Animais & Natureza

Os golfinhos chapados da Austrália

O uso de drogas é uma questão bastante comum, e muitas vezes problemática entre os seres humanos. No entanto, o Homo sapiens não é a única espécie que gosta de experimentar substâncias que alteram a mente. No mundo animal, muitas espécies usam substâncias questionáveis para obter um pouco de “barato“. Os golfinhos são algumas das criaturas mais inteligentes do mundo e demonstram capacidades cognitivas comparáveis às dos seres humanos. Eles se socializam, resolvem enigmas complicados e compartilham de um peixe que solta uma substância tóxica para ficarem “altos“.

Por certos comportamentos estranhos observados em golfinhos jovens na Austrália Ocidental, especialistas acreditam que às toxinas de certos peixes podem ter um efeito inebriante sobre os eles, a partir do qual, os golfinhos literalmente entram em um estado de transe. Esse comportamento não é exclusivo dos golfinhos australianos, e de acordo com a pesquisadora da Universidade de Murdoch, Krista Nicholson que monitora os golfinhos nas águas costeiras de Peel-Harvey, há vários registros sobre esse comportamento por parte dos animais em estuários e águas costeiras em todo o mundo.

Os golfinhos chapados da Austrália

Ela observou que os golfinhos gostam de manter na boca um baiacu (Pufferfish) e brincar com ele por certo tempo e depois passa-lo a outro golfinho, e assim sucessivamente, sem no entanto, matar o peixe. O baiacu, libera uma toxina mortal chamada tetrodotoxina (TTX) presente na pele, carne e órgãos internos, que é dez vezes mais legal que o cianeto e que age como bloqueador do canal de sódio (atuam inibindo o afluxo de sódio através de membranas celulares). O veneno mata a vítima por asfixia provocada pela paralisação paulatina dos músculos do corpo (pés, mãos, cérebro, pulmões e coração) e não existe antídoto para o veneno. Os baiacus quando provocados, para se protegerem inflam e liberam a toxina, mas os golfinhos parece terem encontrado uma forma de fazer o peixe liberá-la na quantidade para não matar, mas para obter um certo efeito narcótico.

Os golfinhos chapados da Austrália

Os japoneses conhecem muito bem a toxina do baiacu, peixe que chamam de fugu, e às pessoas pagam caro para comer a iguaria que pode matar em minutos caso não seja preparada adequadamente. O governo japonês calcula que cerca de 20 mortes por ano são causadas pelo envenenamento por fugu. Por isso, o peixe só pode ser preparado por mestres especializados treinados no Japão, num curso de três anos. Neste curso, o especialista aprende a retirar o veneno concentrado nas gônadas, no fígado e na pele do peixe sem que a carne seja contaminada.

Uma refeição completa de fugu custa muito caro. Em alguns restaurantes americanos onde a iguaria é servida, o prato chega a custar mais de US$ 350. No Japão, chega a 20 mil ienes (cerca de R$ 350 reais). Por ser tão cara, a carne do fugu é cortada em fatias finíssimas para aproveitar o máximo – as fatias são tão finas, que é possível enxergar o fundo do prato através da carne. Quem provou e viveu para contar diz que o sabor da carne de fugu nem é tão bom assim, além de a carne ser um tanto rija.

Os golfinhos chapados da Austrália

Esse comportamento nos golfinhos já foi observado outras vezes. A bióloga marinha Lisa Steiner em 1995 publicou um artigo sobre o comportamento incomum de golfinhos ao largo da costa de Portugal. Em 2014, um documentário chamado “Dolphins: Spy in the Pod”, uma série produzida pela BBC, onde o comportamento estranhos dos golfinhos foi gravado pela primeira vez. O zoólogo da série, Rob Pilley comentou: “Os golfinhos lidam com o peixe de maneira delicada, como se não quisessem machucá-lo ou matá-lo, e passa-o para os outros. Depois começaram a se comportar como se estivessem hipnotizados“.

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No entanto, esse ponto de vista é contestado pela comunidade científica, com o argumento que uma pequena quantidade de tetrodotoxina iria fazer o animal se sentir entorpecido, mas não iria drogá-lo. Em pequenas doses, a toxina causa dormência, formigamento e tontura (o fugu preparado pelos mestres japoneses, também causa), mas não iria alterar a mente, que é o principal efeito dos narcóticos. Os golfinhos são famosos por brincar usando outros itens, como algas marinhas ou caranguejos, portanto, o baiacu pode fazer parte do mesmo ritual e sendo animais espertos, sabem que o peixe é perigoso.

Os golfinhos chapados da Austrália

Não só o golfinho pode estar usando o baiacu para ficar de ‘cabeça feita‘, como dizem os viciados, quando estão sob efeito de drogas, como outros animais tem comportamento estranho após ingerir certas substâncias, como o elefante africano e outros animais que ficam bêbados após comer em excesso a fruta da marula (Sclerocarrya birrea), devido ao álcool que é gerado no processo de maturação.

Há outra versão, que diz que os elefantes mudam seu comportamento, por comer somente a casca da tal árvore marula, onde uma espécie de besouros deposita seus ovos, e estes contêm substâncias tóxicas. Há alguns casos relatados, quando os elefantes bêbados se tornaram descontrolados e agressivos. Em 2002, uma manada de elefantes sob o suposto efeito tóxico da árvore invadiu uma aldeia e mataram seis pessoas. Em 2007, elefantes invadiram um armazém carregado de cerveja e destruíram o lugar, sem antes beber a cerveja que escorria pelo chão, e quem testemunhou isso, diz que eles sabiam o que estavam fazendo e procurando se embeberam com o líquido.

Catnip é talvez o exemplo mais famoso do uso de drogas no reino animal. Catnip (Nepeta cataria) é uma planta da família da hortelã que contém um atrativo para os felinos chamado nepetalactone. Quando cheirado, a nepetalactone liga-se aos receptores no nariz do gato. Isso permite que a substância química seja absorvida com bastante rapidez. A nepetalactone estimula os neurônios sensoriais que projetam centros de “prazer” no cérebro dos gatos. Curiosamente, os seres humanos podem preparar um chá de catnip, mastigá-lo ou mesmo fumá-lo, mas o efeito é insignificante – no máximo, é tão relaxante como uma xícara de chá de camomila.

A palavra grega para ‘bêbado‘ é methysménos, que significa ‘intoxicado de mel‘. Na natureza, as abelhas consomem subprodutos de plantas açucaradas, como frutos e seiva de árvores. No entanto, se estes subprodutos ficarem muito tempo no sol, os açucares começam a fermentar, criando álcool. As abelhas bebem esse néctar infundido com álcool e demonstram comportamento de ‘bêbadas‘, cambaleando, batendo nas coisas e caindo sem querer. No entanto, suas companheiras de colmeia não têm tolerância para os membros que voam sob a influência alcoólica. Às vezes, quando uma abelha bêbada volta para casa, ela é atormentada pelas outras, como pode ser observado no vídeo abaixo.

Locoweed é um nome comum na América do Norte para qualquer planta que produz “Swainsonine”, uma fitotoxina prejudicial para o gado. Em todo o mundo, a swainsonina é produzida por um pequeno número de espécies, a maioria em três gêneros da família de plantas da flor fabaceae: Oxytropis e Astragalus na América do Norte, e Swainsona na Austrália. O termo locoweed geralmente se refere apenas às espécies norte-americanas da Oxytropis e Astragalus e o nome vem da palavra espanhola para ‘louco‘, devido às suas propriedades de alteração da mente. Durante o início do outono e final da primavera, quando as pastagens e vegetação ficam num tom marrom, a locoweed esta numa atraente cor verde e os cavalos são atraídos pelas plantas.

Locoweed é neurotóxico, e em doses elevadas podem produzir efeitos negativos. A swainsonine para a produção de enzimas que quebram os açucares. Isso provoca um acúmulo tóxico de açucar nas células. Os cavalos que comem locoweed tornam-se deprimidos, letárgicos, perdem peso e desenvolvem problemas comportamentais. Os fazendeiros têm que patrulhar seus campos para garantir que os cavalos não sejam atraídos pelas locoweed.

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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