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O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece

O Festival Burning Man é um evento anual em Black Rock City, Nevada, caracterizado pela expressão artística, autossuficiência e uma efêmera cidade com participação ativa.

Durante uma semana, que se inicia na última segunda-feira de agosto e culmina na primeira segunda-feira de setembro, coincidindo com o fim do verão e o feriado do Dia do Trabalho americano, uma experiência singular aguarda qualquer pessoa disposta a explorar as possibilidades de uma praia única, localizada em meio ao deserto remoto, conhecida como Black Rock Desert.

Durante 358 dias do ano, essa região árida permanece desabitada, mas nos dias do evento, ela se transforma no palco do famoso festival Burning Man (homem em chamas), carinhosamente chamado de “playa” pelos participantes. O festival acontece no Lago Lahontan, um grande lago seco devido às mudanças climáticas do Pleistoceno, na região noroeste de Nevada.

O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece

O Burning Man é uma celebração única, onde uma efêmera cidade é erguida, tornando-se a quinta maior população temporária do estado de Nevada, nos Estados Unidos, ao longo dos nove dias de duração do evento. Este gigantesco acampamento assume a forma de uma lua crescente, com ruas nomeadas, praças e uma imponente estátua de madeira e neon representando o “homem”, que ocupa o espaço central. O clímax do festival ocorre na véspera do feriado, quando a monumental escultura é ritualisticamente queimada, marcando o encerramento deste extraordinário encontro cultural e artístico.

A cidade mais próxima do Black Rock Desert é Reno, situada a aproximadamente 200 quilômetros de distância. No entanto, essa distância não desencoraja os 68 mil participantes (conhecidos por Burners) que, anualmente, convergem para o evento Burning Man. Longe de ser uma típica colônia de férias, o ingresso para o festival é acompanhado por um termo de responsabilidade, no qual os participantes assumem conscientemente os riscos de possíveis ferimentos ou até mesmo de fatalidades durante a experiência.

O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece

Para dar uma noção dos desafios enfrentados pelos participantes, é importante mencionar que o calor no deserto durante o dia é escaldante, enquanto as noites são marcadas por um frio intenso. Além disso, as tempestades de areia são uma presença constante, adicionando uma camada adicional de desafio à vivência do Burning Man. Este evento extremamente desafiador e envolvente atrai indivíduos dispostos a enfrentar essas condições adversas em busca de uma experiência única e transformadora.

Na atmosfera única do Burning Man, os participantes mergulham em um cenário onde a expressão individual atinge seu auge. Nesse espetáculo peculiar, você encontrará pessoas despidas com corpos adornados, danças vibrantes, uma variedade de substâncias psicoativas, elaborados carros steampunk, barracas meticulosamente decoradas e instalações gigantescas. A diversidade e excentricidade alcançam níveis inimagináveis por centímetro quadrado, desafiando os limites do que um cérebro humano pode assimilar.

O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece

A proposta subjacente a toda essa exuberância é a promoção da liberdade de expressão, contudo, é praticamente impossível confinar o Burning Man a uma única definição. Algumas vozes o caracterizam como um festival pagão, outros o comparam a uma ressurgência do espírito de Woodstock dos anos 90, ou ainda, um evento hippie onde todas as fronteiras são abolidas. Há até mesmo quem o descreva como um campo de nudismo entremeado com um circo de singularidades habitado por indivíduos excêntricos.

No entanto, a verdadeira essência do Burning Man é o seu intento de se tornar um fenômeno populista propagado pela internet, muitas vezes considerado como um experimento social. Este evento ousado se apresenta como uma alternativa à cultura de massa e à sociedade consumista, desafiando normas e abrindo espaço para a autenticidade. O uso de drogas é casualmente referido como “candy” (doce), mas é comum ouvir a precaução sábia: “nunca aceitar doces de estranhos“.

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O resultado é uma sobrecarga sensorial, intensificada pelas escassas horas de sono inevitáveis. Como poderia alguém descansar com tantas experiências ocorrendo simultaneamente? Cada um dos milhares de acampamentos temáticos merece, no mínimo, uma visita de um dia. Em um local, você pode registrar seus desejos para o deus do fogo, enquanto em outro, fotografar seus genitais para a posteridade.

Pode-se controlar luzes cintilantes em um arco na areia, embarcar em um passeio de camelo, descansar em uma cama enquanto é puxado por uma mulher nua, carinhosamente chamada de “táxi”. A oportunidade de enviar mensagens para o espaço, dançar até o amanhecer, voar nu em um avião, participar de concursos de fantasias, oferecer ou receber massagens, suportar choques elétricos, integrar-se a diversas seitas, experimentar práticas alternativas, frequentar aulas, rituais e festas estão disponíveis a todos, sem a necessidade de qualquer transação monetária.

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A filosofia da doação e troca prevalece na “playa”, um oásis situado no coração do país mais consumista do planeta. A diversidade de atividades paralelas é verdadeiramente incontável, transformando o Burning Man em um fenômeno onde a imaginação é o único limite para a experiência singular de cada participante.

Outra atividade incrivelmente popular no Burning Man são os banhos nas piscinas naturais de águas quentes, conhecidas como Hot Springs, representando uma das poucas oportunidades para se refrescar no deserto. A proibição de venda e compra de itens é o que atrai o sueco Stefan Gustafsson ao evento a cada ano. Ele destaca que “o festival é extravagante, mas ao mesmo tempo, muito respeitoso. Não há espaço para violência ou brigas.

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Steven, um californiano de São Francisco, compartilha a sua perspectiva, enfatizando que andar de bicicleta nu pelo acampamento é uma das experiências mais fascinantes do evento. “É uma sensação de liberdade que só se encontra lá“, afirma. A atmosfera única do Burning Man, além de oferecer atividades extravagantes, parece criar um ambiente de respeito e harmonia, tornando-o um refúgio singular onde a liberdade pessoal é celebrada sem comprometer a paz e a segurança coletivas.

Outra atração de destaque é o “Templo”, um espaço dedicado à memória dos falecidos, um local desprovido de qualquer conotação religiosa. Este é um ambiente sagrado onde os participantes depositam pertences, fotos, textos e memórias de entes queridos e até mesmo de animais de estimação que partiram. O “Templo” se torna um refúgio emocional, oferecendo um momento de contemplação e reflexão para todos.

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Além disso, destaca-se o “Bianca’s Smut Shack“, uma grande tenda adornada com lençóis coloridos, repleta de sofás macios e almofadas. Uma pista de dança animada por DJs que se revezam 24 horas por dia, e garçons voluntários oferecendo sanduíches de queijo grelhado recém-preparados, acompanhados da afirmação carinhosa “Bianca te ama“. Este espaço efervescente proporciona uma atmosfera de celebração, promovendo a união e a expressão individual de maneiras verdadeiramente únicas.

Embora à primeira vista tudo possa parecer uma grande anarquia, o Burning Man é, na verdade, um evento meticulosamente organizado. Existem áreas distintas para acampamentos e para as variadas atividades, performances e workshops que ocorrem durante o festival. Surpreendentemente, até mesmo um aeroporto é montado na planície deserta, completo com controle de tráfego aéreo e todas as facilidades necessárias. Dentro do evento, a circulação de carros é estritamente proibida, promovendo um ambiente onde todos se deslocam a pé ou de bicicleta.

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Os ingressos para o Burning Man não são acessíveis a todos, com preços variados que podem atingir até mil dólares, embora sejam mais econômicos se adquiridos antecipadamente. Os organizadores, autodenominados “trolls”, trabalham incansavelmente ao longo do ano para arrecadar fundos.

Esses recursos são utilizados para proporcionar doações de comida, bebida, entretenimento e abrigo aos participantes do Burning Man. A justificativa para o preço mais elevado dos ingressos é direcionada para compensar e permitir a participação de indivíduos de baixa renda no evento. Essa abordagem solidária demonstra o comprometimento dos organizadores com a diversidade e inclusão no Burning Man.

A grande maioria das tarefas necessárias para manter essa cidade temporária em pleno funcionamento é realizada pelos próprios participantes, que se voluntariam em diversas áreas, como preservação da limpeza do deserto, serviços médicos, auxílio aos perdidos, transmissão em rádio própria, redação para jornais locais, acrobacias de circo, performances musicais para audiências intimistas, distribuição de bebidas, alimentos ou petiscos, reparo de bicicletas, entre outras atividades.

O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece

Atualmente, o Burning Man é organizado pela Burning Man Project, uma organização sem fins lucrativos que, em 2014, se transformou em uma empresa denominada Black Rock City, LLC. Esta última foi estabelecida em 1997 para representar a estrutura organizacional do evento.

O crescimento exponencial do Burning Man resultou na geração de eventos “filhotes”, inspirados nos princípios fundamentais do próprio festival. Essa expansão testemunha o impacto duradouro e a influência positiva exercida pelo Burning Man no cenário cultural contemporâneo.

O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece

Como tudo começou

O primeiro Burning Man ocorreu em Baker’s Beach, em 1986, na cidade de São Francisco. Larry Harvey e seu amigo Jerry James construíram uma estátua de madeira com oito metros de altura com o propósito de queimá-la. Naquela época, o evento contou com aproximadamente 35 espectadores. Apesar de um começo modesto, o Burning Man foi repetido anualmente e atraiu um número crescente de participantes.

Entretanto, em 1990, a polícia do parque impediu a queima da estátua, levando os organizadores a buscar um novo local. Em 1991, decidiram queimar o homem no deserto do Black Rock Desert. O evento foi um sucesso, com 350 participantes testemunhando a queima da imponente escultura de 13 metros de altura.

A escolha do deserto como local tornou-se crucial para o sucesso contínuo do Burning Man, proporcionando um espaço afastado da cidade, onde o evento poderia se desenvolver livremente, sem perturbar a sociedade tradicional. Essa mudança de cenário marcou o início de uma nova era para o Burning Man, consolidando sua identidade única e distinta. O ano de 2019 foi o de maior sucesso do festival, com quase 80 mil participantes.

Imagens acima são do Burning Man de 2015

Algumas imagens dos eventos anteriores

O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
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O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
Arte no Burning Manl em 2017
Arte no Burning Manl em 2017
O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
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O mundo louco do Burning Man: O festival onde tudo acontece
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Alguns veículos bizarros

Os carros bizarros do Burning Man
Os carros bizarros do Burning Man
Os carros bizarros do Burning Man
Os carros bizarros do Burning Man
Os carros bizarros do Burning Man
Os carros bizarros do Burning Man
Os carros bizarros do Burning Man

Edição de 2023

O Burning Man de 2023 teve como tema “Animalia”, uma celebração do mundo animal e nosso lugar nele. No entanto, os preparativos enfrentaram desafios consideráveis quando a tempestade tropical Hilary forçou os organizadores a fechar os portões do evento antes mesmo de seu início. Além disso, ativistas ambientais bloquearam a rodovia para o deserto de Black Rock, protestando contra aviões particulares, plásticos de uso único e o consumo excessivo de energia. Quatro pessoas foram presas durante os protestos.

Local enlameado do Burning Man em 2023

Durante o festival, uma caixa representando a Ucrânia devastada pela guerra, intitulada “Phoenix”, foi queimada. Antes de ser consumida pelas chamas, a caixa emitiu sons de explosões e sirenes de ataque aéreo, acompanhados por uma interpretação de música ucraniana por um cantor de ópera.

A participação no festival de 2023 custou US$ 575 por pessoa para um ingresso regular, e atraiu cerca de 66.000 pessoas, incluindo celebridades como o DJ Diplo, o comediante Chris Rock, a modelo sueca Kelly Gale e o ator Joel Kinnaman, também sueco.

Burning Man em 2023

Entretanto, o evento foi marcado por fortes chuvas que isolaram os participantes por vários dias, transformando a areia em lama. Somente no último dia do festival, quando o sol finalmente brilhou novamente, as estradas puderam ser reabertas, dando início ao processo de “êxodo”, quando os participantes deixaram a região.

A tempestade causou danos significativos às estruturas do festival, incluindo instalações artísticas e tendas de festas, muitas das quais foram destruídas. Alguns participantes tiveram que caminhar por horas durante a noite até a estrada mais próxima em busca de uma carona para deixar o local.

O Burning Man de 2023 não foi o primeiro a enfrentar obstáculos significativos. Nos anos anteriores, o festival foi realizado virtualmente devido à pandemia do coronavírus em 2020 e 2021, enquanto o evento de 2022 enfrentou condições extremas de calor e poeira.

Burning Man em 2023
Burning Man em 2023
Estrada congestionadas no Burning Man em 2023

Site oficial: www.burningman.com

Artigo publicado originalmente em setembro de 2015

Texto redigido e adaptado das seguintes fontes: 1 2 3

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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