Animais & Natureza

Enguia-lobo, o marido ideal

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Enguia-lobo, o marido ideal

Um dos animais marinhos que mais assustam os mergulhadores são as enguias-lobos (Anarrhichthys ocellatus) pela sua aparência agressiva, porém essa aparência assustadora esconde a docilidade de um dos mais fiéis amantes do fundo do mar. São criaturas de hábitos pacíficos e tolerantes, a ponto de aprenderem, com o tempo, a confiar e aceitar a companhia de humanos em seu reino aquático.

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Ao contrário da maioria dos peixes, enguias-lobos não têm escamas, apenas uma pele de couro macio. Superficialmente, sua aparência é semelhante à de uma enguia, embora possuam nadadeiras peitorais em forma de remo e outras características específicas que fazem delas representantes da família dos peixes-lobos. Uma pequena estirpe de seres robustos e alongados, que inclui espécies como o peixe-lobo do Atlântico e o exótico “gato-geléia” da Europa, dono de enormes dentes e de nadadeiras dorsais sustentados por espinhos.

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Como o primo europeu, as enguias-lobos da costa do Pacífico também são dotadas de mandíbulas poderosas. Os caninos, porém, ficam localizados na parte da frente da boca, enquanto os molares se alinham, em cima e embaixo, por toda a extensão dos maxilares. É com eles que os alimentos são triturados, e nem mesmo conchas escapam ilesas à força dessas prensas.

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Nos machos, o tamanho do corpo pode superar os 2 metros de comprimento, mas não muito: o maior encontrado tinha 2,4 metros. Em compensação, suas cores são variadíssimas, mais interessante, mudam de acordo com a idade do animal. Jovens, com até 75 centímetros de comprimento, normalmente são alaranjados, salpicados com círculos marrons. À medida que vão amadurecendo, a pele começa a puxar para o cinza e as manchas marrons do corpo se tornam escuras, ao mesmo tempo que as da cabeça desaparecem.

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Macho e fêmea podem ser reconhecidos igualmente pelo tamanho e formato da cabeça. Além de maior, a cabeça do macho costuma ser arredondada, a boca com lábios carnudos, queixada proeminente e, para completar, um calombo entre os olhos que mais parece um narigão. Tem ainda feridas, em geral de aspecto repulsivo, por toda a fronte, resultado de brigas territoriais com outros valentes. Já a fêmea possui a cabeça mais angular e o queixo não se destaca do rosto. Ela é menor e raramente alcança 2 metros.

O macho é comprido e afinado como as enguias. Do mesmo modo que elas, não tem escamas e possui uma nadadeira ao longo da cauda. Com tantas semelhanças, é natural que a classificação popular confunda os dois animais e costume chamá-lo de enguia-elétrica.

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Muitos mitos e pouca verdade sobre eles

Durante muitos anos, as enguias-lobos foram tidas como animais de hábitos devassos, machos perseguidos fêmeas em busca de prazer e não de companhia. Mas, como sempre acontece com reputações baseadas em noções superficiais, isso tem pouco a ver coma realidade. Observações metódicas em aquário ou de mergulhadores naturalistas mudaram as que tinham.

Hoje, sabe-se que, na idade adulta, o macho faz gênero do marido ideal: gosta de ficar em casa, é um companheiro inseparável e fiel, e os casais podem morar junto anos a fio. O que não é pouco, para um espécie cuja longevidade média é estimada entre dez e quinze anos, embora não se saiba com segurança quando tempo eles vivem e alguns pesquisadores defendam a tese de que possam sobreviver duas ou mais décadas.

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A defesa do Território é tarefa dos machos

Tamanha estabilidade conjugal, porém, talvez ajude a explicar o apego que enguias-lobo têm por seu quintal, vivendo na mesma toca por muitos e muitos anos. E com certeza vêm desse sedentarismo as violentíssimas batalhas entre machos adultos nas disputas territoriais: intrusos ou posseiros nunca são perdoados. Para muitos estudiosos, o couro macio, os calombos entre os olhos e mesmo as mandíbulas salientes seriam adaptações morfológicas a uma vida de guerreiro, obrigado a combates constantes.

É lógico que estas últimas são importantíssimas também para outra tarefa vital: saciar uma gula irrefreável. Fazendo bom uso de seus poderosos dentes e mandíbulas, enguias-lobos são capazes de estraçalhar com apenas uma dentada refeições bem embaladas, envoltas por resistentes couraças ou pontiagudos espinhos, como mariscos, caranguejos, caracóis e ouriços. Não é à toa que, para encontrar a toca dos casais, a primeira coisa que se procura coisa que se procura são locais com montes de cacos de conchas espalhados pelo chão. Nisso, aliás, ela lembram muito seus vizinhos, os polvos.

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No inverno, a vida familiar se transforma. Chega a época da cria e a fêmea põe mais de 10 000 ovos dentro da caverna, todos envoltos por uma massa protetora esbranquiçada e disforme. Para aninhar a futura cria, a mãe costuma abraçá-la com o corpo, fazendo pequenos movimentos, de tempos de água. Nessa época, os machos também revela todo seu companheirismo: muitas vezes, eles envolvem a parceira com o corpo, mantendo apenas a cabeça junto à entrada da toca para poder expulsar intrusos. Mergulhadores já viram esses guardiões deixarem sua casa, pegar com os dentes estrelas-do-mar desavisadas e levá-las, vivas, para longe.

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Os ovos levam pelo menos quatro meses para eclodir, e nesse processo a dedicação dos pais será, mais uma vez, essencial, pois eles ajudam os filhotes, ora tocando levemente as cassas para rompê-las, ora sugando a massa que as envolve. O resultado são pequeníssimos seres, medindo entre 30 e 35 milímetros, que vêm ao mundo marcados pelo destino para enfrentar um árduo caminho até a maturidade. O primeiro instinto dos recém-nascidos é nadar rápido em direção à superfície, onde ficarão boiando ao sabor da corrente por cerca de seis meses. Dotados de afiados caninos, os microscópicos jovens de pigmentação alaranjada perseguirão com voracidade larvas de peixes e crustáceos para se alimentar e, bem nutridos, podem chegar aos 30 centímetros de comprimento.

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Depois desse longo período de desenvolvimento, os que escaparem à sanha dos predadores maiores retornarão ao fundo do oceano, onde demorarão algum tempo para se adaptar ao tortuoso ambiente das pedras e, finalmente, encontrar uma gruta para se instalar. Na vida adulta, são poucos os inimigos naturais que cruzam o caminho das enguias-lobos. Os principais deles, focas, leões-marinhos e, óbvio, o homem. Na juventude, no entanto, acabam devorados aos montes como iguarias por incontáveis peixes.

Vivem sempre em meio às formações rochosas

Distribuídos numa extensa faixa que liga o Mar do Japão à costa oeste do continente americano, as enguias-lobos parecem ser maleáveis na escolha do habitat. Algumas foram capturadas em profundidades de mais de 200 metros, embora em geral elas sejam encontrados nas águas rasas, em meio a formações rochosas e cavernas submarinas.

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Texto publicado originalmente em 10 de abril de 2015

Fonte: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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