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La Geria, os vinhedos inusitados de Lanzarote

Lanzarote é uma ilha espanhola no Oceano Atlântico localizada a cerca de 125 quilômetros da costa da África e a 1.000 quilômetros da Península Ibérica. A ilha foi formada por erupções vulcânicas há mais de 15 milhões de anos. Toda a ilha é composta de rocha vulcânica e areia.

Não há campos verdes exuberantes como as outras ilhas frequentemente chamadas de “Ilhas da Eterna Primavera“, nas Canárias. Em Lanzarote têm apenas riachos de lava solidificados e vastas planícies de solos negros e sombrios. Há cerca de 300 vulcões no Parque Nacional de Timanfaya, a maioria dos quais estão extintos, mas alguns apenas adormecidos.

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O clima é quente e seco durante todo o ano e a chuva é escassa, com temperaturas raramente abaixo de 16ºC no inverno e 25ºC no verão. Isto é em parte devido à sua proximidade com o norte da África, tornando um dos lugares mais ensolarados do planeta. Em média, não há mais que dezesseis dias de chuva por ano, entre dezembro e fevereiro.

Ao contrário da maioria das outras ilhas Canárias, Lanzarote não possui montanhas altas (a mais alta é cerca de 670 metros), o que significa que há muito poucas nuvens que fornecem uma barreira natural, menor evaporação e um nível de umidade razoável. É surpreendente que algo cresça numa terra assim. Mas Lanzarote tem extensas vinhas e as uvas são cultivadas em abundância para a fabricação de vinho.

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Cada uma das videiras de Lanzarote é plantada na base de uma cova de cerca de um metro de profundidade, com cerca de quatro a cinco metros de largura e rodeada por muros de pedra semicirculares chamados “zocos“. A cova serve a dois propósitos – 1) sua profundidade protege a planta de ventos fortes e 2) o solo vulcânico é eficaz em reter umidade, captando o pouco de chuva que ocasionalmente precipita, de modo que mesmo em dias sem chuva, a planta recebe o suficiente de água para que floresça.

As “zocos” estão espalhadas por vastas regiões no centro de Lanzarote chamada La Geria. De longe, parece que toda a região foi atingida por milhares de meteoros. Esses elementos visuais criam uma paisagem verdadeiramente única que é ao mesmo tempo bela e surreal.

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Há registros que o vinho é produzido na ilha desde a década de 1500, época em que caravelas cruzavam o oceano e a América foi descoberta, mas pode ter sido produzido bem antes disso. Tudo ia bem até que uma grande erupção ocorreu em 1730, que cobriu a maior parte das melhores terras agrícolas da ilha com lava. Uma série de erupções violentas deixou espessas camadas de cinzas e pedras vulcânicas no solo. Esse material vulcânico é chamado pelos agricultores de lapilli e picon.

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Portanto, milhares de hectares de terra fértil foram perdidos em camadas de cinzas de até três metros de espessura. A produção de grãos e cereais, que eram as culturas mais importantes na época foram destruídas. Depois que os vulcões pararam de roncar, os ilhéus começaram a cavar buracos até chegarem a um solo fértil em áreas onde o ‘picon’ era fino, na esperança de cultivarem a terra novamente. Os agricultores em vez de abandonar a ilha atrás de áreas mais verdes na Europa, começaram a repensar seus métodos de cultivo.

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Os fazendeiros rapidamente descobriram que a rocha vulcânica recém depositada sobre a terra, era porosa e tem propriedades higroscópicas (que atraem água), sendo excelente para absorver a umidade do ar e retê-la no solo. Isso permitiu um método de cultivo a seco conhecido como “enarenado“, que é completamente exclusivo de Lanzarote.

O único lado negativo desse método de cultivo é que tem que ser feito tudo à mão. Devido a isso o cultivo de videira é um processo trabalhoso em Lanzarote. Algumas vinícolas ainda seguem a prática tradicional de usar camelos para transportar uvas recém colhidas da vinha para as áreas de processamento, que estão nas partes mais baixas das encostas.

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La Geria cobre cerca de 5.250 hectares, dos quais quase 2.000 hectares são vinhedos cultivados, que juntos produzem uma média de dois milhões de litros de vinho por ano. Para uma ilha com apenas 862 quilômetros quadrados esta é uma proporção considerável do espaço disponível. A variedade de vinhos de La Geria inclui os tradicionais vinhos de Lanzarote, Malvasia, Listan Negra, Moscatel e Manto.

A ilha de Lanzarote é a mais antiga das Canárias. Povoada há pelo menos 2.000 anos de acordo com recentes descobertas arqueológicas, a ilha foi originalmente habitada por berberes, um povo do norte da África. O pastoreio, a pesca e a agricultura foram as principais formas de subsistência para esses primeiros habitantes, que ficaram conhecidos como “Majos”.

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Gregos e romanos certamente sabiam da existência dessas ilhas, como provam escavações em Lanzarote, onde pedaços de metal e vidro foram encontrados, Esses artefatos, datados entre o primeiro e o quarto século, provaram que os romanos costumavam negociar com o povo dessas ilhas, embora não haja evidências de que eles tenham chegado lá. Após a queda do Império Romano, as Ilhas Canárias caíram no esquecimento por quase 1.000 anos, sendo então redescobertas no início do século 14 pelos marinheiros do Mediterrâneo.

Na verdade, acredita-se que o nome “Lanzarote” deriva de Lanzarotto (ou Lancelotto) Malocello, um marinheiro genovês, que primeiro atracou na ilha no início de 1300. Depois disso, Lanzarote foi invadido várias vezes por europeus, que procuravam conquistar riqueza e glória, capturando nativos para trabalhar como escravos em seus países.

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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