da cidade.

Semipalatinsk, a terra nuclear secreta da extinta URSS
© Crédito da foto

Entre os anos de 1949 a 1989, foram realizadas mais de 468 explosões no local, sendo que 125 ocorreram ao ar livre, com a dispersão de material radioativo no meio ambiente. Desta forma, Semey e áreas adjacentes apresentam níveis muito altos de radiação, considerados alarmantes pelos especialistas do setor. Pessoas do local apresentam malformações, leucemia, entre outros males. Os estudos efetuados mostram que, dos 18 milhões de habitantes do Cazaquistão, pelo menos 1,5 milhão foram submetidos a radiação.

A obsessão de acompanhar seu arqui inimigo Estados Unidos, em possuir armas nucleares durante a Guerra Fria era tão grande que o governo deixou de lado todas as preocupações quando a saúde da população local ou do meio ambiente. Há também a possibilidade de que eles deliberadamente fizeram os seres humanos daquela região, parte da experiência, a fim de estudar os efeitos da radiação. Semipalatinsk foi o único campo de testes no mundo onde as pessoas continuaram vivendo durante e depois dos mesmos.

Semipalatinsk, a terra nuclear secreta da extinta URSS
Primeiro teste nuclear da União Soviética em Semipalatinsk em 29 de agosto de 1949 |© Crédito da foto

Às vezes, os moradores de aldeias vizinhas eram avisados quando uma explosão era agendada e foram aconselhados a ficarem fora de suas casas durante a explosão, uma vez que poderia derrubar a casa. Casos de câncer, impotência, leucemia e defeitos de nascimento dispararam dentro de poucos anos. Os bebês nasceram com deformações ósseas e neurológicas graves e em alguns casos, sem membros. O diretor do Hospital de Oncologia em Semey estima que pelo menos 60.000 pessoas da região morreram de câncer induzidos pela radiação.

A União Soviética realizou seu primeiro teste nuclear na região em 29 de agosto de 1949, com uma bomba com potência de 22 quilotons e manteve todos os testes em segredo. Até mesmo a Agência de Defesa dos Estados Unidos, estava convencida que os soviéticos estavam pesquisando armas de feixes de partículas, em vez de armas nucleares.

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Ruínas de edifícios, bunkers, túneis e outras infraestruturas ainda estão lá no “Semipalatinsk Test Site (STS)“. As mais visíveis são as linhas de torres de concreto que estavam distantes do marco zero, e alojavam vários equipamentos de medição. Algumas das torres ficaram rachadas, enquanto outras têm bolhas em sua estrutura, possivelmente desenvolvido quando o calor da explosão derreteu o concreto. O nível de radiação dentro do “Polígono” atualmente é baixa, mas ainda há bolsões de radiação residual elevado na área.

O mundo conheceu a verdade sobre o campo de testes nucleares de Semipalatinsk após o nascimento do movimento antinuclear internacional “Nevada-Semipalatinsk” em 1980, que teve como objetivo principal seu encerramento. Em 1989, um decreto do presidente cazaque, Nursultan Nazarbayev, fechou o campo de testes de Semipalatinsk. A assinatura de dito decreto marcou um precedente na história da humanidade: uma potência nuclear abandonava voluntariamente seu programa nuclear. Mas as consequências perdurarão durante pelo menos outro milhão de anos.

Semipalatinsk, a terra nuclear secreta da extinta URSS
O memorial às vítimas de Semipalatinsk | © Crédito da foto © Crédito da foto

A taxa de radioatividade de plutônio precisa de 24 mil anos para descer à metade, razão pela qual o nível de radiação da “terra nuclear” do campo de testes de Semipalatinsk demorará um milhão de anos para voltar à normalidade. Por iniciativa de Nazarbayev, em 2009 a Organização das Nações Unidas declarou 29 de agosto como o Dia Internacional contra os Testes Nucleares.

Da mesma maneira, em 29 de agosto de 2012 Nazarbayev lançou o projeto ATOM, uma campanha que tem como objetivo aumentar a consciência mundial sobre as consequências das explosões e testes de armas nucleares. Em 2001, um memorial às vítimas dos teste nucleares de Semipalatinsk chamado de “Mais forte do que a morte” foi inaugurado na cidade de Semey.

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Cidade de Semey

Fontes: 1 2 3

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