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Central Park, o jardim da capital do mundo

Grandes cidades não são feitas apenas de edifícios modernos e avenidas movimentadas. Para compensar o ritmo frenético de seus dias, elas precisam ter um jardim, um pulmão – assim surgem os parques. Londres tem o Hyde Park, Paris tem o Bois de Boulogne e São Paulo tem o Ibirapuera. Nenhuma dessas belas e valiosas áreas verdes, contudo, consegue repetir o encanto e a importância do Central Park, no coração de Nova York. A maior cidade dos Estados Unidos, uma metrópole onde convivem centenas de povos e credos, tem cartões-postais clássicos, como o edifício Empire State e a Ponte de Brooklyn.

Mas é no Central, o parque retangular, que todos os seus habitantes igualam-se vivendo sob a ideia que melhor representa a cosmopolita cidade: liberdade de movimento. Caminhando, namorando, observando os animais, assistindo a um show, patinando ou apenas descansando ao sol sob as árvores centenárias e frondosas, é ali que, dia após dia, encontram-se em paz americanos e europeus, paquistaneses e porto-riquenhos, australianos e brasileiros, pretos e brancos, ricos e pobres. Um mundo à parte, natural e democrático, muito além da influência do trânsito caótico ou da arquitetura sofisticada das ruas vizinhas.

Central Park, o jardim da capital do mundo

Quem chega hoje ao parque não imagina a transformação pela qual a região passou nos últimos 160 anos. Em 1858, ano que Nova York não tinha mais do que umas poucas dezenas de ruas, a prefeitura pagou 5,5 milhões de dólares por uma área no miolo de Manhattan. O valor não condizia com as condições do terreno: ele era tão pantanoso que as fazendas dali só serviam para a criação de porcos. Mesmo assim, de fazendeiros irlandeses a jardineiros alemães, cerca de 1.600 pessoas foram desalojadas para que 20.000 operários começassem a construir o primeiro parque público americano.

No lugar dos brejos, o escritor e paisagista Frederick Law Olmsted e o arquiteto inglês Calvert Vaux (que criou mais tarde o Brooklyn’s Prospect Park) foram os vencedores do concurso de design “Greensward Plan” para melhoria e expansão do parque e projetaram uma paisagem pastoral ao melhor estilo romântico inglês. Seu alvo eram as famílias abastadas da cidade, que enfim ganhariam belas alamedas para seus passeios de carruagem. A construção começou naquele mesmo ano e continuou, durante a Guerra Civil Americana, sendo completada em 1873, a um custo equivalente hoje a mais de 200 milhões de dólares, o parque nasceu assim, restrito e elitista, principalmente para os mais pobres. Simples piqueniques, por exemplo, eram banidos e as crianças só podiam jogar beisebol com a autorização dos diretores de suas escolas.

Central Park, o jardim da capital do mundo

Hoje, tudo mudou, Um dos maiores segredos do sucesso do parque, no entanto, continua a ser sua fidelidade ao projeto original. Ele foi concebido para ser um modelo, pronto para ser copiado depois em outras cidades americanas. Por isso, nunca houve nenhuma drástica alteração em sua forma – perfeitamente retangular, numa área de 3,4 quilômetros quadrados (exatos 4.077 metros de comprimento por 833 metros de largura) – e no seu interior. A ideia principal dos arquitetos era fazer com que os visitantes, uma vez ali dentro, não pudesse jamais estar numa extremidade do parque e avistar o lado oposto. O único horizonte possível seria, sempre, o imenso mar de vegetação.

E deu certo, graças a um exemplar trabalho de paisagismo. Tanto que o Central Park pode ser entendido como um ecossistema inteiramente concebido pelo homem. Como ninguém quis preservar a natureza pantanosa original, cerca de 100 espécies de árvores foram trazidas de vários lugares de clima temperado do planeta. Elas vingaram sobre o solo drenado e, agora, 26.000 árvores abrigam 275 das 800 espécies de pássaros encontradas na América do Norte. Os turistas às vezes nem reparam em toda essas diversidade de fauna e flora, mas o parque tem grupos assíduos de pesquisadores informais. Como os observadores de pássaros, sempre equipados com potentes binóculos à procura de alguma espécie nova ou mais rara.

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Os frequentadores típicos do Central Park, no entanto, é bem diferente dos observadores da fauna. Quase todos estão lá apenas para descansar e divertir-se. Assim, o parque é conhecido por sua imensa variedade de opções de entretenimento. E aí está outro aspecto democrático: uma área de lazer para todo tipo de público em todas as estações do ano. Ali as pessoas podem caminhas, correr, cavalgar, andar de bicicleta, patinar (no gelo ou no asfalto), jogar xadrez, basquete, beisebol, futebol, tênis, escalar pedras, pescar, remar em botes, empinar pipas, assistir a peças de Shakespeare ou a shows de rock…Tudo isso e muito mais, como simplesmente deitar no Sheep Meadow ou no Great Lawn, os maiores gramados. Cerca de 50.000 pessoas frequentam o parque num feriado de verão. Ao todo, mais de 20 milhões de pessoas passam por lá ao longo do ano, fazendo do Central o parque urbano mais visitado dos Estados Unidos.

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Esse movimento incessante garante ao parque algumas pitorescas cenas cotidianas, símbolos da cultura nova-iorquina. Há casais de noivos sendo fotografados. Saxofonistas solitários esboçando um João Gilberto. E até um novo sucesso de Hollywood pode estar sendo filmado ao lado de alguém pedalando uma bicicleta do século passado. Nenhuma atividade dali, no entanto, é mais emblemática do que a Maratona de Nova York. No começo da década de 70, as primeiras edições da famosa corrida eram disputadas em quatro voltas completas ao redor do parque. Com o aumento no número de participantes, os organizadores da prova precisaram mudar seu trajeto, mas, por tradição, o trecho final foi mantido ali dentro. Ano após ano, 30.000 corredores de vários países chegam com disposição para correr até a linha de chegada, ao lado do Tavern on the Green, um dos dois únicos restaurantes do parque.

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Não é preciso suar tanto para aprender sobre a vida e a história do Central. Dois centros voltados para a educação ambiental, o Belvedere Castle e o Charles A. Dana Discovery, organizam passeios entre jardins e lagos, além de palestras sobre geografia e ecologia. Uma exposição permanente de mostras de fauna, flora e minerais é mantida no Observatório do Belvedere Castle. Há ainda dois zoológicos dentro do parque, que chegam a exibir babuínos, ursos polares e leões-marinhos. No Lago Harlem Meer, várias espécies de peixe são preservadas graças a um sistema de controle da qualidade da água. Ao redor do lago fica uma trilha de três quilômetros que passa por pontos estratégicos, onde podem ser observados pássaros e plantas.

Esse oásis no meio da confusão da metrópole, é colorido e agradável na primavera, verde e quente no verão, dourado no outono e gelado e inóspido com a neve do inverno. Uma mudança que, de certa forma, expressa em suas cores a velocidade e a vibração do cotidiano de Nova York, a capital do mundo.

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O parque foi designado, em 15 de outubro de 1966, um distrito do Registro Nacional de Lugares Históricos, bem como, em 23 de maio de 1963, um Marco Histórico Nacional. É atualmente gerido pelo Central Park Conservancy sob contrato com a prefeitura da cidade. O Central Park Conservancy é uma organização sem fins lucrativos que contribui com 83,5% da verba anual do parque (que totalizam 37,5 milhões de dólares por ano) e emprega 80,7% da equipe de manutenção do parque.

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Texto adaptado do original publicado na revista Os caminhos da Terra, janeiro de 1999, edição 81

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“Tudo o que o homem não conhece não existe para ele. Por isso, o mundo tem para cada um o tamanho que abrange o seu conhecimento”. – Carlos Bernardo González Pecotche

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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