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Cinto de castidade na Idade Média

Cinto de castidade na Idade Média
Xilogravura alemã do século 16

O cinto de castidade é um acessório metálico, projetado para ser ajustado ao corpo, envolvendo os órgãos genitais e trancado ao redor da cintura por cadeado, de modo a frustrar, limitar ou restringir a atividade sexual, que se diz ter sido usado frequentemente na Idade Média. Ao mesmo tempo, o cinto não impede a realização de outras funções fisiológicas, para que a sua utilização por períodos longos ou até indeterminados seja viável.

Os cintos de castidades podem ter sido usados de forma voluntária com a finalidade de proteção contra estupro, para evitar doenças, infidelidade ou ainda para eliminar a possibilidade de o usuário cair na tentação e pecar dentro de preceitos cristãos, e se auto flagelar dentro de um contexto religioso rigoroso. Também podem ter sido usados de forma obrigatória, com o intuito de torturar fisicamente ou psicologicamente inocentes, para intimidar, punir, coagir ou para obter falsas confissões.

De acordo com Albrecht Classen, em seu livro “The Medieval Chastity Belt: A Myth-Making Process” (O Cinto de Castidade Medieval: O Processo de Criar Um Mito), os cintos de castidades foram mencionados pela primeira vez, em um tratado sobre máquinas de guerra chamado Bellifortis, escrito pelo engenheiro e artista alemão Konrad Kyeser em 1405, em que dizia que inicialmente eram descritos como uma brincadeira, mas que se tornaram um tema popular e satírico na época. Alguns pesquisadores consideram o uso de cinto de castidade na Idade Média um mito e que sua origem data do início do século 19.

Cinto de castidade na Idade Média

Há alguns registros de uso de dispositivos de castidade no Japão e Índia feitos de cordas e complexas amarrações. Não há registros de cintos masculinos naquela época, apenas existiam modelos femininos, sempre usados como forma severa de opressão sexual contra atos de traição a seus cônjuges. A submissão feminina ao cinto não era sempre consensual e havia um viés religioso intrínseco ao uso do aparato. O seu uso era compulsório, bastante desagradável e degradante à mulher, porém era justificado como forma de dominação, mortificação ou para evitar infidelidades, estupros ou o conceito cristão de “pecado da carne” e a “queda ao inferno“. A mulher escondia o cinto de castidade da sociedade da época por debaixo das volumosas saias e vestimentas para evitar embaraço ou zombaria.

A invenção do cinto de castidade feminino representava uma possibilidade de controle à distância e garantia de posse, em uma sociedade bastante primitiva nas questões das liberdades individuais e direitos da mulher e do homem. Não é de se espantar que na mesma época a prática da escravidão fosse aceita pela sociedade, religião dominante e era praticada amplamente nas colônias como forma de exploração da mão de obra de negros e nativos.

Cinto de castidade na Idade Média
Desenho de um cinto de castidade, descrito num tratado sobre máquinas de guerra chamado Bellifortis, pelo engenheiro e artista alemão Konrad Kyeser em 1405

Naquela época a abstinência sexual voluntária ou negação do prazer foi considerada como pureza, um tipo de virtude desejável (hoje em dia em algumas culturas e situações esse conceito permanece). O prazer sexual feminino e masculino, liberdade sexual em muitos lugares, inclusive em algumas regiões do Brasil, é visto ainda como um tabu ou violação de preceitos de pureza ou rebeldia contra os fundamentos basilares da cultura judaico-cristã. O conceito do “pecado original” e a mitológica “queda de Adão” estão intimamente correlacionados com a bíblica “descoberta do conhecimento do bem e do mal“.

O prazer sexual feminino é tabu, ou seja, a mulher foi pretensamente a “causadora de todo o mal“, pois, segundo a mitologia judaico-cristã, “detém o poder da sedução, recebendo a culpa por atentar contra a pureza da criação“. Dessa forma, o uso do cinto, poderia ser justificado e tornado obrigatório e não poderia ser contestado, caso fosse requerido. Não cabia ao homem se educar, conter os seus instintos e desejos sexuais, mas a mulher deveria ser tolhida e se sacrificar para evitar a consumação de atos considerados “libidinosos”.

Cinto de castidade na Idade Média
A ilustração de um cinto de castidade num medalhão, por volta de 1500

Além de garantir a “virgindade” de forma cruel, o uso do cinto pretensamente “evitava” a disseminação de doenças venéreas, gravidez, estupro e a masturbação. Provavelmente o uso do cinto de castidade também se tornou uma forma de castigo, uma punição para mulheres adúlteras, excessivamente libidinosas ou por pura crueldade ou até por sadismo pervertido. De qualquer forma o uso de cintos foi aceito socialmente como uma forma de controle feminino, com aval religioso e aceitação em conventos, mosteiros e outras instituições religiosas e sociais.

Cinto de castidade na Idade Média

Segundo estatísticas recentes, cerca de trinta mil homens vão trabalhar trancados em seus cintos de castidade masculinos, no Reino Unido todos os dias, segundo o jornal The Guardian. Dessa forma, o uso atual é muito mais difundidos do que em séculos passados, e curiosamente, se tornou predominantemente masculino. Embora ainda existam diversos modelos femininos disponíveis para aquisição. O homem se submete ao cinto espontaneamente, deixando para sua companheira, guardiã das chaves, a decisão sobre quando, como e onde ocorrerá atividade sexual (ereção, penetração e gozo).

Há várias possibilidades para justificar a aceitação masculina do cinto de castidade, dentre elas está a busca de uma nova forma de se relacionar com a companheira, romantismo, qualidade na relação sexual, busca de uma técnica de acúmulo de sêmen para incrementar a potência do orgasmo, entrega e até altruísmo nos casos onde a companheira esteja impossibilitada por qualquer motivo.

Cinto de castidade na Idade Média

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Cinto de castidade na Idade Média
Cinto de castidade francês

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Cinto de castidade na Idade Média
Ilustração de 1590

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“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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