Histórias

La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2

La Coupole foi uma instalação militar alemã construída durante a Segunda Guerra Mundial, localizada na França, perto da vila de Helfaut. Foi projetada para ser um local de produção e lançamento de mísseis V-2, uma das primeiras armas balísticas usadas na guerra.

No departamento de Pas-de-Calais, no norte da França, perto da comuna de Helfaut e Wizernes, está localizado um grande bunker nazista construído durante a Segunda Guerra Mundial. A característica mais proeminente deste complexo de bunker é uma imensa cúpula de concreto, da qual o complexo deriva seu nome – La Coupole, ou “The Dome” em inglês.

La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2

La Coupole, chamado pelos alemães de “Bauvorhaben 21, Schotterwerk Nord West“, foi construído para servir como base de lançamento para foguetes V-2 dirigidos contra Londres, a 188 quilômetros de distância e também o sul da Inglaterra. É o mais antigo precursor conhecido dos modernos silos de mísseis subterrâneos ainda existentes.

O V-2 foi uma arma revolucionária. Foi o primeiro míssil balístico guiado de longo alcance do mundo movido por um motor de foguete de propelente líquido. O foguete foi desenvolvido como retaliação aos bombardeios aliados contra cidades alemãs, embora o programa V-2 tivesse começado em 1936, bem antes do início da guerra.

La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
Reconstrução do octógono em Wizernes

Com catorze metros de altura, o foguete de 12,5 toneladas era alimentado principalmente por oxigênio líquido (LOX) e etanol. A Alemanha estimou que precisaria de um grande número de foguetes V-2 e, correspondentemente, grandes quantidades de combustível, se pretendesse tirar a Grã-Bretanha da guerra.

Isso significava que a Alemanha precisava aumentar a produção de oxigênio líquido e, se possível, construir novos locais de produção próximos aos locais de lançamento de mísseis para reduzir a perda de propelente por evaporação.

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Imagem de satélite da área com a cúpula indicada pela seta. Foto: Google Maps

Os locais de lançamento também precisavam ser próximos ao Canal da Mancha no norte da França e na Bélgica, ou nas costas do Mar do Norte ou no oeste da Holanda, porque os mísseis V-2 eram de curto alcance. O exército alemão queria usar baterias de disparo móveis, em vez de locais fixos de lançamento, porque eram menos vulneráveis a ataques.

Mas Adolf Hitler, que gostava de estruturas imensas e grandiosas, ordenou a construção de um enorme bunker – uma estrutura semelhante a um monólito agora conhecida como Blockhaus d’Éperlecques – na Floresta de Éperlecques perto de Watten, ao norte de Saint-Omer.

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Mas um bunker do tamanho do Blockhaus d’Éperlecques era difícil de esconder. Logo o reconhecimento Aliado o localizou e, em agosto de 1943, 187 bombardeiros B-17 destruíram o local de construção antes que pudesse ser concluído. Uma parte remanescente foi reutilizada pelos alemães como uma unidade de produção de oxigênio líquido.

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A perda do Blockhaus d’Éperlecques forçou o exército alemão a procurar um local alternativo para um local de lançamento. O exército já havia tomado posse de uma velha pedreira em Wizernes, a sudoeste de Saint-Omer e cerca de doze quilômetros ao sul do bunker destruído. A pedreira estava sendo transformada em um depósito de armazenamento de mísseis onde os V-2 seriam alojados em túneis escavados na encosta, antes de serem transportados para o lançamento.

Hitler ordenou que essa antiga pedreira fosse convertida em um vasto complexo subterrâneo à prova de bombas com túneis para acomodar oficinas, depósitos, quartéis, um hospital e até mesmo uma fábrica de oxigênio líquido. O completo seria coberto por uma grande cúpula de concreto, com cinco metros de espessura e cerca de setenta metros de largura, para protegê-lo dos bombardeios dos Aliados.

La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
Mapa mostrando a localização de Bauvohaben 21, ou Helfaut-Wizernes Dome, e seu alvo principal, Londres.

A construção do complexo começou em agosto de 1943. Um elaborado sistema de camuflagem foi instalado no topo da colina para ocultar a cúpula. Porém, a partir de fotografias tiradas por aeronaves de reconhecimento, os Aliados perceberam que algo estava acontecendo e decidiram que era melhor bombardear agora e perguntar depois.

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Para superar os desafios de realizar trabalhos sob a chuva de bombas, a cúpula foi construída sobre o solo, e o solo por baixo foi escavado para que os trabalhadores pudessem continuar a trabalhar embaixo, protegido sob a cúpula. Além disso, a cúpula era cercada por uma saia à prova de bombas, feita de concreto armado com dois metros de espessura.

1.300 operários construiriam o local, trabalhando dia e noite, mal nutridos e maltratados pelos guardas alemães. Os capatazes e os trabalhadores qualificados eram alemães, o pessoal braçal eram trabalhadores forçados – jovens franceses forçados ao “Serviço do Trabalho Obrigatório” e soviéticos capturados (homens e mulheres). Em julho de 1944, na época em que o canteiro de obras foi abandonado, os 500 prisioneiros soviéticos que trabalhavam na construção do complexo foram despachados de trem para a Alemanha e nunca mais foram vistos.

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Franz Xaver Dorsch, o engenheiro-chefe que projetou o complexo e supervisionou sua construção, planejou um sistema complicado de túneis da rede ferroviária que poderia levar mísseis e suprimentos para o centro do complexo e transportá-los para galerias de armazenamento escavadas na colina de calcário.

Quando chegasse a hora, os foguetes seriam movidos para uma enorme câmara de preparação de foguetes octogonal diretamente sob a cúpula. Essa câmara nunca foi concluída, mas teria quarenta metros de diâmetro e 33 metros de altura. Foguetes montados nesta câmara poderiam sair por duas passagens altas na posição vertical e ser transportados por trilhos para duas plataformas de lançamento de onde os mísseis seriam disparados.

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Uma passagem subterrânea do Bauvohaben 21 | Crédito da foto

Os Aliados souberam da verdadeira natureza do local em março de 1944 e renovaram o bombardeio com vigor. Quando o bombardeio convencional não causou muitos danos, a Real Força Aérea (RAF) começou a usar bombas Tallboy de penetração no solo de seis toneladas, que destruíram completamente as obras de construção externas. A encosta inteira desabou, minando o suporte da cúpula e cobrindo as duas entradas verticais do foguete.

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Na época o general alemão Walter Dornberger em relatório afirmou que a construção em si estava surpreendentemente intacta, porém o terreno circundante havia ficado muito instável, recomendando ser abandonado e acreditando que a cúpula desabaria em breve. Eventualmente, Hitler percebeu sua loucura e abandonou os planos de lançar V-2 de bunkers.

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Pouco depois, os Aliados desembarcaram na Normandia e a área foi libertada em setembro. Posteriormente, foi descoberto que o complexo estava alinhado com Nova Iorque, nos Estados Unidos, e sua estrutura grande o suficiente para acomodar um foguete com o dobro do tamanho do V-2 – o “América Rocket“, o proposto míssil balístico intercontinental A10.

Em 1997, o antigo bunker foi convertido em um museu da Segunda Guerra Mundial, com foco na história das armas V, a vida na França ocupada e a conquista do espaço após a guerra. O museu abriga um grande número de artefatos originais, incluindo um V-1 e um V-2.

La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
Plano provável reconstruído dos principais trabalhos em Wizernes
La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
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A cúpula após bombardeio dos Aliados
La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
La Coupole aberta ao público em 21 de junho de 1987, onde 20 mil pessoas se aglomeram para visitar a cúpula | Crédito da foto

Fotos a seguir são do complexo Blockhaus d’Éperlecques

La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
Crédito da foto
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Blockhouse d’Éperlecques em Watten após bombardeio dos Aliados
La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
La Coupole, o bunker nazista dos foguetes V-2
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Foguete V-2 pronto para ser disparado numa unidade móvel

Fontes: 1 2 3

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