A 45 quilômetros da cidade de Kars, no nordeste da Turquia, nas margens do rio Akhurian fica a cidade fantasma de Ani, antiga capital do reino da Armênia, fundada há mais de 1.600 anos atrás. Agora localizada no território da Turquia, perto da fronteira com a Armênia, no meio da estepe, surgem aqui e ali ruínas que testemunham o passado glorioso desta encruzilhada do comércio que chegou a abrigar mais de 150.000 habitantes. Ani deve o seu nome a Anahita, uma deusa persa da fertilidade adorada pelos Urartianos, um reino que existia no século 10, e que desapareceu quatro séculos depois.
Até o século 5, na região existia apenas uma fortaleza chamada Ahchakberdom, nas encostas de uma montanha, e só em meados do século 8, começou a ser construir a cidade murada de Ani ao redor desta fortaleza. A cidade tornou-se uma importante encruzilhada para caravanas de mercadores da Rota da Seda e controlava as rotas de comércio entre a antiga cidade grega de Bizâncio e também da Pérsia, Síria e da Ásia Central. Comerciantes e artesãos reuniam-se em Ani, e o fluxo de pessoas crescia a cada ano, vindos de toda parte e em 961 a cidade se tornou a capital da Armênia e começou a crescer rapidamente e as religiões que existiam na época, começaram a construir seus templos. No século 11, havia na cidade 12 bispos, 40 monges e 500 sacerdotes e sua riqueza e fama era tal que ficou conhecida como “a cidade das mil e uma igrejas”.
Desde meados do século 13 a cidade começou a entrar em declínio, Ani e as áreas circundantes foram centenas de vezes conquistadas pelos imperadores bizantinos, otomanos, curdos, nômades, armênios, fazendo as rotas de comércio se transferirem mais para o sul, e assim, perdendo sua população e apenas algumas igrejas ainda permaneceram sendo usadas por algum tempo, até finalmente a região ser abandonada em 1735.
A entrada da impressionante cidadela faz-se pelo Portão do Leão cujas torres redondas dominam o local, mas havia outras sete entradas. Os principais vestígios visíveis hoje em dia são religiosos. Varias igrejas, uma catedral e uma mesquita são os edifícios mais representativos de Ani. Em 1957, um raio reduziu a Igreja do Redentor, construída em 1034-1036, a metade, dando uma imagem de desolação muito pitoresca! Esta igreja albergava um pedaço da Verdadeira Cruz que veio de Constantinopla. Entre o caminho e o desfiladeiro sinuoso que serpenteia em baixo, a Igreja de São Gregório de Honentz, também chamada de Igreja das Imagens, impressiona os visitantes. Construída em 1215 sob as ordens de Tigran Honentz, é dedicada a Gregório I, o primeiro apóstolo e patriarca armênio. Tanto o interior com frescos impressionantes como a arquitetura exterior dão uma ideia clara do seu passado glorioso.
Ani foi, em tempos, a sede do Patriarcado Armênio Ortodoxo e a catedral foi o edifício mais magnifico da cidade. Ela foi várias vezes transformada em mesquita antes de retornar a igreja e, finalmente, ser renomeada mesquita quando os seljúcidas tomaram posse da cidade. A cúpula desapareceu, mas quando se esta dentro do edifício, não se pode deixar de ficar impressionado com a força que ele exala.
Muito próximo, fica a mesquita de Menüçer, construída em 1072 pelos turcos seljúcidas da Anatólia, surpreendente pela sua forma retangular, seu minarete octogonal e mistura de estilos seljúcida e armênio. A estrada leva-nos a igreja do castelo da Virgem Maria, pendurada no rochedo, na curva do caminho. Não é possível visitá-la pois está localizada numa zona militar tal como outras partes desta antiga cidade.
Um pouco mais longe, a igreja de São Gregório (Abughamrentz) com um telhado cônico data do século X e é semelhante àquela que foi danificada por um raio. A igreja dos Santos Apóstolos, construída em 1031, vista ao longe parece um campo de ruínas mas quando nos aproximamos, apreciamos a sua arquitetura refinada e doçura que emana da varanda. No final do percurso podemos ver cavernas dispostas na rocha e a única parede remanescente de uma igreja gregoriana construída há 1000 anos.
Redescoberta no século 19, a cidade teve um breve momento de fama, apenas para ser fechada pela Primeira Guerra Mundial e os acontecimentos posteriores do Genocídio Armênio, que deixou a região um vazio, militarizada e terra de ninguém. As ruínas se desintegraram nas mãos de muitos saqueadores, vândalos turcos que tentaram apagar a história armênia da área.
Crédito das fotos: wwwtheatlantic.com
“Tudo o que o homem não conhece não existe para ele. Por isso, o mundo tem para cada um o tamanho que abrange o seu conhecimento”. – Carlos Bernardo González Pecotche