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Lady Dai, a múmia preservada da China

Lady Dai, também conhecida como Xin Zhui, foi a esposa distinta do nobre Dai Li Kang, Marquês de Dai, durante a dinastia Han. Sua vida extravagante transparecia na grandiosidade de sua tumba, repleta de luxos reservados aos mais abastados de sua era.

Um corpo grotesca de 35 quilos exibido no Museu Provincial de Hunan, na China é considerada uma das múmias mais bem preservadas do mundo. Enquanto seu rosto parecia inchado e deformado, sua pele ainda estava macia e úmida ao toque, e não havia sinais de rigor mortis em qualquer parte de corpo – seus braços e pernas ainda podiam dobrar.

Até mesmo seus órgãos internos estavam intactos e ainda havia sangue nas veias. Também tinha cabelo na cabeça e uma peruca presa com um grampo de cabelo na parte de trás da cabeça. A membrana timpânica da orelha esquerda estava intacta, e as impressões digitais das mãos e dos dedos eram distintas.

Lady Dai, a múmia preservada da China

Enquanto outras múmias tendem a desmoronar ao menor movimento, a múmia de Lady Dai está tão bem cuidada que os médicos puderam realizar uma autópsia mais de 2.100 anos após sua morte. e ficaram surpresos por descobrirem que o nível de decomposição se assemelhava aos corpos de pessoas que morreram em poucas semanas.

Não só foram capazes de reconstruir sua morte, mas também sua vida. Eles até determinaram seu tipo de sangue – Tipo A. A autópsia de Lady Dai é sem dúvida o perfil médico mais completo já compilado em um indivíduo antigo. Estimasse que Lady Dai tinha em vida, um peso de 70 – 75 quilos, e uma estatura de 150 – 152 centímetros.

Lady Dai, a múmia preservada da China
Representação de como era a tumba de Lady Dai

Lady Dai, também conhecida como Xin Zhui, foi a esposa distinta do nobre Dai Li Kang, cujo título era Marquês de Dai, durante a dinastia Han Ocidental no Reino de Changsha. Sua vida extravagante transparecia na grandiosidade de sua tumba, repleta de luxos reservados aos mais abastados de sua era. Entre os tesouros ali encontrados, destacavam-se centenas de roupas de seda ricamente bordadas, saias esplêndidas, luvas delicadas, um sachê de seda repleto de diversas especiarias, além de flores e juncos perfumados.

Caixas de cosméticos, mais de cem utensílios de laca, instrumentos musicais e estatuetas de músicos, somavam-se a mais de mil outros itens. Surpreendentemente, trinta cestos de bambu continham refeições preparadas e receitas dos pratos favoritos da falecida. A variedade de itens no túmulo era vasta, incluindo vinho, hastes de lótus, morangos, peras e ameixas, bem como diversas carnes como porco, boi, veado, peixes, cães e coelhos, além de aves como pombos, cisnes, faisões e corujas.

Lady Dai, a múmia preservada da China
Caixão de laca de Lady Dai

Esses objetos mostram que Lady Dai viveu uma vida de luxo, que ela gostava muito“, diz Willow Weilan Hain Chang, diretor da China Institute Gallery em Nova Iorque, onde alguns dos objetos recuperados de seu túmulo foram exibidos em uma exposição em 2009. “Ela queria manter o mesmo estilo de vida terrena, na vida após a morte“, completou o diretor.

Foi essa boa vida que ela ansiava que acabou matando-a. Enquanto envelhecia, Lady Dai deixava para trás a beleza de seus dias joviais e se entregava a todos os prazeres culinários (como sopa de escorpião) até que seu corpo diminuto se curvou devido a obesidade. Ilustrações feitas em sua bandeira funerária mostrava-a curvada sobre uma bengala.

Ela poderia ter sido incapaz de andar sem ela por causa de sua trombose coronária e arteriosclerose que ela adquiriu devido ao seu estilo de vida sedentário. Também foi descoberto que ela tinha – como sua autópsia revelou – um disco fundido em sua coluna que teria causado dor nas costas e dificuldade para andar.

Lady Dai, a múmia preservada da China

Ela tinha vários parasitas internos, provavelmente por comer alimentos mal cozidos ou por falta de higiene, sofria de artérias obstruídas, doença cardíaca grave, osteoporose e cálculos biliares, um dos quais se alojava em seu ducto biliar e deteriorava ainda mais sua condição. Lady Dai morreu com a idade de cerca de cinquenta anos de uma ataque cardíaco súbito, devido aos anos de excesso e saúde fragilizada. Sua última refeição consistia em melões.

Ironicamente, seu túmulo contém uma quantidade impressionante de informações na forma de livros e pergaminhos sobre saúde, bem-estar e longevidade. Em inscritos com caracteres chineses havia receitas de várias medicinas tradicionais chinesas para tratar dores de cabeça, paralisia, asma, problemas de saúde sexual e outros.

Lady Dai, a múmia preservada da China
Múmia de Lady Dai exposta no Museu Provincial de Hunan, na China

O túmulo de Lady Dai foi encontrado em 1971 durante a escavação em um sítio arqueológico chamado Mawamgdui, perto da cidade chinesa de Changsha, Hunan. Ela foi descoberta envolta em vinte camadas de seda e dentro de uma série de quatro caixões aninhados em tamanhos decrescentes, um dentro de outro. Para manter o ar e a água fora, seu túmulo foi preenchido com cinco toneladas de carvão e uma camada de vários metros de espessura de argila. Este espaço hermeticamente fechado matou qualquer bactéria que pudesse estar dentro e ajudou a preservar o corpo.

Lady Dai, a múmia preservada da China
Banner funerário

Arqueólogos também encontraram vestígios de mercúrio em seu caixão, indicando que o metal tóxico pode ter sido usado como agente antibacteriano. Seu corpo também foi encontrado embebido em um líquido desconhecido que é ligeiramente ácido com traços de magnésio, o que também impedia o crescimento das bactérias. Alguns acreditam que o líquido é, na verdade, é fluído do corpo, em vez de algum líquido conservante derramado em seu caixão. Como exatamente o corpo de Lady Dai combateu a decomposição é um mistério, já que muitos corpos enterrados em ambientes hermeticamente fechados e impermeáveis não conseguiram preservar.

Lady Dai, a múmia preservada da China
Figura em cera de Lady Dai, descrevendo como ela poderia ter parecido quando mais jovem e saudável

Na dinastia Han ocidental (a segunda dinastia imperial da China, 206 a.C. – 220 d.C.), enterros elaborados e luxuosos eram prática comum. Uma das razões era a noção de imperecibilidade da alma: acreditava-se que existia outro mundo para os mortos, e eles precisavam de comida e acomodação como os vivos. Portanto, a consagração para os mortos deve ser a mesma que foi fornecida para os vivos, e todas as necessidades na vida devem ser trazidas para o túmulo para uso na vida após a morte. 

A outra era a ênfase na piedade filial durante esse tempo. Na dinastia Han, a piedade filial tornou-se uma abordagem importante para se tornar um funcionário, e enterros elaborados e luxuosos são uma maneira significativa de mostrar piedade filial aos pais falecidos. Essas foram as principais razões pelas quais havia tantos artefatos preciosos no túmulo de Lady Dai.

Lady Dai, a múmia preservada da China
Detalhe aumentado do banner funerário mostrando Lady Dai curvada e utilizando uma bengala

Outro achado impressionante é o manto de Lady Dai. Em um pedaço de seda, um mapa foi desenhado. Ele continha os territórios de três províncias chinesas em uma escala de 1: 180.000. O mapa parecia ter sido compilado a partir de fotografias de uma órbita próxima da Terra. O mapa na seda foi comparado com imagens modernas de territórios chineses feitos por satélites da NASA. A precisão incrível deixou os cientistas americanos atônicos.

Em 1971, no auge da Guerra Fria, uma equipe de trabalhadores cavando um abrigo antiaéreo para o hospital encontrou um antigo cemitério. Arqueólogos começaram a escavar em janeiro de 1972. Foi uma das descobertas arqueológicas mais surpreendentes já feitas na China. O sítio arqueológico recebeu o nome de Mawangdui (monte do Rei Ma, porque a tumba funerária foi inicialmente considerada erroneamente como o túmulo de Ma Yin (853–930), governante do reino de Chu).

Lady Dai, a múmia preservada da China

Nas escavação em Mawangdui foram encontrados os corpos de Lady Dai, assim como a de seu marido e presumivelmente seu filho, são considerados uma das principais descobertas arqueológicas de século 20. A partir das construção dos túmulos e dos vários artefatos funerários, os arqueólogos conseguiram reunir como os aristocratas viveram durante a dinastia Han.

Das várias refeições enterradas dentro da tumba e até mesmo do conteúdo do estômago de Lady Dai, os arqueólogos conseguiram reconstruir uma história surpreendentemente detalhada da dieta, práticas agrícolas, métodos de caça, domesticação de animais, produção e preparação de alimentos da dinastia Han Ocidental, e uma visão a nível estrutural para o desenvolvimento de uma das melhores e mais duradouras cozinhas do mundo.

Lady Dai, a múmia preservada da China
Lady Dai, a múmia preservada da China
Ilustração do túmulo de Lady Dai e como estavam os mais de 1.000 itens dispostos
Lady Dai, a múmia preservada da China
Lady Dai, a múmia preservada da China
Lady Dai, a múmia preservada da China
Lady Dai, a múmia preservada da China
Durante as escavações em 1972
Lady Dai, a múmia preservada da China
Mapa do reino de Changsha, impresso em seda

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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