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Fortaleza de Mimoyecques, a base secreta dos nazistas para destruir Londres

Após o bombardeio de Berlim em 25 de agosto de 1940, Hitler decidiu atacar Londres primeiro, abandonando os objetivos militares já planejados. É um ponto de virada na guerra porque a cidade não tinha importância militar e estratégica. Enquanto Hitler estava atacando Londres, as forças aliadas tiveram tempo para se recuperar.

Ilustração da Fortaleza de Mimoyecques

Os V-1 e V-2 (Vergeltungswaffe ou Arma de Vingança) lançados no final da guerra destinavam-se apenas a chegar a Londres e não tinham função militar. Essas aeronaves não tripuladas (V-1) e foguetes (V-2) tinham muito poucos explosivos para serem eficazes. Houve muitas mortes, mas um único bombardeiro carregava muitas bombas que tinha dez vezes mais explosivos do que um único foguete alemão.

Em agosto de 1943, Hitler aprovou o início dos trabalhos na construção de um complexo de bunkers, escavado numa colina de calcário, para abrigar uma bateria de super armas V-3 que tinha o objetivo de reduzir Londres a escombros, durante a Segunda Guerra Mundial.

A estrutura conhecida como Fortaleza de Mimoyecques, também chamada de “O Canhão de Londres” tinha originalmente o codinome de Wiese (colina) ou Bauvorhaben 711 (projeto de construção 711), e está localizado no município de Landrethun-le-Nord, na região de Pas-de-Calais, a cerca de 20 quilômetros de Boulogne-sur-Mer, no norte França.

Um foguete V-2 abandonado

Deste complexo, os foguetes V-3, cujo desenvolvimento ainda não havia sido concluído, seriam lançados para atacar Londres por sobre o Canal da Mancha. Para poderem atingir à Inglaterra, eram necessários enormes canhões de 140 metros de comprimento, que não podiam ser movidos, e portanto, precisavam de um local fixo para ser instalados.

O super canhão tinha o princípio de multi cargas, onde cargas explosivas secundárias eram aplicadas sobre o projétil já em movimento para aumentar sua velocidade. O V-3, também ficou conhecido como o Hochdruckpumpe (literalmente “Bomba de alta pressão”, HDP), que era um codinome destinado a esconder o verdadeiro propósito do projeto. Foi também conhecido como Fleissiges Lieschen (“Lizzie ocupada”).

O local escolhido está localizado a uma altitude de 158 metros acima do mar e a uma distância de 165 quilômetros de Londres. O complexo possui uma intrincada rede de túneis, cuja construção começou em setembro de 1943. Um mês depois, os silos inclinados que abrigariam os canhões capazes de disparar o V-3 foram escavados. Depois de finalizados, as baterias seriam capazes de lançar dez projéteis por minuto, cerca de 600 por hora, sobre a capital britânica.

O projeto original consistia em dois complexos separados aproximadamente um quilômetro de cada, com cinco silos que abrigaria, cinco grandes canhões. Ambas as instalações seriam ligadas por uma linha férrea subterrânea, conectada na parte externa com a estrada principal entre Calais e Boulogne-sur-Mer.

A ferrovia seguiriam 630 metros por um túnel debaixo da montanha, até a plataforma de descarga, da qual haveria dez galerias cruzadas dispostas perpendicularmente ao túnel principal a intervalos de 24 metros. Cada uma dessas galerias abrigava um ramal ferroviário que servia para transportar os projéteis até o local de lançamento. Os V-3 seriam armazenados em galerias escavadas a 33 metros abaixo da colina.

As armas tinham uma inclinação de 50 graus e chegavam a uma profundidade de 105 metros. Na superfície, uma laje de concreto com cinco metros e meio de espessura protegeria a estrutura, com aberturas para a saída dos projeteis protegidas por grandes placas de aço.

Cada uma das armas estava disposta e direcionada em um ângulo que marcada em linha reta de impacto a ponte de Westminster, em Londres. As obras na construção do complexo funcionaram 24 horas por dia e envolveram mais de cinco mil trabalhadores, principalmente prisioneiros soviéticos que eram forçados a trabalhar, bem como, engenheiros alemães de diferentes empresas e 430 mineiros da região de Ruhr.

Entrada da fortaleza na França

Na época da construção, os Aliados não tinham conhecimento do desenvolvimento do V-3, mas identificaram o local como uma possível base de lançamento para os mísseis balísticos V-2. Bombardeiros foram enviados para destruir o local. No entanto o bunker provou ser impermeável às bombas aliadas.

Todo o complexo estava em fase de conclusão, quando em 6 de julho de 1944, bombardeiros ingleses do 617º Esquadrão da Royal Air Force lançaram três bombas Tallboys, de 5,4 toneladas para destruir a estrutura, criando uma cratera de impacto de 24 metros de profundidade e 30 metros de largura, fazendo os alemães interromperem a construção, de modo que, apenas o complexo Leste chegou a ser concluído, mas nunca usado.

Uma réplica de como seriam utilizados os túneis diagonais

O colapso dos túneis e galerias durante o bombardeio aprisionou cerca de 300 alemães e trabalhadores escravos no interior da montanha, sepultando seus corpos. Em 30 de julho, Hitler ordenou o abandono definitivo da construção. No entanto, os Aliados não tinham conhecimento da retirada alemã e continuaram atacando a fortaleza, mesmo com bombardeiros B-24, controlados por rádio. Em um desses ataques, o piloto americano Joseph P. Kennedy Jr., irmão mais velho do futuro presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, morreu, durante a Operação Afrodite.

Em 5 de setembro de 1944, a fortaleza foi tomada pela Terceira Divisão de Infantaria do Canadá. Apenas seis meses depois, em março de 1945, uma comissão de especialista militares chefiada pelo coronel Terence Sanders, os britânicos conseguiram compreender o verdadeiro propósito da estrutura e descobriram a existência do V-3.

Winston Churchill ordenou sua demolição por completo, para evitar qualquer tentativa de uso futuro da arma, embora a demolição só tenha sido parcialmente realizada. Charles de Gaulle, comandante das Forças Francesas não havia sido informado sobre o assunto e considerou uma violação da soberania nacional francesa. Se o projeto fosse completado com sucesso, o bombardeio de Londres seria, segundo Winston Churchill, “o ataque mais devastador que Londres poderia ter sofrido“.

Nos anos seguintes, o complexo em mãos particulares foi usado, inicialmente em 1969 como uma fazenda de cogumelos e, mais tarde, em 1984, como um museu. Em 2010, foi adquirido por uma organização de conservação da natureza e reaberto sob a administração do museu La Coupole, uma antiga base de foguetes V-2 perto de Saint-Omer. Na estrutura se pode contemplar uma exposição sobre a história dos protótipos V e até visitar alguns dos túneis. Há também memoriais para os soldados aliados e trabalhadores forçados que morreram lá.

Vista aérea do local
Esquema de como o centro de Londres seria atacado a partir da Fortaleza de Mimoyecques
Esquema de uma das estruturas
Simulação em 3D de como seria a fortaleza concluída vista na superfície
Vista aérea da região após os bombardeios dos Aliados

Site Oficial do complexo

Fontes: 1 2 3

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