Situada na vasta planície costeira a cerca de 30 quilômetros a sudoeste da pitoresca cidade de Almeira, na Espanha, encontra-se uma paisagem única que tem fascinado viajantes e agricultores desde 1980: o Campo de Dalías. Esta área, abrangendo os municípios de Dalías, Berja, El Ejido, entre outros, é reconhecida como a maior concentração de estufas do mundo, estendendo-se por uma impressionante extensão de 50.000 hectares.
As estufas, estruturas de plástico que pontilham o horizonte, criam um cenário singular onde a luz do sol é capturada e retida, gerando um microclima ideal para o florescimento da vegetação. Aqui, são cultivadas anualmente cerca de 1,5 milhões de toneladas de uma ampla variedade de vegetais e frutas, incluindo alfaces, tomates, pimentões, pepinos, abobrinhas e muito mais.
A economia da região é profundamente entrelaçada com a agricultura, com praticamente todas as atividades e recursos locais orbitando em torno desse setor vital. Mais do que um mero meio de subsistência, o cultivo nessas estufas impulsiona uma próspera indústria que transcende as fronteiras espanholas, fornecendo mais da metade do consumo de frutas e hortaliças da Europa.
Os benefícios financeiros desse empreendimento são igualmente impressionantes, com a província de Almeria recebendo uma impressionante receita anual de 1,5 bilhões de dólares. Essa imensa riqueza alimenta não apenas a economia local, mas também o bem-estar e a prosperidade de toda a região, consolidando o Campo de Dalías como um epicentro agrícola de renome mundial.
Há 35 anos, a paisagem do sudeste da Espanha era marcada pela pobreza e pela aridez, com a terra árida e desolada recebendo uma média anual de apenas 200 mm de chuva. Essa região, outrora retratada em filmes de faroeste spaghetti dos anos 1960 e 1970, tornou-se conhecida por sua semelhança com os desertos do oeste americano, oferecendo um cenário desolador e árido para as telonas.
No entanto, ao longo das décadas, uma transformação notável ocorreu, impulsionada pela importação de terra de outras regiões, pela introdução de cultivos hidropônicos e pelo uso extensivo de fertilizantes químicos aplicados por sistemas de gotejamento controlados por computador.
Essa metamorfose levou a região a se tornar uma das mais prósperas da Espanha, com milhares de pequenos agricultores e grandes empresas cultivando suas colheitas dentro de estufas plásticas. No entanto, o interior dessas estufas pode alcançar temperaturas superiores a 45º Celsius, criando um ambiente de trabalho desafiador e muitas vezes insalubre. Embora os trabalhadores espanhóis frequentemente expressem preocupação com as condições extremas, a grande maioria da mão de obra empregada nas estufas é composta por imigrantes legais e ilegais da África e da Europa Oriental.
Estima-se que cerca de 100 mil imigrantes estejam trabalhando na região, muitos deles sem os direitos trabalhistas básicos, o que ajuda as empresas a manterem sua rentabilidade. Infelizmente, relatos indicam que as condições de trabalho são precárias, com muitas fazendas carentes de instalações sanitárias adequadas e casos de mulheres sendo coagidas à prostituição. Além disso, alguns trabalhadores são submetidos a contratos de trabalho que exigem reembolso aos seus empregadores, criando um ciclo de exploração e vulnerabilidade.
Organizações como a Rede para a Promoção do Consumo Sustentável em Regiões da Europa têm denunciado as condições enfrentadas pelos trabalhadores agrícolas, destacando que eles recebem entre 33 e 36 euros por dia, o que está muito aquém de uma remuneração justa pelo trabalho árduo realizado nas estufas abrasadoras do sudeste da Espanha.
O vasto mar de estufas com seus telhados brancos em Almeria é tão impressionante que os cientistas da Universidade de Almeria descobriram um efeito notável: ao refletir a luz solar de volta para a atmosfera, essas estruturas contribuem para o resfriamento da província. Enquanto em outras partes da Espanha as temperaturas têm aumentado em taxas superiores à média mundial, a temperatura local tem apresentado uma queda média de 0,3 graus Celsius a cada 10 anos desde 1983.
O sucesso do cultivo em estufas é tão marcante que essas estruturas se espalharam pela planície de Dalías, avançando até mesmo pelos vales das pitorescas montanhas de Alpujarra nas proximidades, anteriormente uma das áreas mais intocadas e encantadoras da Espanha. Algumas pequenas cidades da região foram completamente transformadas pelo mar de fazendas de plástico branco que se estende por quilômetros.
Além do boom agrícola, a proliferação das estufas também deu origem a novos negócios, como fabricantes de plásticos e empresas de reciclagem, que se estabeleceram na região. No entanto, esse crescimento não vem sem custos, e o descarte inadequado de folhas de plástico e resíduos tem se tornado um problema ambiental crescente. Impulsionados pelo vento, esses resíduos acabam encontrando o caminho para os rios locais, representando um desafio para a preservação do meio ambiente na região.
Artigo publicado originalmente em setembro de 2016
Viajando pelo litoral da Espanha de Almeria a Málaga vimos as estufas e não sabia o que plantam ali. Obrigada pelo teu artigo.