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Berezniki, a cidade russa engolida por buracos

Berezniki, nos montes Urais é uma cidade na Rússia, localizada às margens do rio Kama, fundada em 1873 e atualmente tem uma população em torno de 156.000 habitantes e é a cidade natal do primeiro presidente da Rússia, Boris Yeltsin e do bilionário Dmitry Rybolovlev, que fez fortuna comercializando fertilizantes. A cidade ficou conhecida com a Atlantis (Atlântica) russa, por está afundando aos poucos, com enormes crateras e sumidouros que surgem por toda a região.

A cidade foi sendo construída sobre uma das maiores minas de potássio da Terra, que trouxe trabalho e prosperidade a população por mais de 70 anos. O potássio é uma matéria prima essencial na fabricação de fertilizantes e um dos dez mais abundantes minerais na crosta terrestre e todas as jazidas fixas têm origem marinha, e se formaram por evaporação da água do mar.

Milhares de quilômetros de túneis se estendem através do subsolo da cidade como cicatrizes e inúmeras cavernas viraram o solo num imenso esqueleto. O sistema de cavernas abaixo de Berezniki tem uma área de mais de 390 quilômetros quadrados e alguns desses túneis e cavernas atualmente abandonados estão de 220 a 450 metros abaixo da superfície.

Fossas ou sumidouros são perigos constantes em regiões mineradoras, assolando áreas onde mineradores atravessaram camadas de minerais solúveis e em seguida houve inundações acidentais. Mas em Berezniki, como é frequente na Rússia, o problema foi amplificado por práticas passadas onde a segurança nem sempre era a maior preocupação.

No Ocidente, as minas  são geralmente localizadas longe de áreas populosas, buscando reduzir os riscos de depressões para as construções, mas em Berezniki que começou como campo de trabalho, foi construída sobre a mina – um legado da política soviética de montar acampamentos próximos das áreas de trabalho. Berezniki é afligida por sumidouros, com buracos de centenas de metros de profundidade, que podem se abrir a qualquer momento. O problema é tão grave que toda a cidade fica 24 horas sob vigilância por vídeo.

Na década de 1980, a água do rio Kama vazou para a mina abandonada, dissolvendo aos poucos as paredes e colunas de sal, deixadas por mineradores para sustentar o teto das enormes cavernas subterrâneas. Em outubro de 2006, os primeiros sinais de desastre chegaram na forma de pequenos terremotos e então a mina a 400 metros abaixo da cidade implodiu, e cavernas e túneis entraram em colapso e grande quantidade de água doce inundou o subsolo poroso e dissolveu as camadas ricas em rochas de sal sobre a qual Berezniki havia sido construída.

No nordeste da cidade, uma cratera gigante do tamanho de dezessete campos de futebol havia se formado, com uma profundidade que poderia engolir um edifício de 50 andares.

Era o começo do fim. A cidade começou a afundar e por todos os lados começaram a aparecer crateras que podiam ser de poucos metros de largura, mas tão profundas que não se conseguia ver o fundo ou outras mais amplas, com centenas de metros de diâmetro, que se formavam em questão de minutos.

Em alguns lugares onde não se abriu uma cratera, o chão ficou ondulado, com vários metros acima ou abaixo do normal.  Em algumas casas apareceram rachaduras tão largas, que um pessoa podia cruzar a parede. Enquanto isso, o perigo invisível se escondia sob a forma de bolhas de gás altamente explosivo, que se acumularam nas cavernas que não foram inundadas. Estas poderiam desencadear um inferno na cidade a qualquer momento.

Para os moradores de Berezniki, a vida tornou-se um pesadelo. Ninguém sabia onde a próxima cratera iria se abrir. Todo mundo tinha medo que sua casa fosse à próxima a ser engolida. Engenheiros de mineração inicialmente tentaram manter os suportes através do bombeamento de água salgada, buscando elevar a salinidade da água interna até o ponto de saturação antes de a estrutura desabar, mas isso não funcionou.

Depois disso, foi adotado o sistema de observação e alerta rápido em vigor até hoje. Estes incluem o sistema de vigilância por vídeo, sensores sísmicos, inspeções regulares e monitoramento por satélite das mudanças de altitude em telhados, calçadas e ruas. Berezniki produz cerca de dez por cento do potássio do mundo e as minas são o maior empregador da cidade. O fechamento das minas seria prejudicial para a economia local.

Em julho de 2007 surgiu o sumidouro apelidado de The Grandfather, “O Avô”, que inicialmente tinha 80 metros de comprimento, 40 metros de largura e 200 metros de profundidade e em 2012, já estava com 390 metros de comprimento por 310 metros de largura e as autoridades foram obrigadas a evacuar cerca de duas mil pessoas dos blocos de apartamentos na área circundante ao buraco. O Avô provavelmente é o maior sumidouro feito pelo homem no mundo.

Em novembro de 2010, uma cratera surgiu numa noite, destruindo parte da única ferrovia, responsável por transportar o potássio das minas, na época a cidade produzia 10% de todo potássio do mundo. Esse buraco ficou conhecido como “O Jovem” que engoliu também uma fileira de galpões de armazenamento e um vagão de passageiro estacionado. Cerca de 15 mil pessoas abandonaram a cidade entre 2005 e 2010 e de acordo com estimativas, cerca de 12 mil moradores terão que deixar suas casas nos próximos anos.

Uma gama de instrumentos de alta tecnologia, incluindo sistema de videovigilância, sensores sísmicos, levantamentos regulares e monitoramento por satélite das mudanças de altitude de telhados, calçadas e ruas, são agora usados ​​em Berezniki para prever a formação de sumidouros.

Autoridades federais e executivos da empresa estão debatendo se vão transferir toda a cidade para a margem oposta do rio Kama, onde a base é sólida. Mas os engenheiros garantiram que a era da formação do sumidouro acabou, e nenhum novo buraco se abrirá, mas poucos moradores acreditam nisso.

Artigo publicado originalmente em outubro de 2016

Créditos fotos: www.englishrussia.com  e  Lana Sator

Fontes: 1 2 3

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