Histórias

Caso Galápagos: quando satã chega ao paraíso

As Ilhas Galápagos são um grupo de treze ilhas situadas no Oceano Pacífico, aproximadamente mil quilômetros a oeste da costa do Equador, sendo este o país ao qual pertencem e o ponto continental mais próximo. Dessas treze ilhas, apenas quatro são habitadas. Uma das ilhas, Isabela, é considerada uma das mais jovens do mundo, com apenas 1 milhão de anos. Nela encontra-se o maior vulcão do arquipélago, com uma altitude de 1075 metros acima do nível do mar, cercado por 2500 mini vulcões.

As ilhas fazem parte da província equatoriana de Galápagos, tendo como capital a pequena cidade de Puerto Baquerizo Moreno, localizada na Ilha de São Cristóvão. O primeiro morador registrado nessas ilhas foi um irlandês chamado Patrick Watkins, que foi abandonado lá em 1807. Atualmente, a população de Galápagos é de aproximadamente 19.000 pessoas.

Em 1998, o Equador criou uma lei que transformou Galápagos em um parque nacional, proibindo a pesca comercial e a entrada de novos moradores nas ilhas. Além disso, o governo equatoriano estabeleceu um limite de 20.000 turistas por ano. Essas medidas visam preservar a rica biodiversidade das ilhas. Como reconhecimento de seu valor natural único, as Ilhas Galápagos são consideradas patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas.

Galápagos: satã chega ao éden
Ilha Floreana com o monte Cerro Pajas ao fundo

O arquipélago de Galápagos tem origem vulcânica e ainda abriga vulcões ativos. Sua paisagem é caracterizada por montanhas, penhascos e terras áridas repletas de pedras e crateras. As ilhas não são exatamente um paraíso, sendo rochosas e com um clima seco e quente. O ar na região é tão salgado que a corrosão afeta rapidamente quase todos os materiais que contêm ferro. No entanto, Galápagos é o lar de diversas espécies animais interessantes que não são encontradas em nenhum outro lugar do mundo.

A fama das Ilhas Galápagos deve-se, em parte, à viagem de Charles Darwin em 15 de setembro de 1835, a bordo do navio H.M.S. Beagle. Durante sua estadia de cinco dias nas ilhas, Darwin realizou pesquisas e estudos sobre os animais locais. A evolução dos bicos das aves conhecidas como tentilhões serviu de inspiração para o desenvolvimento de sua Teoria da Evolução. Essa teoria explica como os seres vivos se transformam e se adaptam ao longo das gerações.

Galápagos: satã chega ao éden

No início, o arquipélago era conhecido como Ilhas Encantadas, mas posteriormente recebeu o nome atual. Existe uma lenda que sugere que o nome “Galápagos” deriva do verbo “galopar”, devido ao costume dos espanhóis de montarem nas tartarugas gigantes das ilhas antes de abatê-las para se alimentarem de sua carne.

As ilhas foram descobertas acidentalmente em 1535 por Frei Tomás de Berlanga (1487-1551), bispo do Panamá, durante sua viagem ao Peru. No entanto, elas foram ignoradas até o século 17, quando se tornaram um ponto de parada frequente para navios em busca de provisões.

Em 1832, Galápagos foi oficialmente anexada ao Equador e inicialmente recebeu o nome de “Archipiélago del Ecuador”. Posteriormente, passou a ser chamada de Galápagos, nome pelo qual é conhecida atualmente.

Galápagos: satã chega ao éden
Posto do Correio britânico na Ilha Floreana

Na ilha de Floreana, também conhecida como “La Misteriosa”, localizada ao sul do arquipélago, atualmente reside uma comunidade de aproximadamente 100 pessoas, incluindo descendentes diretos dos imigrantes alemães que foram os primeiros habitantes da ilha. Durante sua visita, Charles Darwin passou pela baía solitária, que servia como uma estação de correio improvisada, consistindo em um barril em cima de um tronco, utilizada pelos navios da Marinha Real Britânica e também pelas embarcações que faziam o trajeto da costa oeste americana para a costa leste. Hoje em dia, as ilhas são um destino turístico de alto nível.

Embora geralmente sejam tranquilas e não apresentem ocorrências incomuns, Galápagos chamou a atenção do mundo em 1934 devido a um escândalo internacional que envolveu luxúria, inveja, ciúmes, assassinatos e desaparecimentos. Esse incidente deixou uma aura de mistério, uma vez que a verdadeira sequência dos eventos nunca foi completamente revelada.

O caso Galápagos

Em 19 de setembro de 1929, o médico alemão Friedrich Ritter, então com 43 anos, tomou a decisão de abandonar sua lucrativa carreira e sua esposa para se estabelecer em uma ilha. Ele buscava criar um paraíso utópico isolado do resto do mundo. Acompanhado por Dore Strauch, sua ex-paciente de 28 anos, Friedrich encontrou a companhia perfeita para essa empreitada. Sua inspiração para escolher as Ilhas Galápagos como local de residência veio após ler o livro “Galapagos World’s End“, escrito pelo explorador William Beebe, que descrevia essa parte do planeta como o fim do mundo.

Galápagos: satã chega ao éden
Dore Strauch e Freidrich Ritter

Após deixarem suas vidas anteriores para trás, incluindo seus cônjuges, amigos e familiares, Friedrich e Dore estabeleceram-se em uma área na ilha de Floreana, que eles chamaram de “Friedo” em referência a uma combinação das primeiras letras de seus nomes. Eles trabalharam arduamente para tornar o local habitável, limpando a área, removendo pedras que estavam espalhadas por toda parte e cultivando frutas, legumes e pequenos animais, como galinhas e porcos.

Há relatos de que Friedrich não tinha dentes, pois alegava tê-los extraído antes de viajar para as ilhas, com medo de que apodrecessem e de não ter acesso a ferramentas adequadas para extraí-los posteriormente em um lugar remoto.

Após se estabelecerem na ilha, Friedrich Ritter enviou cartas aos seus familiares em Berlim, sem nunca imaginar que essas correspondências iriam parar nas mãos da imprensa. As cartas foram sensacionalizadas como manchetes, transformando o casal em celebridades internacionais.

As notícias sobre o casal alemão que vivia isolado no “fim do mundo”, sustentando-se da natureza como uma versão moderna de Adão e Eva, juntamente com relatos de capitães de navios que comentavam sobre o casal excêntrico que vivia como nudistas em um paraíso, despertaram o interesse de muitas pessoas ricas em visitá-los. Alguns até mesmo foram inspirados a seguir o exemplo deles.

Assim, o sossego que o casal desfrutava por alguns meses logo foi interrompido pelas primeiras visitas, que acabaram com a tranquilidade que eles haviam encontrado na ilha.

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Heinz Wittmer, seus filhos Rolf no colo e Harry e sua esposa Margret

Em agosto de 1932, Heinz Wittmer (41 anos) chegou à ilha com sua esposa Margret (27 anos) e seu filho adolescente de 14 anos, Harry, fruto do primeiro casamento de Heinz. Diferentemente de outros visitantes, eles decidiram permanecer na ilha e estabeleceram-se em uma área com a ajuda de Friedrich. No entanto, Friedrich deixou claro que não estava satisfeito em compartilhar sua ilha com outras pessoas e levou os intrusos em uma caminhada de uma hora montanha acima, mostrando-lhes antigas cavernas de piratas próximas a uma nascente.

O casal Wittmer buscava uma nova vida, querendo escapar da realidade sombria política e econômica da Europa na década de 1930, com o início da Segunda Guerra Mundial. Eles também buscavam um lugar com um clima mais saudável, pois o filho deles sofria de uma doença reumática. A ilha de Galápagos proporcionava um refúgio ideal para eles, longe das turbulências do mundo exterior.

Os Wittmer foram inspirados pelos artigos que liam nos jornais alemães sobre o casal alemão e imaginavam-se como a “família Robinson de Galápagos”. Eles escolheram Floreana em particular porque Friedrich era médico, e Margret estava grávida de cinco meses, esperando que ele pudesse ajudá-los caso necessário. No entanto, uma vez estabelecidos na ilha, as duas famílias alemãs tiveram pouco contato. Os Wittmer ficaram satisfeitos com as cavernas e logo começaram a transformar aquele lugar em seu lar permanente. A única decepção era a distância em relação ao médico, caso precisassem de ajuda médica.

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As antigas cavernas de piratas que serviram de residência para o casal Wittmer

No entanto, a personagem mais polêmica nessa história é a Baronesa Eloise Von Wagner de Paris, de origem austríaca. Ela chegou à ilha em outubro de 1932, acompanhada por dois jovens amantes alemães, Rudolf Lorenz e Robert Philippson, além de um trabalhador equatoriano chamado Manuel Valdivieso.

Essa mulher enigmática provocou uma série de intrigas entre os habitantes da ilha, especialmente entre os Wittmer e Ritter, que se sentiram ameaçados pelas extravagâncias da Baronesa, que se autodenominava “A Imperatriz de Galápagos”. Eloise e Rudolf eram proprietários de uma boutique em Paris, enquanto Robert trabalhava como vendedor na loja. Eles decidiram vender o negócio e partir para Galápagos em busca de fama e fortuna.

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Robert Philippson, Rudolf Lorenz e Baronesa Eloise von Wagner

A Baronesa chegou à Ilha Floreana com a intenção de estabelecer um hotel de luxo, capitalizando a fama dos casais alemães na Europa e atraindo pessoas ricas para visitar a ilha. O hotel seria chamado de “Hacienda Paradiso”. Para arrecadar mais dinheiro e colocar seu plano em prática, a Baronesa decidiu fazer um filme mudo, onde ela se vestia de forma provocante, como uma rainha das selvas, empunhando uma pistola e um chicote. Essas imagens chamaram a atenção dos jornais e atraíram cada vez mais pessoas interessadas em viajar para aquela parte do mundo para conhecer o casal alemão e a Baronesa.

Essa situação deixou Friedrich furioso, pois ele sentia que sua paz e isolamento estavam sendo invadidos e explorados para fins lucrativos.

Heinz também ficou descontente quando a Baronesa informou que se estabeleceria perto dos Wittmer, aproveitando-se de seu pomar e nascente. Ela afirmou que não conseguia imaginar viver em outro lugar até que seu hotel fosse construído.

Algum tempo depois, duas norueguesas que viviam na ilha de Santa Cruz chegaram a Floreana para caçar e atiraram em um bezerro com a intenção de levá-lo para Santa Cruz. Para as norueguesas, isso era algo comum, mas Friedrich ficou indignado com a situação e decidiu escrever uma carta relatando o incidente ao governador.

Ao ouvir o tiro, a Baronesa confrontou as norueguesas, empunhando um revólver e enfurecida. Ela alegou que elas haviam matado um de seus animais e afirmou que a ilha lhe pertencia, assim como tudo o que se encontrava nela.

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Uma das cavernas que serviu de moradia a família Wittmer

Em janeiro de 1933, o Capitão Allan Hancock chegou à ilha a bordo de seu navio chamado “Vellero” e convidou todos os habitantes para uma celebração a bordo. No entanto, essa celebração acabou sendo um erro, pois aumentou ainda mais a hostilidade entre os alemães. No dia seguinte, Friedrich levou seu burro à baía de Black Beach para buscar os presentes que o capitão sempre lhe trazia.

Quando a Baronesa soube dos presentes, ela foi até o sítio de Friedrich acompanhada de Robert e exigiu que ele compartilhasse os presentes com ela. Friedrich ficou extremamente irritado e os expulsou de sua casa. Em 30 de maio de 1933, o Governador das Ilhas Galápagos chegou de São Cristóvão com sete soldados e um intérprete para investigar as acusações feitas meses antes por Friedrich e pelo norueguês Christian Stampa contra a Baronesa. O governador se instalou no local que seria a Hacienda Paradiso.

Após a investigação, o governador decidiu atribuir uma área maior de terras, cerca de 2500 acres, para a Baronesa e seu futuro hotel, enquanto os Ritter e os Wittmer receberam apenas 50 acres cada. Além disso, a nascente de água dos Wittmer foi declarada de uso comum aos dois acampamentos. Friedrich previu que uma decisão como essa inevitavelmente levaria a conflitos entre os ocupantes da ilha Floreana.

Na época, as manchetes nos jornais e revistas sobre Floreana eram sensacionalistas, com títulos como “Onde há mais maridos que esposas”, “A imperatriz nudista de Galápagos”, “Diabo no Éden Moderno” e “Estão falando loucuras sobre Galápagos”. Esses artigos contribuíram para a aura de mistério e intriga que cercava a ilha naquele momento.

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A chegada do Capitão Hancock em outubro de 1933, com os jornais e revistas repletos de histórias exageradas sobre os alemães na ilha deixou os Ritter e Wittmer chocados e indignados. Eles atribuíram a culpa à Baronesa, acusando-a de espalhar boatos para promover seu hotel e atrair mais atenção. Durante a visita do capitão, eles até fizeram um filme com a participação da Baronesa. Friedrich comentava que ela era capaz de encantar a todos e que nunca houve um homem capaz de resistir a ela. Essa situação levantava dúvidas e suspeitas sobre possíveis relacionamentos entre Friedrich, Heinz e a Baronesa.

A foto em que Friedrich aparecia com o braço ao redor da Baronesa e o olhar dela sobre ele alimentava ainda mais essas dúvidas. Isso começou a afetar o relacionamento de Friedrich com Dore, sua companheira, e ele a acusava de dar muita atenção a Heinz. O ciúme entre as mulheres, especialmente entre Dore e a Baronesa, evidenciava as suspeitas de um possível triângulo amoroso entre Friedrich, Heinz e a Baronesa, assim como entre Heinz e Dore. Essas tensões contribuíram para a hostilidade crescente entre os habitantes da ilha.

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O monte Cerro Pajas

A seca severa que assolou a ilha de Floreana no final de fevereiro de 1934 trouxe temperaturas extremas, com 48 graus Celsius à sombra, causando uma desidratação intensa e afetando severamente a vida na ilha. A nascente de água dos Wittmer secou completamente, levando à escassez de água potável. As plantações murcharam e morreram, deixando a ilha coberta pelas carcaças dos animais que não resistiram à falta de água e alimento. O ambiente ficou impregnado com o odor da morte e da decadência.

Na Hacienda Paradiso, a situação não era diferente. As reservas de alimentos se esgotaram e a dependência dos iates para o sucesso do hotel tornou-se cada vez mais preocupante. No entanto, coincidentemente, nenhum barco passava pela região costeira da ilha, deixando a Baronesa desapontada e frustrada. A falta de recursos e a ausência de visitantes afetaram gravemente as esperanças e os planos da Baronesa de construir seu hotel e atrair turistas ricos para a ilha.

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A tensão e as desavenças entre os habitantes de Floreana atingiram seu ponto máximo. As constantes brigas na Hacienda Paradiso, principalmente entre Robert e Rudolf, tornaram-se cada vez mais violentas, levando Rudolf a buscar refúgio na casa dos Wittmer para escapar dos ataques. A Baronesa, furiosa com essa situação, ia buscá-lo à força, intensificando ainda mais os conflitos.

Rudolf sofreu tanto com as agressões que seu desejo era retornar à Europa o mais rápido possível. As disputas e discussões entre os alemães se tornaram cada vez mais frequentes e hostis. Em uma noite, Robert, movido pelo ressentimento, roubou um jumento do quintal de Friedrich e o soltou no terreno dos Wittmer. No dia seguinte, Heinz, acreditando que o animal pertencia à Baronesa, atirou nele. Essa situação agravou ainda mais o clima de animosidade entre os alemães.

Heinz Wittmer, normalmente calmo e ponderado, desabafou sua raiva contra a Baronesa para Friedrich, expressando a necessidade de se unirem e tomarem medidas para lidar com a situação. Ele reconhecia que apelar ao governador não seria eficaz e acreditava que era hora de assumirem o controle da situação por conta própria. A tensão e a rivalidade entre os habitantes da ilha estavam alcançando um ponto crítico, levando a uma sensação de urgência em resolver os problemas de convivência.

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Moai encontrado na ilha e de origem desconhecida

O desaparecimento repentino da Baronesa e de Robert em março de 1934, trouxe um grande mistério e especulações para a ilha de Floreana. Segundo Margret Wittmer, eles teriam comunicado que partiriam para o Taiti em um iate de amigos, deixando tudo para Rudolf. No entanto, não havia registros de nenhum iate ter chegado à ilha naquela semana, e ninguém na ilha tinha conhecimento de sua presença no Taiti.

Dore Strauch, por sua vez, mencionou que a Baronesa deixou para trás itens pessoais que nunca abandonaria, como o livro “O Retrato de Dorian Gray”, que era como um amuleto para ela. Essas circunstâncias levaram Dore e seu companheiro a acreditarem que a Baronesa e Robert foram assassinados por Rudolf, e Heinz Wittmer teria ajudado a encobrir o crime.

Friedrich também suspeitava do pior, alegando que os corpos poderiam ter sido queimados, utilizando madeira de acácia, que era abundante na ilha e queimava intensamente, até mesmo destruindo os ossos. As suspeitas e o mistério em torno do desaparecimento da Baronesa e de Robert alimentavam as teorias sombrias e sinistras na ilha de Floreana.

Galápagos: satã chega ao éden

O desenrolar dos eventos após o desaparecimento da Baronesa e de Robert continuou a ser repleto de mistério e intriga. Rudolf, o principal suspeito no caso, estava ansioso para deixar a ilha e conseguiu convencer o pescador norueguês Nuggerud, proprietário do barco “Dinamita”, a levá-lo até a ilha de Santa Cruz e, posteriormente, para a ilha de São Cristóvão, de onde pretendia pegar uma balsa para Guayaquil.

No entanto, o barco norueguês desapareceu durante a viagem entre Santa Cruz e São Cristóvão. A bordo do barco estava o jornalista sueco Rolf Blomberg, que tinha interesse em conhecer a ilha e, em particular, a Baronesa. Ele acabou se envolvendo na investigação do desaparecimento do casal e divulgou a história por meio de seu trabalho como jornalista.

A situação tomou um rumo ainda mais sombrio quando o barco no qual Rudolf estava desapareceu sem deixar rastros. Nuggerud relutantemente concordou em partir imediatamente, apesar de suas superstições em relação à sexta-feira 13, após ser persuadido por Rudolf com mais dinheiro. No entanto, o barco nunca chegou ao seu destino, e o destino de Rudolf e dos outros tripulantes permaneceu um mistério.

Os eventos subsequentes envolvendo o desaparecimento da Baronesa, Robert e Rudolf apenas aprofundaram o enigma e as teorias obscuras sobre o que realmente aconteceu na ilha de Floreana.

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O achado dos corpos mumificados de Rudolf e Nuggerud na ilha Marchena em dezembro de 1934, apenas intensificou o mistério e levantou mais perguntas sobre como eles chegaram lá. A ilha Marchena está localizada no extremo norte do arquipélago de Galápagos, a cerca de 100 quilômetros da ilha mais próxima, o que torna ainda mais intrigante a presença deles lá, considerando que estavam a caminho de São Cristóvão.

A teoria mais plausível é que, antes de chegar a São Cristóvão, o barco ficou sem combustível ou teve uma falha mecânica, deixando-os à deriva. As correntes marítimas de Galápagos, que seguem para o norte nessa época do ano, possivelmente os levaram até a ilha Marchena. Infelizmente, eles morreram de fome e sede, sendo a sede o principal fator que contribuiu para suas mortes.

A descoberta dos corpos e a forma como foram encontrados somente acrescentaram mais elementos enigmáticos a essa história cheia de intrigas e tragédia. Ainda hoje, o caso do desaparecimento e morte da Baronesa, Robert, Rudolf e Nuggerud permanece envolto em mistério e continua a fascinar e intrigar pessoas interessadas na história das Ilhas Galápagos.

Com a escassez de alimentos, onde nem ovos tinham e a colheita havia morrido devido a seca. De acordo com Dore Strauch, ela deu às suas galinhas, carne de porco podre e todas elas morreram. Friedrich ferveu as galinhas para usa-las, insistindo que a fervura eliminaria o veneno e ambos comeram desta carne, tomando todas as precauções ao preparar a ave. Poucas horas depois, Friedrich foi se deitar reclamando de mal estar e passou a noite com náuseas e com dores lancinantes e morreu no dia seguinte.

Galápagos: satã chega ao éden
Os corpos mumificados de Nuggerud perto do barco e Rudolf Lorenz encontrados ao norte de Galápagos, na ilha vulcânica de Marchena

Friedrich faleceu em novembro de 1934, supostamente vítima de envenenamento alimentar após consumir um frango contaminado. Essa situação era bastante peculiar, uma vez que Friedrich era vegetariano e, como veterano da vida difícil na ilha, teria conhecimento para identificar se a carne do frango estava estragada. Muitos acreditam que ele tenha sido envenenado por Dore, uma vez que o relacionamento deles não estava indo bem.

Margret Wittmer, que foi chamada por Dore, afirma ter visto Friedrich vivo naquela manhã e oferece uma versão dos fatos. Segundo ela, Friedrich próprio culpou Dore enquanto estava à beira da morte, de forma irônica mencionando que, como vegetariano, estava morrendo de carne contaminada. Margret continua relatando que Friedrich pediu papel e caneta e, com seu último suspiro, escreveu uma única frase: “Com meu último suspiro, te amaldiçoo.” Ele então olhou para Dore com olhos cheios de ódio. Ele lutou contra a dose de morfina que Dore lhe deu e repeliu suas tentativas de tocá-lo com chutes. Horas se passaram até que finalmente sucumbiu e partiu.

Galápagos: satã chega ao éden
Sepultura de Friedrich Ritter, no lugar em que ele tanto trabalhou para retirar as pedras

Esses três eventos misteriosos despertaram o interesse de correspondentes de jornais da Europa e dos Estados Unidos, levando-os a visitar as ilhas Galápagos em busca da verdade. Isso contribuiu para a notoriedade das ilhas. No entanto, nunca foi descoberto o que realmente aconteceu com a Baronesa e seu amante, nem quem envenenou o Dr. Ritter.

Existem várias versões dos personagens envolvidos nessa história, com acusações mútuas, mas nada foi comprovado. Essa “novela de mistério” ficou gravada na memória de Galápagos e dos habitantes de Floreana. Sabe-se que Dore Strauch deixou Friedo para os Wittmer e saiu da ilha em dezembro de 1934, junto com o capitão Hancock, retornando à Alemanha. Ela tentou sem sucesso publicar os escritos filosóficos de Friedrich Ritter, mas em 1935 publicou o livro “Satan Came to Eden”, apresentando a sua versão dos acontecimentos.

Galápagos: satã chega ao éden

Dore faleceu em Berlim em 1943, devido à esclerose múltipla. Os Wittmer, por outro lado, decidiram permanecer na ilha. Eles construíram uma nova casa utilizando partes das antigas casas da Baronesa e de Friedo, que chamaram de “Asilo de la Paz”. Mais tarde, eles se mudaram para a Black Beach e construíram um hotel para receber turistas de passagem. Harry Wittmer veio a falecer em um acidente de barco por afogamento em 1952, enquanto Heinz Wittmer morreu de causas naturais em 1962. Rolf Wittmer permaneceu na ilha e fundou a Wittmer Turismo, uma bem-sucedida empresa de turismo de barcos em Galápagos. Sua irmã, Floreanita, continua a administrar o hotel da família.

Em 1959, Margret Wittmer publicou vários livros sobre Galápagos, incluindo “Floreana”, que relatava sua vida na ilha e as tragédias ocorridas. Essa história misteriosa também serviu de inspiração para o livro “The Galapagos Affair“, escrito por John Treherne. Margret Wittmer faleceu em 2000, aos 95 anos, sendo a última testemunha do Caso Galápagos.

Em boca fechada não entra mosca.” Margret Wittmer

Na Ilha Floreana, em memória dessa fascinante história, existe o Mirante da Baronesa, localizado na Baía de La Olla, onde se diz que a Baronesa Wagner costumava passar muito tempo. Além de sua beleza espetacular, esse lugar carrega uma aura de mistério que perdura até hoje.

Galápagos: satã chega ao éden
Vista da praia de Black Beach, onde a família Wittmer tem um hotel
Galápagos: satã chega ao éden
A situação de como se encontra o posto de Correio atualmente

Trailer do filme Galapagos Affair: Satan Came to Eden

Conheça a ilha de Floreana e Post Office Bay visto por um drone

Publicado originalmente em 12 de dezembro de 2015

Fontes: 1 2

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