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Bourbon: Os túneis esquecidos de Nápoles

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A entrada para os túneis Bourbon fica a cerca de cento e cinquenta metros da praça Piazza del Plebiscito, bem no coração de Nápoles, Itália. Descendo trinta metros, os visitantes têm acesso a uma rede fascinante de galerias subterrâneas, cavernas e aquedutos, totalizando aproximadamente 530 metros de extensão.

Construídos durante o século XIX, os túneis Bourbon foram posteriormente esquecidos após o término da Segunda Guerra Mundial. Sua redescoberta ocorreu na década de 2000, quando geólogos do governo estavam inspecionando as condições das pedreiras no bairro de Monte di Dio.

Concebidos como rota de fuga

Os túneis Bourbon foram originalmente concebidos como uma rota de fuga do Palácio Real, no Reino das Duas Sicílias, pelo então rei Fernando II de Bourbon. Ele, extremamente preocupado com a possibilidade de ser deposto pela população revoltada de Nápoles e da Sicília, durante um período turbulento que antecedeu a formação do que hoje conhecemos como Itália. Fernando unificou os reinos de Nápoles e da Sicília em 1816, uma medida que muitos não aceitaram.

Desde então, ocorreram várias revoltas internas contra as políticas impostas pelo rei, incluindo uma especialmente violenta em 1848, quando os revolucionários tomaram o controle do reino por 16 meses. Após retomar o poder em 1849, Fernando II ordenou a redação de uma nova constituição e começou a elaborar planos para uma evacuação segura, caso ocorresse outra revolta popular. Os túneis Bourbon serviriam como uma rota estratégica para tal eventualidade.

Escavação e abandono

Em 1853, por ordem de Fernando II, os túneis começaram a ser escavados na rocha vulcânica sob as ruas de Nápoles, utilizando partes do sistema de aquedutos de Carmignano. Esse sistema, uma rede impressionante de túneis e cisternas com mais de 2 milhões de metros quadrados, datava do ano 600 d.C., quando foi construído pelos romanos.

O projeto foi confiado ao arquiteto Enrico Alvino e envolveu a passagem sob o Monte Echia (Montedidio), o Palazzo Largo (atual Piazza del Plebiscito) e a Via Pace (Via Morelli), onde havia uma base militar. Alguns túneis foram projetados para servir como rotas de fuga seguras e secretas para o rei em direção ao mar de Chiaia, enquanto outros permitiriam que as tropas se movimentassem rapidamente para defender o Palácio Real.

De acordo com as especificações do arquiteto, as galerias foram projetadas com largura suficiente para a passagem de uma carruagem real, tropas e cavalos. No entanto, o trabalho não foi concluído antes da queda do Reino das Duas Sicílias. Após a morte do rei em 1859, os túneis foram abandonados. Pouco tempo depois, a Sicília foi tomada por revolucionários e incorporada ao novo Reino da Itália.

Os túneis permaneceram abandonados até o início da década de 1930, quando foram utilizados como depósito para veículos apreendidos e contrabandos, dada a escassez de espaço na cidade congestionada. Durante a Segunda Guerra Mundial, o espaço subterrâneo foi convertido em um hospital militar e abrigo antiaéreo. Após o conflito, os túneis se tornaram um depósito de entulho, incluindo escombros de construção, móveis, eletrodomésticos danificados, veículos destruídos e até estátuas de mármore pró-fascistas.

Redescoberta e transformação

Por um período, as câmaras subterrâneas foram ocupadas por napolitanos que perderam suas casas devido aos bombardeios, vivendo ali por um tempo indeterminado. Posteriormente, os túneis foram selados novamente e caíram no esquecimento. Após sua redescoberta em 2005, um grupo de voluntários se dedicou à limpeza dos túneis.

Durante esse processo, encontraram-se fogões portáteis, jarros, latas enferrujadas, panelas enegrecidas, carrinhos de boneca destruídos, móveis mofados e outros objetos deixados por aqueles que tentaram transformar aquele espaço em um lar, apesar das condições de escuridão e umidade extremas.

Uma parte dos túneis foi aberta ao público em 2010, transformando-se na Galleria Borbonica, uma galeria onde os visitantes podem explorar os aquedutos da época romana, além de encontrar carros e motos dos anos 40, 50 e 60, bem como estátuas e vestígios da Segunda Guerra Mundial.

Crédito das fotos: www.galleriaborbonica.com

Artigo publicado originalmente em outubro de 2016

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