Chefchaouen é uma encantadora cidade com cerca de 40.000 habitantes, situada no nordeste do Marrocos, nas proximidades do Mar Mediterrâneo, e é a capital da província de mesmo nome. Estrategicamente localizada no coração da deslumbrante região montanhosa de Rif, Chaouen, carinhosamente chamada de “xauã” pelos locais, se destaca como um verdadeiro deleite para os turistas.
O charme irresistível da cidade se revela não apenas em suas acomodações acessíveis, mas também na sua pitoresca localização, aninhada nas majestosas montanhas de Rif. As casas, pintadas de branco, criam uma atmosfera única, mas é a predominância dos tons suaves de azul que confere a Chefchaouen sua identidade marcante.
Os visitantes são cativados pela autenticidade e pela beleza serena desta cidade marroquina, onde as ruas estreitas e sinuosas oferecem a cada esquina uma visão deslumbrante. Chefchaouen é verdadeiramente um refúgio encantador, onde a cultura local se entrelaça harmoniosamente com a deslumbrante paisagem natural, proporcionando uma experiência memorável para todos os que têm o privilégio de explorar suas ruelas tranquilas e suas vistas de tirar o fôlego.
A cidade foi fundada em 1471 por Mulay Alí Ben Rachid, que construiu uma pequena fortaleza (Casbá) que ainda hoje existe no local. Graças às suas características de reduto nas montanhas de difícil acesso, dominava a rota mercantil entre as cidades de Tetuan e Fez e serviu como base para combater o avanço dos portugueses em Marrocos, que tinham acabado de conquistar Arzila e Tânger.
Durante o século 17 a cidade prosperou e cresceu de forma considerável com a chegada dos mouriscos e Sefarditas (judeus da Espanha) que foram expulsos da Espanha. Até hoje o distrito Andaluz é um dos mais populares de Medina, como é chamada a cidade velha. Devido à presença do túmulo do santo sufista Moulay Abdeslam Ben Mchich Alami (1140-1227), a cidade era considerado um local sagrado, tendo estado proibida, sob pena de morte, a entrada forasteiros não muçulmanos durante vários séculos, uma situação que só terminaria com integração efetiva da região no protetorado espanhol na década de 1920.
No intervalo entre os séculos 16 e 20, há registros de apenas três visitantes europeus notáveis à cidade. O pioneiro foi o missionário e explorador francês Charles de Foucauld, que, de forma discreta, passou meramente uma hora na cidade, disfarçado como um rabino.
A segunda presença europeia digna de nota foi a do jornalista inglês Walter Harris, renomado autor de diversas obras de viagens sobre Marrocos. Em 1889, movido por um impulso que ele mesmo descreve em sua obra “Land of an African Sultan” (“Terra de um Sultão Africano”), Harris visitou Chefchaouen, motivado pelo desafio representado pela distância de trinta horas a cavalo de Tânger, uma cidade onde a presença de um cristão era considerada uma impossibilidade.
A estadia de Harris na cidade quase custou-lhe a vida, quando os habitantes locais perceberam a presença de um “cão cristão“. Contrastando com essa experiência perigosa, o missionário americano William Summers não teve a mesma sorte em 1892, pois acabou sendo envenenado pelos moradores locais. Esses relatos históricos adicionam camadas fascinantes à rica tapeçaria da história de Chefchaouen, destacando os desafios enfrentados pelos primeiros visitantes europeus e a complexidade das interações culturais na região.
O nome Chefchaouen ou Chaouen, na língua do povo Barbere (um dos povos mais antigos do continente africano), refere-se à forma dos cumes das montanhas acima da cidade, que se parecem com os dois chifres (chaoua) de uma cabra. A cidade é um destino popular de compras, uma vez que oferece muitos artesanatos indígenas que não estão disponíveis em outros lugares de Marrocos, como tecidos, roupas de lã e cobertores.
O queijo de cabra da região também é muito procurado pelos turistas. Na cidade velha (Medina), a graça é se perder entre infinitas vielas e escadarias azuladas, além de admirar as portas ornamentadas que decoram a fachada de muitas residências. Na praça principal da cidade, a Uta al-Hamman, é possível encontrar lojinhas de presentes, restaurantes e degustar o famoso chá com menta marroquino.
Outra razão pela qual muitos amam a cidade, é a facilidade de conseguir drogas. O turismo em Chaouen é impulsionado por sua reputação como centro da região na plantação de maconha, no Norte de Marrocos. Haxixe pode ser comprado facilmente em qualquer lugar da cidade, mas a predominância é mesmo da Chaouenis nativa, apelido dado a maconha na cidade.
Na área, também é comum cruzar com marroquinos usando a “djellaba”, uma peça de roupa com capuz que cobre o corpo inteiro e os faz parecer com magos saídos de um episódio do Senhor dos Anéis. Mas nada que surpreenda: é uma moda que combina totalmente com o cenário surreal de Chefchaouen. Durante o verão cerca de duzentos hotéis atendem ao afluxo de turistas europeus.
Já as paredes azuis de Chefchaouen são um assunto polêmico, já que existem várias teorias a respeito de porque a mania das pessoas de pintar paredes, muros, escadarias e outras partes de tonalidade azul lavado. Uma teoria popular é que o azul mantém os mosquitos longe, outra é que os que os judeus introduziram a cor azul quando se refugiaram, fugindo do nazismo da Alemanha nas décadas de 1930/40.
A cor seria uma referência ao azul que tingia objetos sagrados no Velho Testamento e serviria como uma lembrança constante do poder de Deus. Há outra versão que diz que eles simplesmente queriam reproduzir a visão do paraíso em sua nova morada. O azul também serve como um lembrete para se levar uma vida mais espiritual. Muitos membros da comunidade judaica partiram da cidade com o tempo, mas a tradição é mantida viva até hoje, se que os judeus tenham mesmo alguma coisa a ver com a cor predominante na cidade.
Artigo publicado originalmente em abril de 2016
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