Todos os anos, entre o outono e a primavera do Hemisfério Norte, as cidades costeiras de Veneza e Chioggia, localizadas no norte do Mar Adriático, enfrentam um desafio único e recorrente: as inundações temporárias causadas pelas marés excepcionalmente altas, um fenômeno conhecido localmente como acqua alta (água alta em italiano). Essas inundações periódicas afetam não apenas as áreas costeiras, mas também partes significativas das cidades, gerando preocupações para os moradores e autoridades locais.
Natureza das inundações: Causas e classificações
As inundações por acqua alta ocorrem quando marés altas, influenciadas pela atração gravitacional da lua, coincidem com fortes ventos do siroco, que empurram as águas do Mar Adriático em direção à Lagoa de Veneza. Esse fenômeno ocorre especialmente entre meados de outubro e o início de dezembro, durante a maré alta. As inundações são classificadas como “intensas”, “muito intensas” e “acqua alta”, dependendo da altura da água em relação ao nível do mar normal.
Impactos e consequências locais
As inundações por acqua alta afetam diretamente a vida das pessoas, inundando áreas residenciais, comerciais e históricas de Veneza e Chioggia. Durante o período de inundação, que pode durar até três a quatro horas, as atividades cotidianas são interrompidas e algumas casas e empresas precisam ser evacuadas. Estima-se que uma maré de 90 centímetros acima do nível do mar afete mais de um terço de Veneza, mostrando a extensão dos danos potenciais.
Preparação e alerta
Apesar da imprevisibilidade das marés, a cidade de Veneza mantém um serviço de alerta que notifica os moradores sobre o perigo potencial com antecedência, até dois dias antes de uma acqua alta ocorrer. Isso é feito através de mensagens de texto (SMS) e outros meios de comunicação. Um dos pontos mais vulneráveis é a Praça de São Marcos, frequentemente inundada devido à sua baixa altitude.
Resiliência e adaptação
Para minimizar os impactos das inundações, a cidade implementa uma série de medidas, como a instalação de passadiços elevados que permitem a circulação de pedestres durante a acqua alta. No entanto, mesmo essas medidas têm limitações, pois o nível das passarelas pode não ser suficiente para evitar inundações completas durante marés particularmente altas. Os venezianos, acostumados a esse fenômeno, demonstram resiliência e adaptabilidade, enfrentando as inundações com paciência e, quando necessário, recorrendo ao uso de botas de borracha.
Aumento da frequência e desafios futuros
Nos últimos anos, a frequência das inundações por acqua alta tem aumentado significativamente, passando de menos de 10 vezes por ano para mais de 90 ocorrências anuais. Eventos extremos, como o registrado em 1966, quando 96% da cidade foi inundada, destacam os desafios enfrentados por Veneza e Chioggia. Com o aumento das preocupações sobre as mudanças climáticas e o aumento do nível do mar, essas cidades costeiras enfrentam desafios contínuos para proteger suas comunidades e patrimônio histórico das inundações recorrentes.
Soluções e projetos
- O governo italiano está investindo em projetos para proteger Veneza da Acqua Alta, como o “Módulo Experimental Eletrônico” (MOSE), um sistema de comportas móveis que pode ser instalado para bloquear a entrada da água na lagoa.
- Outras medidas incluem a elevação de calçadas e a construção de barreiras contra inundações em áreas críticas.
Curiosidades da Acqua Alta
- Ocorre cerca de 100 vezes por ano, mas as inundações mais severas, com mais de 140 cm de água, são menos frequentes, acontecendo em média 5 vezes por ano.
- A altura da água pode variar de 10 cm a 194 cm (recorde de 1966).
- Áreas baixas, como a Praça San Marco, são as mais afetadas, com a água inundando ruas, praças e até mesmo lojas e casas.
- Há uma superstição que diz que se você beijar alguém sob uma ponte durante a Acqua Alta, terá um amor eterno.
- Um sistema de sirenes alerta os cidadãos sobre a iminência da Acqua Alta.
- Previsões da Acqua Alta são publicadas online e em jornais locais.
Artigo publicado originalmente em julho de 2015