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Pedras de Sapo: A riqueza submersa de Port Nolloth, na África do Sul

À primeira vista, Port Nolloth pode ser apenas uma das áreas mais inóspitas da África do Sul. Varrida por ventos e assolada por tempestades marítimas com ondas de cinco metros de altura, ela abriga, porém, valiosos tesouros. Aqui, nos raros dias ensolarados do ano, homens vasculham o mar gelado com máquinas de sucção e retornam à superfície com pedras que ocultam diamantes de alta qualidade. São os garimpeiros do fundo do mar.

Port Nolloth é uma cidade desconhecida, na costa oeste da África do Sul, a 100 quilômetros do Rio Orange, na fronteira com a Namíbia. Por anos, o porto da cidade foi o ponto de embarque de cobre, das minas da região, mas desde a década de 1970, o porto serve apenas para a pesca e turismo, e as atividades da cidade praticamente cessaram, e os poucos que teimaram em ficar, são garimpeiros.

Durante mais de 300 dias do ano, os homens são obrigados a esperar, simplesmente esperar, entre goles de cerveja e jogos de dados, impedidos de zarpar pelo tempo inclemente. São aventureiros, agricultores que desistiram da profissão ou garimpeiros que conhecem rios mas não oceanos. Todos aguardam os dias do anticiclone milagroso, aquele que vai lhes revelar o fundo do mar e a riqueza.

Sob a água, a vida é difícil e o trabalho perigoso: a visibilidade é tão ruim que, na maioria das vezes, os mergulhadores trabalham inteiramente às cegas. Quando o mar está razoavelmente calmo – o que acontece apenas 50 dias por ano -, eles mergulham nas águas glaciais do Atlântico, com equipamentos sofríveis. O frio é de 10 graus; eventualmente, a força das correntes marítimas arrasta garimpeiros que nunca mais são vistos.

Mesmo assim, eles mergulham e, com os tubos, sugam toneladas de cascalhos – no meio da escória, estão os diamantes que os rios Orange e Olifants transportaram para o mar há milhões de anos. Ao longo desse tempo, os cursos d’água drenaram o kimberlito, a rocha matriz do diamante, que também costuma resultar de vulcões em erupção. Nos estuários, o fluxo, a ressaca e o movimento de calhaus e sedimentos acabam destruindo as pedras impuras. Ficam apenas as “pedras de sapo“, gemas de pureza excepcional, as mais belas do mundo.

Hitchcock

Em Port Nolloth, só se fala e sonha com diamantes. Cinco horas da manhã, os garimpeiros vasculham as águas até uma boia ancorada ao largo para saber como está a força do mar e a intensidade dos ventos. Se o tempo é bem, e nunca se sabe quando pode acontecer, não perdem tempo: uma flotilha de barcos pesqueiros, especialmente modificados, alguns equipados com câmaras de descompressão, faz-se ao mar arrastando longos tubos de sucção.

Os barcos maiores podem sugar até oito toneladas de cascalhos em 48 horas. Tratores dos antigos agricultores jogam tubos de até 90 metros, prontos para sugar riqueza em forma de pedra. As maiores são jogadas de volta à água, as menores enviadas a centros de separação, no litoral. As gemas tem em média meio quilate, mas muitas delas podem ser encontradas em um único mergulho. Cada quilate rende 200 dólares: sempre há uma fortuna à espera de cada um.

É esse o sonho que anima a todos. Os mergulhadores chegam a Port Nolloth em busca de fortuna fácil e rápida. Se puderem encher um envelope de plástico, conhecido por ‘pot jie‘, será a sorte grande – 300 quilates, ou 60 mil dólares. Talvez não imaginem ficar para sempre nem queiram incrustar os dentes com diamantes, com fez Hitchcock, um antigo personagem excêntrico do lugar. Mas acabam ficando em Port Nolloth.

Ficam na esperança de fazer um único mergulho, histórico, milionário, que os torne uma nova lenda, como a do aventureiro que encontrou pedras no total de 8.000 quilates de uma só vez ou a de um outro que afirma ter colocado as mãos em um diamante único de 200 quilates. Mas a sorte grande, como sempre, é rara. Quase todos ganham apenas para o sustento, para manter o sonho vivo, para continuar em Port Nolloth. Talvez para sempre.

Artigo publicado originalmente em junho de 2016

Fontes: 1 2

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