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Hail Cannon, guerra contra o clima

A influência do homem na natureza é cada vez maior, procurando no decorrer dos anos, aumentar o seu raio de ação para o campo das condições meteorológicas e desde que os homens abandonaram a vida nômade e começaram a cultivar seus próprios alimentos, eles têm tentado influenciar o clima. Isso às vezes, significava simplesmente agradar os deuses do tempo, oferecendo orações, danças e sacrifícios, uma prática que continuou por milhares de anos e que em alguns lugares continua até hoje. No século 18, começaram a planejar medidas mais drásticas no sentido de mudar o clima e um dos primeiros dispositivos testados foi o “Hail Cannon“, que significa literalmente, canhão de granizo.

O canhão de granizo é um dispositivo em forma de funil que supostamente interrompem a formação do granizo, por ondas de choque. Uma mistura explosiva de oxigênio e gás de acetileno é inflamado na câmara inferior do aparelho. À medida que a explosão resultante passa através da garganta e para dentro do cone, desenvolve uma onda de choque, o qual, em seguida, desloca-se a velocidade do som através das formações das nuvens. Acredita-se que a onda de choque interrompe a fase de crescimento das pedras de granizo.

Canhões de granizo no 3º Congresso Internacional sobre Hail Shooting realizada em Lyon, em 1901
Canhões de granizo no 3º Congresso Internacional sobre Hail Shooting realizada em Lyon, em 1901 | Crédito da foto

O dispositivo é disparado repetidamente a cada 4 segundos durante o período de quando a tempestade se aproxima e até que tenha passado através da área. O que de outra forma teria caído como granizo, cai como chuva ou neve derretida. Diz-se ser fundamental que a máquina esteja funcionando durante a aproximação da tempestade, a fim de afetar o desenvolvimento do granizo. Dependendo do tamanho, um único canhão de granizo pode proteger uma grande área de terras agrícolas.

Canhões de granizo foram utilizados pela primeira vez em meados do século 19 pelos italianos. Eles dispararam pequenos canhões, usando a pólvora como matéria-prima em nuvens que ameaçavam seus pomares e vinhas. Atualmente, a empresa Mike Eggers Ltd, um fabricante de Nova Zelândia é o principal fornecedor de canhões de granizo para os Estados Unidos. Estas máquinas são vendidos por até US $ 50.000 por unidade e dão cobertura ao longo de um raio de 500 metros. A eficácia dos canhões de granizo é inconclusiva. Os agricultores que os utilizam, juram que funcionam, enquanto outros alegam que o trovão também cria ondas de choque muito mais poderosas, mas elas não perturbam a formação do granizo. Os meteorologistas também discordam da ciência por trás do canhão de granizo ou a falta dela.

O meteorologista Steve Johnson explicou ao canal de televisão Fox News, que a única maneira de suprimir o granizo é por nucleação de gelo. “Se você injetar uma quantidade de cristais de gelo na área de nascimento da tempestade, eles vão absorver água, impedindo a formação do granizo e você terá mais chuva caindo do que grandes tempestades de granizo”, explicou. As nuvens apresentam na sua constituição pequenas gotas de água, que só se podem agrupar para formar gotas de chuva se existirem núcleos nas nuvens. Os núcleos são pequenas partículas onde as gotas de água colidem entre si de modo a formarem gota de chuva, num fenômeno designado por coalescência. Os cristais de gelo que podem atuar como núcleos para a precipitação deveria formar-se a 0ºC, contudo, devido ao sobre arrefecimento só se formam a -10ºC. Para promover artificialmente a formação destes cristais de gelo, é disperso pelas nuvens gelo seco granulado, nome pelo qual é conhecido o dióxido de carbono sólido. Posteriormente, este dióxido de carbono sólido vai converter-se em dióxido de carbono gasoso por sublimação. Este processo envolve a absorção de calor vizinhança o que tem como consequência a diminuição da temperatura nas nuvens e consequente formação de cristais de gelo que poderão induzir a queda de chuva.

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Canhão de granizo em Banska Stiavnica, na Eslováquia, provavelmente projetado por Julius Sokol | Crédito da foto

O primeiro canhão de granizo testado em 1896 foi construído sobre este mesmo princípio da nucleação de gelo. A ideia foi lançada pela primeira vez em 1880 por um professor italiano de mineralogia que afirmou que a formação de granizo poderiam ser evitadas através da injeção de partículas de fumo, através de canhões disparados contra trovoadas. O primeiro teste foi realizado na Áustria pelo austríaco M. Albert Stinger em conjunto com um famoso produtor de vinho. O austríaco construiu um tubo em forma de funil semelhante a um megafone na vertical com cerca de 2 metros de altura. Quando acionado, produzia grandes anéis de fumaça que subia a mais de 300 metros. Stinger construiu vários desses canhões e testou-os ao longo de um período de dois anos durante os quais ele observou a ausência de tempestades de granizo nas áreas de estudos. A invenção do austríaco se espalhou pela Europa, especialmente na Itália, onde os vinicultores sofriam grande perda devido as tempestades de granizo. Em 1899, havia 2.000 canhões de granizo operando somente na Itália e no final de 1900, o número cresceu para 10.000.

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Um dos grande canhões de granizo do passado |Crédito da foto

Por anos acreditou-se que os canhões eram uma excelente arma contra a formação de granizo e sempre que eles não conseguiam bons resultados, era atribuído de que foram usados de forma inadequada. Infelizmente, quando muitas plantações, supostamente protegidas pelos canhões foram perdidas durante grandes ondas de tempestades de granizo que ocorreram entre 1902-1904, muitos agricultores começaram a duvidar de sua eficiência. Em 1905, a grande maioria desses canhões foram deixados de lado ou demolidos.

Após ficarem no esquecimento até meados do século 20, devido as duvidas de que realmente funcionavam, eles começaram a serem usados novamente nos Estados Unidos no final de 1940. De alguma forma, canhões de granizo voltaram a serem utilizados, não só na agricultura, mas também na proteção de outras áreas. A Nissan, fabricante de automóveis, emprega canhões de granizo em sua fábrica no Mississippi para proteger cerca de 12.000 veículos novos estacionados nos pátios e a empresa acredita na eficácia dos canhões. A montadora alega que na área da fabrica onde os canhões atuavam não havia incidência de granizo, já sobre a cobertura da fabrica, onde não era protegido, a chuva de granizo ocorria. Os cientistas acreditam que canhões de granizo não funcionam em tudo, mas é difícil refuta-los  porque o próprio tempo é imprevisível.

Esta ilustração de um canhão granizo apareceu em um jornal francês cerca de 1900
Ilustração de um canhão de granizo em um jornal francês em 1900 | Crédito da foto
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Fontes: 1 2 3

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