Histórias

As cicatrizes da Batalha de Verdun

A Batalha de Verdun foi uma das mais violentas batalhas da Primeira Guerra Mundial, que colocou frente a frente o exército alemão e as tropas francesas, de 21 de Fevereiro a 18 de Dezembro de 1916, num terreno cheio de elevações ao norte da cidade de Verdun-sur-Meuse, às margens do rio Meuse, nordeste de França. De acordo com estimativas, teriam morrido 714 mil homens, onde 378 mil era do lado francês e 336 mil do lado alemão. Por cada mês de batalha, em média, teriam ocorrido 70.000 baixas. Foi a batalha mais longa, e uma das mais devastadoras em termos de baixas, da Primeira Guerra Mundial e da história militar. Estimativas atuais estimam que o número de baixas é de 976 mil.

A sangrenta Batalha de Verdun
Campo de batalha de Verdun, cheio de crateras visíveis até hoje, desde a Primeira Guerra Mundial | Crédito de foto

O ataque a Verdun surgiu por causa de um plano astuto do Chefe do Estado Maior alemão, Erich Von Falkenhayn. Verdun não era estrategicamente importante para os alemães, mas tinha um sentimento histórico para os franceses. A área em torno de Verdun continha vinte principais fortalezas e quarenta menores que historicamente haviam protegido a fronteira leste da França durante séculos. Falkenhayn sabia que os franceses simplesmente não podiam permitir que esses fortes caíssem em mãos inimigas, pois seria uma humilhação nacional. Falkenhayn acreditava que a França iria lutar por este pedaço de terra até o último homem, e ao fazê-lo iria perder tantos homens que a batalha iria mudar o curso da guerra. Seu plano não era para capturar a cidade, mas simplesmente matar tantos franceses quanto possível, ou como consta em suas memórias escritas: “sangrar o exército branco francês“.

A sangrenta Batalha de Verdun
Árvores cresceram onde ficava a aldeia de Fleury, perto de Verdun, foto tirada em março de 2014 | Crédito de foto

Os alemães enviaram 140 mil soldados e conseguiram importantes vitórias no início da batalha, principalmente com os fortes bombardeios efetuados, por 1.200 armas de artilharia, principalmente sobre as trincheiras francesas, que crivou de crateras a região e estimasse que dois milhões de projeteis caíram nos dois primeiros dias. Porém, a entrada do general Philippe Pétain no comando das tropas franceses representou o fortalecimento da resistência dos franceses às investidas alemãs. Com o lema “Não passarão”, os franceses adotaram uma tática de rotatividade de tropas nos fortes e trincheiras, pretendendo, dessa forma, diminuir o cansaço dos soldados e os efeitos nocivos à moral de luta decorrentes dos longos períodos parados em um mesmo local. Essa forma de batalha ficou conhecida como sistema Noria, que teve como um de seus iniciadores, ao lado de Pétain, o general Charles Nivelle.

A sangrenta Batalha de Verdun
Aspecto ondulante do terreno não é natural, mas feito por bombas e granadas | Crédito de foto

Construíram ainda uma estrada que ligava Verdun à retaguarda, garantindo o fornecimento de mantimentos e suprimentos bélicos. A estrada foi denominada Voie Sacrée, a Via Sagrada, por onde passaram cerca de 12 mil veículos, 50 mil toneladas de alimentos e 2 milhões de soldados. Os bombardeios alemães dificultaram ainda mais o desenvolvimento da batalha, em decorrência da grande quantidade de crateras criadas no campo. Somavam-se a isso a chuva e a neve que caíram durante os longos meses de batalha, transformando o local em um imenso lodaçal. Os combates se deram tanto com a utilização de bombas de gases tóxicos, por parte dos alemães, quanto em confrontos corpo a corpo entre os soldados.

Ao longo de onze meses, os dois exércitos dispararam um número estimado de 65 milhões de granadas de artilharia em um outro ou em outro, que não só dizimou os dois exércitos, mas arrasou completamente a terra. A guerra de trincheiras levou também ao acúmulo de centenas de milhares de corpos no campo de batalha. Os ataques com bombas revolviam a terra trazendo à superfície os corpos enterrados. O cheiro decorrente da putrefação dos corpos, aliado à falta de higiene nas latrinas e fortes, levou os soldados a colocarem dentes de alho em suas narinas quando tinham que construir novas trincheiras.

A sangrenta Batalha de Verdun
Crédito de foto

A batalha que se caracterizou pela captura e recaptura de fortificações teve fim em 15 de dezembro, quando os alemães decidiram recuar frente à incapacidade de derrotar os franceses e muitos foram feitos prisioneiros. A resistência dos franceses, aliada às ofensivas britânicas sobre as posições alemãs, iria marcar a derrocada do Segundo Reich na Primeira Guerra Mundial. Após o fracasso em Verdun, Falkenhayn foi removido de sua posição.

Florestas foram reduzidos a pilhas emaranhadas de madeira. Mesmo hoje em dia o solo está contaminada com metais pesados tais como cobre, chumbo e zinco, e produtos químicos tóxicos, tais como arsênio e perclorato de amônio, as quais foram utilizadas nos reservatórios dos detonadores. Apenas a vegetação mais resistente conseguiu sobreviver. Milhões de artefatos bélicos não detonados ainda continuam na região. Em todos os lugares que você olhar, verá as cicatrizes brutais na terra, que ainda são visíveis, depois de todos esses anos, desde o fim da guerra.

A sangrenta Batalha de Verdun
Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
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A sangrenta Batalha de Verdun
Ainda há áreas, onde o acesso é bloqueado, devido ao alto níveis de veneno, que ainda continuam contaminando o solo | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Trincheira de comunicação preservada em Verdun | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
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A sangrenta Batalha de Verdun
Nove aldeias foram destruídas e nunca reconstruídas, em memória do que ocorreu no local. A placa na imagem indica onde ficava a rua principal da aldeia de Bezonvaux | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Aposentado dos serviços florestais encontra na floresta Bois Azoule, artilharia de 77 mm e de 105 mm alemãs que nunca foram disparadas | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Um antigo depósito alemão na floresta Spincourt, perto de Verdun. Pelo menos, meia dúzia de bunkers ainda estão de pé, em uma área onde o exército alemão manteve um hospital, ligações ferroviárias e um posto de comando na Batalha de Verdun | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Cantis de água franceses que datam da Primeira Guerra Mundial, encontrados na floresta de Bois Azoule, perto de Verdun | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Diversos artigos militares remanescentes da Batalha de Verdun, encontrados na floresta Bois Azoule | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Rifles enferrujados, encontrados no solo ao redor da cidade francesa de Verdun | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Algumas das bombas encontradas enterradas no solo em torno de Verdun. Pessoas foram mortas por bombas deixadas para trás, após a batalha. A mais recente foi em 2007 | Crédito de foto
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Bomba sendo explodida com segurança para limpeza da área | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
Antiga torre do bunker de aço no topo do forte Douaumont, com vista para a planície de Woevre | Crédito de foto
A sangrenta Batalha de Verdun
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A sangrenta Batalha de Verdun
Um pessoa se aproxima de uma cratera criada por uma mina na colina de Les Éparges, perto de Verdun | Crédito de foto

Leia também: Os resquícios da Batalha de Verdun

Fontes: 1 2 3

“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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