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Nosy Mangabe, a ilha das pedras postais

Nosy Mangabe é uma pequena ilha desabitada na costa de Madagascar e as pedras da ilha eram usadas pelos marinheiros do passado para entalhar mensagens e cartas

A cerca de dois quilômetros da costa de Madagascar, na Baía de Antongil na África, encontra-se uma pequena ilha tropical desabitada chamada Nosy Mangabe. A ilha é coberta por uma floresta densa e não há povoamento permanente. Mas nos séculos 16 e 17, navios holandeses a caminho do extremo oriente, vindo pelo Cabo da Boa Esperança frequentemente paravam na ilha para reabastecer seus suprimentos de água fresca, fazer reparos no navio e dar um descanso a tripulação.

Nosy Mangabe tinha muita água fresca disponível, pois chove 290 dias por ano. Mais de 160 milímetros de chuva cai numa área de 1.300 acres em um ano, sendo um atrativo para que os navios de passagem parassem e se fartassem com a abundância.

Nosy Mangabe, a ilha das pedras postais
Crédito da foto: Mark E. Polzer

Uma vez que o navio parasse para se reabastecer de água, os marinheiros perambulavam pelas praias e entalhavam seus nomes nas rochas. Alguns escreveram o nome do navio, do capitão e a data de chegada e de partida. Com o tempo, um engenhoso sistema de mensagens começou a se desenvolver. Os marinheiros começaram a deixar mensagens, ou às vezes, cartas cuidadosamente embrulhadas em lona e impermeabilizadas com alcatrão, que depois enterravam na base de pedras. A ideia era que o próximo navio holandês a ancorar na ilha, coletaria as cartas ou leria a mensagem e a passaria para o destinatário pretendido.

No início da década de 1920, um certo Eugène-Jean Drouhard, um oficial colonial francês cujos deveres eram descritos como “inspetor de águas e florestas”, descobriu cerca de uma dúzia dessas chamadas “pedras postais” e conseguiu lê-las, pois as inscrições já estavam muito apagadas ou cobertas de musgo. Em 2012, uma equipe de pesquisadores liderada pela arqueóloga Wendy Van Duivenvoorde, da Universidade Flinders, da Austrália, descobriu mais ainda.

Nosy Mangabe, a ilha das pedras postais
Crédito da foto: Mark E. Polzer

Wendy e sua equipe encontraram cerca de quarenta pedras com inscrições, deixadas por oficiais e marinheiros de pelo menos treze navios holandeses diferentes que iam ou vinham da Índia entre 1601 a 1657. As inscrições foram esculpidas em vários afloramentos rochosos grandes e na face de um penhasco que dava para uma pequena praia que até hoje carrega o nome de “Plage des Hollandais“, que significa “Praia dos holandeses“.

Algumas dessas inscrições contavam histórias incríveis. Uma inscrição revelava que o navio Middleburg, da Companhia das Índias Orientais chegou à ilha em 1625, depois de ter perdido seus mastros e velas ao enfrentar um ciclone. Teve que ficar ancorado na ilha por sete meses para ser reparado. “É incrível pensar como que eles conseguiram chegar à baía sem mastros e velas“, disse Wendy.

Nosy Mangabe, a ilha das pedras postais
Crédito da foto: Mark E. Polzer

Uma vez que a tripulação do Middelburg concluiu os reparos no navio, eles retornaram a viagem de volta a Holanda. Infelizmente, nunca chegaram em casa, pois perto da ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul, foram atacados e afundados – sem sobreviventes – por caravelas portugueses. No entanto, o Middleburg parou brevemente em Table Bay, na África do Sul, para entregar uma parte das cartas para que outro navio holandês as pegassem. Essas cartas, que agora estão nos arquivos da Companhia Holandesa das Índias Orientais, em Haia, são os últimos registros sobreviventes da tripulação e dos oficiais do navio Middelburg.

No final dos anos 1600, os holandeses haviam abandonado o sistema de pedras postais porque descobriram que as mensagens nem sempre chegavam a quem eram destinadas. Cada vez mais, equipes de empresas rivais começaram a roubar as cartas das rochas e usar as informações para rastrear as atividades de seus concorrentes. Então os navios holandeses começaram a contratar moradores locais para guardar as tais cartas.

Nosy Mangabe, a ilha das pedras postais
Wendy van Duivenvoorde inspecionando uma pedra postal em Nosy Mangabe. Crédito da foto: Mark E. Polzer

Pedras postais como as de Nosy Mangabe também forma encontradas nas Ilhas de Santa Helena e no Cabo da Boa Esperança na África do Sul. De fato, as pedras postais são uma parte única da história postal da África do Sul. Em 1500, o capitão de um navio português, colocou uma carta no tronco oco de uma árvore em Mossel Bay, relatando a perda de vários navios em sua frota durante uma forte tempestade no Oceano Atlântico.

Três meses depois, outra tripulação de outro navio português encontrou a carta e a entregou a Portugal. Muitas dessas pedras estão em exibição em vários museus na Cidade do Cabo, mas Nosy Mangabe é o único lugar onde pedras postais podem ser encontradas em seus lugares originais.

Nosy Mangabe, a ilha das pedras postais
Uma pedra postal encontrada na costa da África do Sul com a inscrição datada de 1632. A inscrição traduzida diz: “Abaixo encontram-se cartas do comandante Dirk van der Lee e do vice-comandante P Crook com os navios Nassau, Frederik Hendrik, Nimegen Wessel. Chegou aqui em 9 de abril de 1632 de Batavia e partiu em 15 ditto “. | Crédito da foto

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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