De longe, pequenas casas da vila sérvia de Smoljinac se parecem com um bairro residencial, como qualquer outro que se pode encontrar pelas cidades no mundo afora, mas ao se aproximar, se poderá observar que tais casas estão entre túmulos e se localizam dentro de um cemitério e foram construídas para o conforto dos visitantes e dos ‘mortos’.
São cerca de 100 capelas funerárias em forma de casas. A maioria bangalôs pintados de cores pastéis, com um ou dois cômodos, algumas com grandes janelas, varandas, e até energia elétrica. Todas são mobiliadas com mesas, cadeiras, sofás, camas, vasos de flores e fotos de família penduradas nas paredes. Mas se pode encontrar casas maiores, de dois ou três andares, com chaminés, ar condicionado, com todo o conforto que uma casa exige e também casas que se parecem com castelos medievais. Os mortos geralmente estão embaixo do piso do cômodo principal.
O estranho costume de construir casas em vez de lápides na cidade começou no final dos anos 1960, quando um operário fez fortuna trabalhando no exterior e quando voltou para sua terra natal, decidiu construir um magnifico mausoléu para si mesmo. Outras pessoas acharam que era uma boa ideia, e seguiram o exemplo do trabalhador, sempre incrementando e melhorando as casas. Muitos outros cemitérios na Sérvia, especialmente perto de Belgrado tem bangalôs em vez de túmulos, mas nenhum com tantas casas como a pequena vila de Smoljinac.
Os moradores de Smoljinac, a cerca de 100 quilômetros a leste de Belgrado se lembram e até fazem piada de um motorista de caminhão que parou numa noite para descansar e na manhã seguinte foi até a casa mais próxima pedir informação, de algum lugar para tomar café. O homem levou um tremendo susto, quando viu que estava pisando em túmulos ao aproximar das casas e pensou que toda a aldeia estivesse morta.
A cidade tem cerca de 1.800 habitantes, muito deles idosos. Como na maior parte da região, a maioria da sua população mais jovem foi trabalhar no exterior nos anos 1970 e 1980, principalmente na Áustria e o envio de dinheiro permitiu que a vila prosperasse. Mais um milhão de sérvios vivem e trabalham no exterior, graça às ondas de emigração entre o fim da Segunda Guerra Mundial e os anos 1990. Só em Smoljinac, 70 por cento de sua população original, vivem no exterior.
Em 2015, as remessas de dinheiro para o país ascendeu a 9,2 por cento da produção nacional. Um pequeno bangalô pode custar em torno de 4.000 euros e quase sempre pago com dinheiro enviado da Áustria, Alemanha, Dinamarca ou outro país ocidental. A construção de tais casas são irregulares, e ninguém da aldeia gosta de falar sobre o assunto, temendo que as autoridades possam tomar medidas legais contra elas, incluindo a demolição dos mausoléus. A Igreja Ortodoxa da Sérvia em sua maioria faz vista grossa para as construções pomposas nos cemitérios, uma vez que muitos proprietários também são grandes benfeitores.
Ao contrário da Cidade dos Mortos do Cairo, no Egito onde as pessoas vivem em cemitérios, pois não tem para onde ir, a aldeia sérvia dos mortos não é um produto da necessidade, nem tem qualquer tradição histórica. É apenas um forma de ostentar riqueza e prosperidade. A disputa entre as pessoas tem garantido que uma nova casa construída será maior e mais grandiosa que a do seu vizinho. Perto da entrada do cemitério, estão as sepulturas das pessoas mais pobres da vida, geralmente marcadas por túmulos comuns ou simples lápides de pedra encravadas no solo. Ter uma casa em vez de uma lápide não é uma má ideia, diz um morador. “Precisamos de um teto sobre nossas cabeças para sentar e tomar um café, quando visitamos nossos mortos.”
Crédito das fotos: Marko Djurica / Reuters
“Há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia.” – William Shakespeare
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