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Dogon, o povo das estrelas que vive nas escarpas Bandiagara

No sudoeste de Mali, na África, a cerca de 200 quilômetros ao sul da cidade de Timbuktu, um abismo de 300 metros de profundidade formado pelas escarpas Bandiagara é a porta de entrada para a terra do povo Dogon. Essas falésias se estende por cerca de 150 quilômetros e é considerada pela UNESCO como “uma paisagem de falésias e planaltos arenosos com uma bela arquitetura“. O local de Bandiagara é considerado um dos mais impressionantes da África Ocidental, devido às suas características geológicas e arqueológicas, bem como à sua importância etnológica.

Dogon, o povo das estrelas que vive nas escarpas Bandiagara
Crédito da foto

O lugar é habitado há pelo menos 2.000 anos e desde os últimos quinhentos anos, foi o lar do grupo étnico conhecido como Dogon. Antes de migrarem para essa áreas, de sua terra natal no que hoje é Burkina Faso e Gana, os dogons de características pacíficas eram frequentemente atacados por grupos jihadistas islâmicos vizinhos. Homens, mulheres e crianças eram mortos e muitos foram capturados e levados por traficantes de escravos.

Por volta do século 15 ou provavelmente antes, os dogons começaram a chegar a esta região e se estabeleceram nos penhascos de Bandiagara aproveitando o refúgio natural do penhascos como defesa contra potenciais invasores, e a proximidade do rio Níger possibilitando acesso a água permitiu a continuidade deste povo. Até 1946, a civilização Dogon foi o último grupo de pessoas a viver sob o domínio colonialista francês.

Porque tinham mantido suas próprias crenças e práticas religiosas, sendo considerado pelos franceses branco um dos maiores exemplos da “selvageria primitiva”, conhecido no mundo naquele momento. Os africanos muçulmanos tinham dificuldades para entender o sistema de crença Dogon.

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Quando chegaram na área, encontraram a escarpa já habitada pelos pigmeus de cor avermelhada da tribo Tellem (“aqueles que foram antes de nós” vocábulo dos Dogon). Os tellens construíram moradias em volta da base da escarpa e cavaram túmulos no alto da face do penhasco. A localização aparentemente impossível de ser acessado a essas cavernas e túmulos, fizeram os dogons acreditarem que o povo Tellem ‘poderiam voar‘.

Inicialmente, os dogons compartilharam a escarpa com os tellens, mas gradualmente os pigmeus foram sendo expulsos, até desaparecer da área. Acreditasse que o povo Tellem tenha migrado para uma região mais distante, em Burkina Faso. Muitas das moradias e estruturas dos tellens foram deixadas para trás e sobreviveram por séculos e ainda são visíveis na área. Algumas estruturas dos tellens, mas notavelmente os celeiros, ainda são usados pelo povo Dogon.

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O primeiro assentamento dos dogons foi estabelecido no extremo sudoeste da escarpa. Com o tempo, os dogons se mudaram para o norte ao longo da escarpa, sobre o planalto e as planícies do Seno-Gondo, indo posteriormente para o sudeste. Atualmente, a “Terra dos Dogons” abrange mais de 400.000 hectares e inclui quase trezentas aldeias espalhadas ao longo do comprimento da Escarpa Bandiagara. Suas aldeias estão geralmente localizadas no planalto do topo ou no sopé das falésias, sob as estruturas mais antigas dos tellens, na face do penhasco.

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Os dogons eram desconhecidos pela comunidade científica até o início da década de 1930, quando um jovem antropólogo francês chamado Marcel Griaule, acompanhado de Germaine Dieterlen embarcaram em uma viagem de pesquisa que durou quinze anos pela África Ocidental. Depois de anos questionando os anciãos dogons sobre sua cultura e religião, Griaule conseguiu finalmente que o povo lhe deixasse entrevistar um caçador dogon cego chamado Ogotemmeli, que ensinou a Griaule as tradições seculares de seu povo da mesma forma em que o ancião tinha aprendido com seu pai e avô.

Mais tarde, tais relatos se transformaram em um livro intitulado “Conversas com Ogotemmeli“, que colocou em cheque, todas as ideias que havia sobre a mentalidade africana e das pessoas primitivas em geral e tornou o povo Dogon uma das mais complexas e originais sociedades do mundo.

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Apesar do cristianismo e islamismo terem se espalhado pela região ao longo dos anos, os valores ancestrais e a integração harmoniosa de elementos culturais permanecem autênticos e únicos. Entre este, está um culto dos mortos cujo objetivo é reorganizar as forças espirituais perturbadas pela morte de Nommo, antepassado mitológico de grande importância para os Dogon.

Os membros do culto dançam Awa e ornamentam se com máscaras esculpidas e pintadas em ambas as cerimônias fúnebres e aniversário de morte. Existem 78 tipos diferentes de máscaras de ritual entre os Dogon e suas mensagens iconográficas vão além da estética, no reino da religião e filosofia. O objetivo principal das cerimônias de dança Awa é conduzir as almas dos mortos ao seu lugar de descanso final nos altares da família e consagrar a sua passagem para as fileiras dos antepassados.

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Em torno de vinte dançarinos mascarados vestidos com roupas amarelas e vermelhas, alguns usados pernas de paus que chegam a seis metros de altura executam a dança recheada de mistérios, acompanhados pelos líderes e membros da sociedade de caçadores. Os integrantes são todos homens, uma vez que apenas pessoas do sexo masculino e já iniciadas têm permissão para participar do ritual.

A coreografia exige grande técnica dos bailarinos, cada um com uma coreografia específica conforme sua máscara, num lugar que consideram sagrado. Cada máscara possui um significado que serve para conectar o mundo do Sol e da Terra, onde a vida e a morte se encontram. A Escarpa Bandiagara e a cultura Dogon atraem hoje um grande número de turistas para o Mali a cada ano.

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Conhecimento das estrelas e matemática

O povo Dogon tem deixado os cientistas e pesquisadores abismados e sem respostas há anos, devido aos seus conhecimentos profundos em astronomia, medicina, arquitetura, filosofia, psicologia, matemática, geometria, música, entre outros. Para ter acesso ao conhecimento seria necessário uma iniciação e aprender uma língua diferente que o povo usa no dia a dia. Essa segunda língua é rítmica e secreta (Sigi So), apenas conhecida por certas pessoas e usadas em casos específicos em cerimônias e rituais.

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Celeiros com telhado de palha em um vila Dogon parcialmente abandonada na escarpa de Bandiagara, em Mali | Crédito da foto

Um dos maiores mistérios da civilização Dogon está no seu conhecimento das estrelas (tolo), planetas (tolo gonoza) e satélites (tons de tolo) e sua tradição astronômica remonta pelo menos 5.000 anos. Os sumos sacerdotes já tinham conhecimento profundo dos astros, incluindo Sirius, bem antes de serem detectados pelos telescópios modernos.

Ao contrário de alguns cientistas modernos que acreditam na exclusividade da humanidade, os dogons falam de numerosos mundos habitados por vários seres, onde, na opinião deles, a vida começou com plantas. Eles também acreditam em sua origem extraterrestre e que seus ancestrais são alienígenas da estrela Sirius.

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Restaurando celeiros | Crédito da foto: Fondation Dogon Education

Os dogons acreditam que deuses (Nommos) vieram de um planeta do sistema Sirius, há 5 ou 6 mil anos. Na linguagem dogons, Nommos significa associado à água; bebendo o essencial. Segundo as lendas, os anfíbios Nommos viviam na água e os dogons referem-se a eles como senhores da água. A arte Dogon, sempre mostra os Nommos parte humanos, parte répteis.

Lembram o semideus anfíbio Oannes dos relatos babilônicos e o seu equivalente sumério Enki. Os textos religiosos de muitos povos antigos referem-se aos pais de suas civilizações com seres procedentes de algum lugar diferente da Terra. Coletivamente, isso é interpretado por algumas pessoas como a prova da existência de vida extraterrestre que estabeleceu contato com o nosso planeta em um passado distante.

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Para os dogons, toda a criação está vinculada à estrela que eles chamam de Po Tolo, que significa estrela semente. Esse nome vem da minúscula semente chamada de fonio, que em botânica é conhecida como Digitaria exilis. Com a diminuta semente, os dogons referem-se ao inicio de todas as coisas.

Segundo eles, a criação começou nessa estrela, qualificada pela astronomia como anã branca, e que os astrônomos modernos chamam de Sirius B, a companheira muito menor da brilhante Sirius A, da constelação Cão Maior. A existência de Sirius B só foi verificada através de cálculos matemáticos realizados por Friedrich Bessel em 1844 e identificado como uma anã branca, em 1915.

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Celeiros e casas Dogon | Crédito da foto: Fondation Dogon Education

Esta estrela leva 50 anos para ir ao redor de Sirius e comemoram este evento a cada 50 anos na festa de “Sigui” para regenerar o mundo. O calendário Dogon é completamente não tradicional em que o seu ciclo de cinquenta anos não se baseia na rotação da Terra em torno do Sol (como é o nosso calendário Juliano), nem os ciclos da Lua (um calendário lunar). Em vez disso, os centros dogons de cultura se baseiam em torno do ciclo de rotação de Sirius B, que circunda a principal estrela Sirius A, a cada 49,9 – ou 50 anos.

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A profusão de detalhes astronômicos que os dogons possuem é assustadora. Por exemplo; sabem que a Po Tolo tem uma enorme densidade, totalmente desproporcional ao seu reduzido tamanho e acreditam que isso deve-se à presença do sagala, um metal extremamente duro e desconhecido na Terra. Isso confirma o que os cientista dizem sobre as anãs brancas, que embora pequenas tenham uma densidade incrível.

As tradições orais ensinam que há milhares de anos a Terra gira em torno do Sol e que Júpiter tem quatro satélites principais e Saturno tem anéis, e as estrelas são corpos em movimento perpétuo. Eles também sabiam que a lua é um planeta morto de natureza deserta e infecunda. Por gerações, os sacerdotes ensinam que a Via Láctea é animado por um movimento em espiral, que participa no nosso sistema solar.

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Em 1950, Marcel Griaule declarou que a Sirius B, embora absolutamente invisíveis a olho nu, foi durante séculos a espinha dorsal da cosmologia celeste dos Dogon. O autor Robert Temple descreve o Nommo como seres anfíbios enviados para a Terra do sistema estelar de Sirius para o benefício da humanidade. Eles se parecem com tritões, sereias e mermens. Estes estrangeiros supostamente vieram do sistema estelar de Sirius. A nave mergulhou do céu e aportou em algum lugar a noroeste da pátria dos Dogon.

Mas, o que é realmente assustador é o conhecimento que dizem ter sobre o terceiro astro do sistema Sirius, descoberto apenas recentemente pelos astrônomos, já que possui um tamanho irrelevante perto dos dois outros astros do sistema, e por isso levou quase meio século para ser descoberto. Os dogons chamam este terceiro corpo de Emme Ya, ou Mulher Sorgo (um cereal) e dizem que é uma estrela pequena com apenas um planeta em sua órbita, ou um grande planeta com um grande satélite. Os cientistas chamam esta estrela de Sirius C.

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Crédito da foto:

A mitologia Dogon é baseada em uma unidade dualizada – ou uma uni-dualidade original – representada por uma infinitamente pequena forma de vida átomo (kize uzi), que se transforma no ovo do mundo (ADUNO talu), de onde o cosmos vem. Este átomo é simbolizado na terra, na semente da Digitaria exilis. Segundo a mitologia é conhecido como Po, e o Supremo Criador do Universo, Amma, fez o universo inteiro explodir um único grão de fonio, localizado no interior do ovo “do mundo”, teoria muito parecida com do Big Ben.

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Os pesquisadores afirmam que os conhecimentos sobre o sistema Sirius dos dogons possuem milhares de anos, e tem a seu favor as provas históricas. Supõe-se que os dogons são remotos descendentes dos gregos que colonizaram a parte da África que atualmente constitui a Líbia. O historiador romano Heródoto os chama de Garamantianos, de Garamas, o folho de Gaia, a deusa grega da terra. Os elementos da tradição grega são muito parecidos à preocupação dos dogons com os números.

Além disso, durante a sua permanência na Líbia, aqueles gregos expatriados poderiam ter adquirido alguns conhecimentos dos seus vizinhos, os antigos egípcios. Séculos de lenta emigração para o sul levaram os dogons ao rio Níger, onde se estabeleceram e se misturaram com os habitantes negros locais. Segundo o historiador do século 20, Robert Graves, os últimos restos dessa errante tribo estão agora em uma aldeias chamada Koromantse, também chamada Korienze, a 75 quilômetros de distância de Bandiagara.

Fontes: 1 2 3

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