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Cristo Redentor, o símbolo do Brasil

A estátua do Cristo Redentor, ícone emblemático do Rio de Janeiro, conquistou o coração dos moradores e foi aclamada como a “Maravilha do Rio”. Esta majestosa obra de arte art déco representa Jesus Cristo com os braços abertos e está estrategicamente situada no topo do morro do Corcovado, elevando-se a 709 metros acima do nível do mar, no Parque Nacional da Tijuca. Do alto, proporciona uma vista deslumbrante da maior parte da cidade do Rio de Janeiro.

Em 2007, a estátua foi informalmente eleita como uma das sete maravilhas do mundo moderno, destacando sua relevância global e impacto duradouro. Além disso, em 2012, a UNESCO reconheceu o Cristo Redentor como parte integrante da paisagem carioca, incorporando-o à lista de Patrimônio da Humanidade. Essa distinção consolida a importância cultural e histórica dessa impressionante obra arquitetônica, que continua a atrair admiradores de todo o mundo.

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Crédito da foto

O Monte Corcovado teve seus primeiros registros cartográficos no século 16, sendo denominado “Pináculo” ou “Pico da Tentação”. Essa nomenclatura possivelmente derivou da iniciativa do cartógrafo florentino Américo Vespúcio, aludindo a uma passagem bíblica em que o diabo tentava Cristo no topo de uma rocha. No século 18, o monte recebeu o nome “Corcovado” devido à sua semelhança com uma corcova. Há também a sugestão de que a origem possa estar relacionada a uma possível corruptela da frase em latim “cor quo vado”, que significa “coração para onde vou?”.

Em 1859, o padre lazarista francês Pierre-Marie Boss, ao contemplar a vista do Monte Corcovado da Igreja do Colégio da Imaculada Conceição, teve a inspiração de construir um monumento em seu topo. A assinatura da abolição da escravatura pela Princesa Isabel, em 1888, foi um momento crucial na história do Brasil. Conhecendo a ideia do padre Boss de erigir um monumento na montanha, a Princesa expressou sua preferência por uma estátua do Sagrado Coração de Jesus, considerado por ela o “verdadeiro redentor dos homens”.

Apesar de um decreto de construção ter sido promulgado, a iniciativa não foi adiante devido à proclamação da república em 1889, que resultou na separação entre a igreja e o Estado. Essa história ilustra a complexidade e as influências históricas que moldaram a trajetória do Cristo Redentor no Monte Corcovado.

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Ao invés da estátua, a decisão foi tomar um caminho diferente: a construção de uma estrada de ferro que levaria até o topo do Corcovado, um local que crescia em popularidade. Dessa forma, D. Pedro II decretou a construção da Estrada de Ferro do Corcovado, marcando um marco significativo como a primeira ferrovia exclusivamente turística do Brasil.

Em 1884, foi inaugurada a Estrada de Ferro do Corcovado, um evento de grande destaque na cidade. A primeira viagem entre as estações Cosme Velho e Paineiras marcou o início dessa nova era. Um ano após a inauguração, foi concluído o último trecho entre Paineiras e o topo do Corcovado. No cume, foi erguido um pavilhão circular de ferro, conhecido como “Chapéu de Sol”, proporcionando aos visitantes a oportunidade de apreciar a deslumbrante vista panorâmica da região. Esse desenvolvimento não apenas facilitou o acesso ao local, mas também transformou o Corcovado em um destino turístico acessível e imperdível na cidade.

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Em 1920, em preparação para o centenário da independência do Brasil, o Círculo Católico enfrentou a decisão crucial de escolher o local para o tão aguardado monumento proposto pelo padre Boss. As opções em consideração eram o Morro de Santo Antônio, o Pão de Açúcar e o Morro do Corcovado.

A associação religiosa iniciou um abaixo-assinado que recebeu o apoio de mais de 20 mil assinaturas. Este documento foi entregue ao presidente Epitácio Pessoa, que, em resposta, doou o terreno para a construção e lançou a pedra fundamental em 4 de abril de 1922. Paralelamente, a Arquidiocese do Rio de Janeiro organizou a “Semana do Monumento” em 1923 para coletar assinaturas de apoio e doações para o projeto.

Num concurso, o projeto vencedor foi o do engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa. Inicialmente, o projeto propunha a imagem de Jesus Cristo segurando uma cruz na mão esquerda e um globo na mão direita, popularmente apelidado de “Cristo da bola” pelos cariocas. No entanto, esse desenho enfrentou críticas.

Ao observar as imponentes antenas de radiotelefonia sobre o Corcovado, que estabeleciam a primeira linha de comunicação entre o Brasil e os Estados Unidos, Heitor da Silva Costa teve a brilhante ideia de criar uma imagem em que o corpo do Cristo formasse uma cruz, com o tronco ereto e os braços abertos, resultando na icônica representação atual do Cristo Redentor.

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Os desenhos do projeto de Heitor da Silva Costa foram habilmente executados pelo pintor Carlos Oswald, enquanto o escultor art déco Maximiliam Paul Landowsky dedicou seu talento à criação da cabeça e das mãos da estátua. Em 1929, uma nova campanha de arrecadação estava sendo organizada, e Dom Sebastião Leme solicitou a Heitor da Silva Costa que incorporasse o Sagrado Coração de Jesus à estátua. Como resultado, um discreto coração foi esculpido no peito do Monumento, sendo esta a única parte interna revestida de pedra-sabão.

O Monumento ao Cristo Redentor foi inteiramente construído no Brasil, representando um edifício de treze andares. No entanto, apenas a cabeça e as mãos foram moldadas em tamanho real em Paris, chegando ao Brasil em dezenas de partes numeradas, com 50 partes destinadas à cabeça e 8 às mãos, para facilitar a montagem no local. Esse processo meticuloso e colaborativo envolveu talentos de diversas partes do mundo para dar vida a uma das maiores e mais reconhecíveis obras arquitetônicas e esculturais do Brasil.

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Ao visitar a recém-inaugurada Galerie Arcades no Champs-Élysées, em Paris, em 1927, Heitor da Silva Costa ficou impressionado com uma deslumbrante fonte revestida de mosaico prateado. A maneira como os pequenos tacos se adaptavam às curvaturas da fonte inspirou sua visão para o Cristo Redentor. Observando a natureza ao seu redor, Heitor decidiu utilizar a pedra-sabão como revestimento para a estátua.

A pedra-sabão, além de ser bela, mostrou-se maleável, resistente à erosão e abundante no Brasil. As peças foram cuidadosamente cortadas em milhares de triângulos, fixadas à mão sobre um tecido e, posteriormente, aplicadas na estátua. Durante o processo de fixação, as senhoras da sociedade aproveitaram a oportunidade para escrever os nomes de seus familiares no verso dos triângulos de pedra-sabão. Esse toque personalizado e artístico adicionou um elemento especial à construção do monumento, representando não apenas uma conquista arquitetônica, mas também uma conexão única com a comunidade local.

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A construção do Cristo Redentor, realizada entre 1922 e 1931, demandou nove anos de esforços e teve um custo equivalente a 250 mil dólares, o que seria cerca de 3,3 milhões de dólares em valores de 2014. O monumento foi solenemente inaugurado em 12 de outubro de 1931, coincidindo com o dia de Nossa Senhora Aparecida. Durante a cerimônia de inauguração, uma bateria de holofotes iluminou a estátua, sendo acionada remotamente pelo pioneiro da rádio de ondas curtas, Guglielmo Marconi, que estava a impressionantes 9.200 quilômetros de distância, em Roma, na Itália.

Na ocasião, Dom Sebastião Leme abençoou o Monumento com as palavras: “Cristo vence! Cristo reina! Cristo impera! Cristo proteja de todo o mal o seu Brasil!”. O local rapidamente se tornou uma atração fundamental da cidade, levando à construção, em 1942, de uma estrada asfaltada para facilitar o acesso de veículos até o topo do morro. No mesmo ano, o antigo mirante Chapéu do Sol, talvez já esquecido, foi demolido, consolidando ainda mais a presença imponente e icônica do Cristo Redentor no cenário carioca.

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O Cristo Redentor é uma monumental obra construída com concreto armado e pedra-sabão. Com uma altura de trinta metros, excluindo os oito metros do pedestal, seus imponentes braços se estendem por 28 metros de largura, ocupando cada um uma área de 88 metros quadrados. Os pés da estátua medem 1,35 metros. Com um peso total de 1145 toneladas, o Cristo Redentor é a terceira maior escultura de Cristo no mundo, superada apenas pela Estátua de Cristo Rei de Swiebodzi, na Polônia (a maior escultura de Cristo no mundo), e pela de Cristo de la Concordia, na Bolívia (a segunda maior escultura de Cristo no mundo).

Projetada para resistir a ventos de até 250 quilômetros por hora, a construção da estátua envolveu um processo complexo. Todo o material, incluindo blocos de cimento e peças de ferro, foi transportado a uma altura de 300 metros pelos trens da Estrada de Ferro do Corcovado, que permaneceram abertos aos passageiros durante a obra. A montagem ocorreu meticulosamente, peça por peça, do topo da cabeça do Cristo até seus pés.

Em 1990, um importante trabalho de restauração foi realizado por meio de uma colaboração entre diversas organizações, como a Arquidiocese do Rio de Janeiro, a empresa de mídia Rede Globo, a companhia petrolífera Shell do Brasil, o regulador ambiental Ibama, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o governo municipal do Rio de Janeiro. Essa iniciativa preservou e manteve a grandiosidade desta notável obra arquitetônica e escultural.

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Em 2003, significativas melhorias foram implementadas na estátua e nos seus arredores com a instalação de um conjunto de escadas rolantes, passarelas e elevadores, visando facilitar o acesso à plataforma em torno da estátua. Posteriormente, em 2010, uma restauração abrangente da estátua foi realizada.

Durante esse processo, o monumento foi lavado, a argamassa e a pedra-sabão que revestiam a estátua foram substituídas, a estrutura interna de ferro passou por restauração e a estátua foi tornada à prova d’água. No entanto, um incidente lamentável ocorreu durante a restauração, quando um dos braços foi alvo de vandalismo, sendo pichado.

A restauração em 2010 foi uma empreitada significativa que mobilizou cem pessoas e utilizou mais de 60 mil pedaços de pedra retirados da mesma pedreira que fornecera o material para a estátua original. Durante a inauguração da restauração, a estátua foi iluminada em verde-amarelo em apoio à Seleção Brasileira de Futebol, que estava competindo na Copa do Mundo FIFA de 2010, adicionando um toque de patriotismo ao evento. Essa restauração não apenas preservou a integridade da estátua, mas também reafirmou seu papel como um símbolo duradouro da cultura e identidade brasileiras.

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A estátua do Cristo Redentor enfrentou desafios naturais ao longo dos anos. Em 10 de fevereiro de 2008, durante uma tempestade violenta, a estátua foi atingida por um raio, resultando em danos nos dedos, cabeça e sobrancelhas. Em resposta, o governo do estado do Rio de Janeiro implementou um esforço de restauração, substituindo algumas das camadas exteriores de pedra-sabão e reparando os para-raios instalados na estátua. Infelizmente, o monumento foi novamente atingido por um raio em 17 de janeiro de 2014, resultando na destruição de um dedo na mão direita.

Além dos riscos causados por raios, a estátua está sujeita a fortes ventos e erosão, o que torna essencial a realização de trabalhos periódicos de manutenção. A pedra-sabão original, de tonalidade pálida, tornou-se escassa em quantidades suficientes, levando à utilização de pedras substitutas em tons mais escuros. A manutenção constante é crucial para preservar não apenas a aparência estética da estátua, mas também sua integridade estrutural diante dos elementos naturais desafiadores a que está exposta.

Cristo Redentor, o símbolo do Brasil
A cabeça da estátua foi trazida de trem ao topo do morro e montada separadamente | Crédito da foto

Sem dúvida, a estátua do Cristo Redentor é um dos símbolos mais emblemáticos não apenas do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil. A lista de personalidades que já visitaram o Cristo Redentor inclui nomes de grande importância. O presidente americano Barack Obama e sua família exploraram o local em março de 2011. O príncipe Charles e a princesa Diana também conheceram o monumento em abril de 1991. Além disso, o Papa João Paulo II visitou o Cristo Redentor em junho de 1980.

O Cristo Redentor é um destino turístico icônico, atraindo mais de 2 milhões de visitantes a cada ano. Sua presença majestosa e as vistas panorâmicas deslumbrantes que oferece fazem dele não apenas uma atração turística notável, mas também um local que transcende fronteiras, sendo reconhecido internacionalmente como um símbolo de fé, cultura e beleza.

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Plantas originais
Cristo Redentor, o símbolo do Brasil
Cristo Redentor em construção em 1931 | Crédito da foto
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Chapéu do Sol, mirante que ficava no alto do morro do Corcovado até a construção do Cristo Redentor | Crédito da foto
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Site oficial: www.cristoredentoroficial.com.br

Fontes: 1 2 3 4

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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