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O misterioso Vidro do Deserto da Líbia

Entre as fronteiras de Egito e da Líbia está o Great Sand Sea ou Mar da Grande Areia Oriental, um enorme deserto de areia que se estende por cerca de 650 quilômetros de norte a sul e 300 quilômetros de leste a oeste, cobrindo uma área de aproximadamente 1.100.000 km², área essa do tamanho da Irlanda.

Os ventos dominantes organizaram essa grande massa de areia em enormes dunas de crista longitudinal que se elevam a cem metros de altura em locais e se estendem ininterruptamente por centenas de quilômetros, separadas por corredores planos de cerca de um quilômetro ou dois de largura. Nestas longas lacunas estreitas existem áreas onde o leito de rocha subjacentes estão expostos. Nestas superfícies expostas, são encontrados um curioso vidro natural.

O misterioso Vidro do Deserto da Líbia
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O chamado Desert Glass da Líbia (Vidro do Deserto da Líbia) é o mais puro vidro de sílica natural já encontrado na Terra. O vidro é geralmente de cor amarela. Pode ser muito claro ou leitoso, e até conter pequenas bolhas, manchas brancas e espirais pretos como se fosse tinta.

Acreditasse que mais mil toneladas desses vidros estão espalhados por centenas de quilômetros de deserto desolador. A maioria destes é do tamanho de pequenas pedras polidas lisas pela ação abrasiva da areia e dos ventos. Outros são pedaços de tamanho e peso consideráveis. A maior peça encontrada pesava cerca de 26 quilos.

O misterioso Vidro do Deserto da Líbia
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O vidro natural, como o vidro do deserto da Líbia, pode ser formado pela ação de raios sobre a superfície ou por atividade vulcânica ou por meteoritos atingindo a Terra. O vidro do deserto da Líbia foi datado como formado há cerca de 26 milhões de anos, o que levou os cientistas a suporem que o vidro foi formado quando um meteorito atingiu a Terra por volta dessa época, mas a ausência de uma cratera refuta essa teoria.

Em 2007, uma estrutura circular de 31 quilômetros de diâmetros chamada de Cratera Kebira, pelos descobridores – Farouk El-Baz e Eman Ghoneim da Universidade de Boston foi descoberta usando imagens de satélite, mas a evidência de ser uma cratera de impacto é quase nula. Outra teoria sugere que um cometa explodiu perto da superfície aquecendo a areia abaixo dela a temperaturas extremas, resultando na formação de uma enorme quantidade de vidro de sílica.

O misterioso Vidro do Deserto da Líbia
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A primeira descoberta científica do Deserto da Líbia foi feita por um inglês chamado Patrick A. Clayton em 1932, que trouxe as primeiras amostras de volta à Europa para estudo. No entanto, a existência do vidro era conhecida pelo homem muito antes disso. Habitantes locais no período neolítico fizeram ferramentas de vidro, e mais tarde os egípcios usaram como joia.

Quando Howard Carter descobriu o túmulo do faraó egípcio Tutancâmon, intocado pelos ladrões, em 1922, havia entre os inúmeros tesouros da tumba também a couraça do faraó, onde a imagem do besouro sagrado do Egito – o escaravelho – foi esculpida em um desconhecido material de pedra. Só muito mais tarde, em 1998 que o mineralogista italiano Vincenzo de Michele estabeleceu que este material era o Vidro do Deserto da Líbia.

O peitoral de Tutancâmon representa simbolicamente um enredo bastante complexo sobre como o sol passa pelo céu, e o escaravelho (besouro de esterco) simbolizava o renascimento e o próprio sol, que desaparecia todos os dias e ressurgia no dia seguinte. Muitos se perguntam, se os antigos sacerdotes e joalheiros egípcios sabiam sobre uma origem tão incomum do vidro do deserto.

O misterioso Vidro do Deserto da Líbia
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peitoral de Tutancâmon | Crédito da foto
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Artigo publicado originalmente em junho de 2018

Fontes: 1 2 3

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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