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O exótico café Jacu Bird

Quando Henrique Sloper de Araújo observou pela primeira vez um pássaro jacu (Penelope sp.) comendo os frutos das plantações de café de sua fazenda, no sopé da majestosa Pedra Azul, ele ergueu os braços em desespero. Ele chegou a ligar para a polícia ambiental pedindo providencias pelas aves estarem comendo seu café. Plantação essa, que levou anos para produzirem, mas não tinha nada que pudesse ser feito em relação as aves silvestres.

Henrique não tinha dúvidas de que as práticas de agricultura orgânica de sua propriedade de 740 acres, chamada Camocim, nas proximidades do Parque Nacional da Pedra Azul, no Espírito Santo, estavam fazendo com que as aves entrassem e banqueteassem na abundância de cerejas de café sem pesticidas espalhadas pelo chão.

O exótico café Jacu Bird
Pássaro jacu | Crédito da foto

Henrique já havia viajado a Indonésia, e apreciado o café Kopi Luwak – café extraído das fezes da civeta, um pequeno mamífero carnívoro que habita as árvores por todo o arquipélago asiático, e que adora comer a cereja do café – café esse que ganhou fama por seu sabor e preço exorbitante. O plantador de café pensou que poderia haver uma similaridade nos excrementos deixados pela ave jacu. Ele estava certo!

O exótico café Jacu Bird
Café Jacu Bird produzido pela fazenda Camocim | Crédito da foto

Quando a vida lhe dá cocô de pássaro, você só pode transformá-lo em um café incrivelmente bom, e foi exatamente isso que Henrique fez. Em 2006, ele produziu o primeiro café da ave jacu, feito a partir de grãos lavados e torrados que foram escolhidos a dedos dos restos defecados das refeições das aves. Hoje, esse café está entre os mais caros do mundo, sendo vendido em torno de 110 dólares por 15o gramas do café. O famoso chef francês Alain Ducasse é fã do café da ave brasileira.

O jacu é uma ave de tamanho avantajado, de cerca de sessenta centímetros, que se parece um pouco com um faisão, com um distinto decote vermelho-vivo, é uma ave protegida no Brasil, por estar sem vias de extinção. Aves selvagens da floresta sofreram muito com o desmatamento das últimas décadas (apenas entre 2000 e 2006, o Brasil já destruiu uma faixa de terra florestal do tamanho da Grécia). Agora há um santuário de jacu perto da propriedade de Camocim e monitorado pelo IBAMA.

O exótico café Jacu Bird
As fezes do jacu de onde são retirados os grãos para fazer o café | Crédito da foto

Os pássaros conhecem bem o café. Eles escolhem apenas as frutas mais maduras para comer, chamadas cerejas, e o café digerido pelas aves tem um sabor peculiar de avelã, enquanto os compostos aromáticos contêm notas de erva-cidreira com um sabor ligeiramente picante. A dieta vegetariana do pássaro jacu faz parte do sabor do café: alguns lotes terão notas de semente de damasco e trufas, ou outros frutos silvestres consumidos pelas aves.

O exótico café Jacu Bird
A Pedra Azul, Espírito Santo | Crédito da foto

A época da colheita geralmente ocorre de abril a outubro, e os avistamentos de jacu na propriedade se multiplicam nessa época. Trabalhadores se espalham pela plantação para coletar excrementos de pássaros no solo debaixo dos cafeeiros, que então, são lavados, descascados e assados, para ter um efeito verdadeiramente revigorante de cafeína.

O processo de produção da Camocim inclui colher e assar manualmente cada variedade de cerejas de café orgânicos para garantir a melhor qualidade e sabor – uma técnica artesanal empregada por apenas 1,1% dos produtores mundiais de café.

O exótico café Jacu Bird
No Brasil existem sete espécies de jacu, também conhecida como jacuaçu e penélope  | Crédito da foto

Mas o grande problema que Henrique teve na produção do café Jacu Bird, foi convencer os trabalhadores que eles teriam que deixar as cerejas maduras do café e coletar as “merdas” dos pássaros. Só conseguiu convencer os trabalhadores com uma recompensa financeira, pagando um extra de 100 reais pelos excrementos dos jacus. “Não havia outra maneira de mudar a mentalidade das pessoas“, comentou Henrique Sloper numa entrevista para o programa Globo Rural.

Fontes: 1 2 3

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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