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A Árvore de Ténéré, a mais solitária do mundo

A Árvore de Ténéré (em francês: L’Arbre du Ténéré) era uma acácia (Acacia raddiana) que já foi considerada a árvore mais solitária do mundo – a única num raio de 400 quilômetros de sua posição. Ela foi um marco nas rotas de caravanas através da região de Ténéré, no deserto do Saara, no nordeste de Níger, na África. O Saara é um dos maiores desertos da Terra e um lugar onde por vários anos fica sem chuva, ou com chuvas de menos de 12,3 mm ao ano. Onde as temperaturas oscilam entre os 10ºC da temperatura mínima em janeiro e os mais de 50ºC da máximo em junho.

A Árvore de Ténéré, a mais solitária do mundo

Ela era a única sobrevivente de um grupo de acácias que haviam na região quando o deserto do Saara era menos inóspito e mais verde, há mais de 300 anos, de acordo com estudos feitos nos anéis de seu tronco. À medida que a temperatura na região do Saara ficou mais quente, as outras acácias morreram, restando somente uma. Durante o inverno de 1938-1939, um poço foi cavado perto da árvore e descobriu-se que as suas raízes buscavam água de um lençol freático a 30 metros da abaixo superfície. A acácia, também era conhecida como Arbre Perdu (Árvore Perdida).

A Árvore de Ténéré, a mais solitária do mundo

A árvore tinha cerca de três metros de altura e seu tronco se bifurcava no meio, dando à acácia a forma de um “Y”. Havia uma espécie de superstição, um arranjo tribal que era sempre respeitado e todos os anos, o povo azalai acampavam perto da árvore durante a travessia do Ténéré. A acácia se tornara um farol e o primeiro marco para os que deixavam Agadez para irem a Birma. Também os tuaregues, viajantes e caravanas costumavam parar para passar a noite e pegar água do poço. Eles não arrancavam seus galhos e nem deixavam seus camelos se alimentarem de suas folhas.

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Em maio de 1939, o comandante das Missões Militares Aliadas da França, Michel Lesourd escreveu: “Alguém deve ver a árvore para acreditar na sua existência. Qual é o seu segredo? Como ela ainda vive, apesar da quantidade de camelos que pernoitam ao seu redor? Por quê os numerosos tuaregues das caravanas de sal não cortam os seus ramos para fazerem fogueiras para aquecer o seu chá? A única resposta é que essa árvore é considerada tabu pelos caravaneiros“. Ele a chamou de “um farol vivo”.

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Já o etnólogo e explorador francês Henri Lhote em sua primeira aventura no deserto em 1934, escreveu em seu livro L’épopée du Ténéré: “um aspecto degenerado, como se estivesse doente, mas a árvore tem folhas verdes e bonitas, e algumas flores amarelas”.

Ele a visitou novamente 25 anos depois, em novembro de 1959, na missão Berliet-Ténéré, mas descobriu que ela havia sido gravemente danificada depois que um veículo militar quebrou um dos seus principais ramos: “Se antes esta árvore era verde e florida, agora é uma árvore com espinhos, sem cores e nua. Não consigo reconhecê-la. Antes ela tinha dois troncos bem separados. Agora, só tem um, com um toco ao seu lado, arrancado, e não cortado. O que aconteceu com esta árvore infeliz? Simples: um caminhão a atingiu… mas havia espaço suficiente para desviar dela… o tabu, a árvore sagrada, aquela que nômade algum se atreveria a ferir com a mão… vítima de um motorista“.

A Árvore de Ténéré, a mais solitária do mundo

Mesmo depois deste incidente, a árvore permaneceu viva e em pé até que em 1973, ela foi atropelada novamente – e, desta vez, completamente arrancada do solo, morta por um motorista de caminhão líbio que de acordo com relatos da época, estava bêbado.

Os restos da árvore foram levados em novembro do mesmo ano, para o Museu Nacional de Níger em Niamei, a capital do Níger, onde permanecem até hoje, abrigados por uma espécie de mausoléu. No lugar da árvore, foi erguida uma escultura de metal que lembra vagamente uma árvore, iluminada por um holofote.

A Árvore de Ténéré, a mais solitária do mundo

Quatro anos depois, em 1977, o piloto de rali francês Thierry Sabine se perdeu no deserto de Ténéré durante uma prova. Nessa experiência ele percebeu que a rota serviria para pilotos de motos e carros testarem suas habilidades. Foi ali que nasceu o Rally Paris-Dakar (ocorreu de 1979 a 2007), uma das provas automobilísticas mais famosas e difíceis do planeta.

Thierry morreu em um acidente de helicóptero em 1986 nas proximidades da árvore e suas cinzas foram espalhadas ao redor dela e desde então ela começou a figurar em mapas impressos como Arbre Thierry Sabine. Uma placa ao lado da escultura de metal é dedicado à sua memória, onde está escrito: “um desafio para os que vão e um sonho para os que ficam”.

A Árvore de Ténéré, a mais solitária do mundo

A escultura que representa a Árvore do Ténéré e a história da acácia são proeminentes no filme A Grande Final de 2006 (The Great Match). No filme, um grupo de nômades Tuaregues em suas caravanas pelo Saara encontram uma fonte de energia e assim conseguem ligar uma televisão a tempo de assistir a final da Copa do Mundo da FIFA 2002 entre a Alemanha e o Brasil , eventualmente usando a escultura da árvore como uma antena improvisada. Em 2017, no festival anual Burning Man nos Estados Unidos, uma reprodução artística da árvore foi montada no deserto de Nevada, e foi anfitrião de várias apresentações, incluindo o balé Stravinsky The Rite of Spring.

A Árvore de Ténéré, a mais solitária do mundo
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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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