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Isótopos: A loja de produtos radioativos da extinta URSS

A narrativa do século XX está permeada de experimentos com substâncias radioativas, enquanto a humanidade buscava controlar a energia atômica para propósitos militares e pacíficos. Algumas dessas iniciativas eram tão extraordinárias para os padrões contemporâneos que podem ser consideradas quase absurdas. Um exemplo notável é a possibilidade, na época, de adquirir substâncias radioativas no centro de Moscou por meio de uma loja especializada.

Essa loja, chamada sugestivamente de “Isótopos”, estava situada nas proximidades do centro da cidade, na Leninsky Perspectiva. Sua finalidade não era apenas evidente pela placa indicativa, mas também por um chamativo anúncio em néon na fachada do edifício, onde uma representação de um átomo acompanhava inscrições em três idiomas: francês, russo e inglês, proclamando “Átomo para a paz” e “Átomo para a paz”.

A inauguração da loja foi diretamente influenciada pela descoberta do físico francês Frederic Joliot-Curie, que em 1934 demonstrou que era possível criar radioatividade de forma autônoma, obtendo isótopos inexistentes na natureza. Esses isótopos, embora retivessem a radioatividade por um breve período, podiam ser controlados. Essas características permitiram que ganhassem destaque nas indústrias e na medicina, e até influenciassem a arte. O processo evoluiu rapidamente; cerca de cinquenta novos isótopos foram descobertos no ano seguinte.

A aplicação desses isótopos estendeu-se por quase todas as indústrias de maneiras que, nos dias de hoje, parecem verdadeiramente fantásticas: monitoraram o desgaste de altos-fornos, aceleraram o crescimento de batatas, marcaram objetos de arte valiosos e até contribuíram para o diagnóstico de úlceras estomacais. Portanto, não é surpreendente que em algum momento, no coração da capital de uma das superpotências, tenha surgido uma loja que comercializava esses isótopos universais. A inauguração desse estabelecimento peculiar ocorreu durante o “degelo” de Khrushchev, em 1959.

Para ser imparcial, é importante destacar que a ‘Isótopos’ não podia ser considerada uma loja convencional. A venda de reagentes não era totalmente livre; apenas aqueles que realmente necessitavam deles podiam adquiri-los. Para evitar transações indevidas, os vendedores solicitavam “um documento que comprovasse a preparação sanitária dos consumidores para receber, armazenar e manusear os produtos especificados”. Isso resultava em professores universitários, pesquisadores e indivíduos autorizados a trabalhar com tais substâncias como os principais compradores desse produto peculiar.

No entanto, isso não implicava em controles de entrada rigorosos; o interior da loja assemelhava-se a uma fusão entre uma exposição de museu e um showroom, tornando a visita uma experiência fascinante para explorar o “Universo do Átomo Pacífico”. Os vendedores não eram simples comerciantes; apenas indivíduos com conhecimento em física nuclear podiam ocupar esse cargo. Além disso, as mercadorias eram entregues à loja sob a supervisão estrita do Ministério da Defesa da URSS.

Pode-se ter a impressão de que a loja tinha um futuro promissor, mas, na realidade, nem tudo era tão otimista. Problemas como escassez, interrupções no fornecimento e dificuldades na manipulação de substâncias perigosas revelaram as deficiências inerentes ao sistema econômico soviético na área de vendas de isótopos.

Consequentemente, a loja logo passou a operar exclusivamente para exportação. No final da década de 1980, próximo ao colapso da URSS, diversas empresas privadas iniciaram a comercialização de isótopos no exterior, uma tendência que persistiu após 1991. A loja incomum de Moscou encerrou suas atividades, deixando apenas algumas fotografias atmosféricas como lembrança.

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