Histórias

Frances Glessner e seus assassinatos em miniatura

Imaginem a cena….

“Ao meio dia de segunda-feira, 19 de agosto de 1946, Dorothy Dennison, estudante do ensino médio foi ao açougue perto de sua casa para comprar carne, que sua mãe havia pedido e que planejava fazer para o jantar daquela noite.

Horas se passaram, e Dorothy não havia voltado. Alarmada, a mãe telefonou para o açougueiro, que informou que havia vendido bifes a Dorothy, mas não sabia do paradeiro dela. Às 17:25h daquela tarde, a mãe desesperada ligou para a polícia relatando que sua filha havia desaparecido.

Os dias se passaram, mas nenhuma pista surgiu. Finalmente, na sexta-feira daquela semana, o policial Patrick Sullivan em ronda, encontrou a casa do reitor da igreja local fechada e às escuras e resolveu investigar, e ao olhar pelas janelas viu Dorothy deitada de costas morta em meio aos móveis da sala.

Seus braços e pernas estavam abertos, e uma faca enfiada em seu intestino. O vestido branco que usava, tinha sido puxado, expondo seu peito e marcas de mordida cobria seu corpo e pernas. O sangue escorria de um ferimento na cabeça. Ela ainda estava usando o arco de cabelo vermelho e sapatilhas de balé com que havia saído de casa na segunda-feira.”

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

Em Baltimore, Maryland, no escritório do legista chefe, havia um diorama (cena em miniatura) bizarro: Uma casa de bonecas que ilustrava cada detalhe em torno do fim trágico da adolescente, do mesmo jeito que o policial Sullivan, encontrou Dorothy Dennison, no dia 23 de agosto, às 4:15h.

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

Esse diorama, é uma das 18 cenas de crime construídas por Frances Glessner Lee, chamada de “a mãe da investigação forense“. As miniaturas de assassinatos de Lee são um trabalho pioneiro em ciência criminal e mudou para sempre o curso das investigações de mortes inexplicáveis.

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

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Frances Glessner Lee (1878-1962)

Frances Glessner Lee (1878-1962), uma socialite e herdeira de Nova Inglaterra, dedicou sua vida ao avanço da medicina legal e na investigação científica. Seu interesse pelo assunto começou quando um colega de faculdade de seu irmão, George Burgess Magrath (1870-1938), passou férias com a família Glessner em sua casa de verão nas montanhas de New Hampshire. George B. Magrath, então um estudante de medicina, passou a ensinar a medicina legal na Universidade de Harvard e se tornou o legista-chefe do Condado de Suffolk (Boston).

Em 1931, Lee ajudou a estabelecer o Departamento de Medicina Legal na Universidade de Harvard, o único programa desse tipo então existente na América do Norte. Daquele momento em diante, ela se tornou uma incansável defensora da ciência forense. Em 1934 ela apresentou ao departamento com uma coleção de livros e manuscritos, que se tornou a Biblioteca Magrath de Medicina Legal, e em 1936 dotou o departamento com uma doação de US $ 250.000.

Em 1943, Lee foi nomeada capitão da polícia do estado de New Hampshire, a primeira mulher nos Estados Unidos a ter essa posição. Ao mesmo tempo, ela começou a trabalhar nos “Nutshell Studies of Unexplained Death” estudo sobre mortes inexplicadas – uma série de dezoito miniatura (dioramas) da cena do crime para análise dos estudantes.

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

As miniaturas de Lee combinava seu amor ao longo da vida as bonecas e casas de bonecas e a sua paixão pela medicina forense. Erle Stanley Gardner, o escritor mais conhecido por criar os mistérios Perry Mason e amigo íntimo de Lee, escreveu que “Uma pessoa que estuda estas miniaturas podem aprender mais sobre a prova circunstancial em uma hora do que ele poderia aprender em meses de investigação.”

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

Uma das maiores características de Lee, era o perfeccionismo absurdo com o qual ela construía seus dioramas com peças de casas de boneca. Muitas vezes os trabalhos de Lee refletiam seu contexto familiar. Seu pai era um ávido colecionador de móveis chiques, com os quais ele decorou a casa deles. Ele até escreveu um livro sobre o assunto e a casa da família é hoje um museu. Lee gostava das histórias de Sherlock Holmes, cujo enredo geralmente tratava de investigações elucidadas por pequenos detalhes e geralmente negligenciados. Ela incorporou muitos desses conceitos em suas casas de boneca. E em cada modelo em miniatura de cenas de crime, ela gastava aproximadamente entre 3 a 4 mil dólares.

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

Lee morreu em 1962 com a idade de 83 anos. A universidade de Harvard fechou seu programa de análise forense e guardou os dioramas num armazém. Eles muito provavelmente iriam para o lixo, quando o professor de Harvard, Russell Fisher aceitou um emprego como médico legista chefe de Baltimore, Maryland e levou os dioramas com ele, e em 1968, começou a usá-los em seminários. Hoje, eles estão instalados permanentemente no quarto andar do escritório do chefe legista, atrás de uma porta marcada “Pathology Exhibit“. E as cenas em miniaturas ainda são utilizados como ferramentas de formação em seminários de homicídios.

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

Quando ao crime de Dorothy Dennison, nunca foi resolvido: O pacote com a carne, estava numa cadeira próxima de onde o corpo de Dorothy foi encontrado e não havia sinais de luta no local, sugerindo que a vítima provavelmente conhecia seu assassino e foi voluntariamente ao local. Um martelo untado de sangue também foi encontrado e era a resposta sobre o grave ferimento na cabeça da adolescente.

As mordidas e a posição do corpo indicam que se tratava de um crime sexual, mas apenas uma análise post-mortem revelaria se Dorothy foi estuprada. Talvez o assassino tenha sido o açougueiro, o reitor ou um amante secreto, ninguém sabe, mas se o crime ocorresse hoje em dia, as marcas dos dentes poderiam ajudar a identificar o assassino, bem como se saberia se ela tinha sido estuprada.

Frances Glessner Lee um dia disse: “As miniaturas de cenas de assassinatos não são feitas para elucidar crimes não resolvidos. Ao contrário, elas são concebidas como um exercício de observar e avaliar evidências indiretas, especialmente aquelas que podem ter importância médica.

Frances Glessner Lee, assassinatos em miniatura

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Fontes: 1 2 3

“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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