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Ponte Shaharah: Uma estrutura defensiva estratégica no Iêmen

A Ponte Shaharah, uma obra do século 17 no Iêmen, transcende sua aparência inicial com histórias intrigantes. Projetada para desmoronar rapidamente em caso de invasão turca, revela uma solução engenhosa para antigos desafios. Estendendo-se por um cânion de 91 metros entre as montanhas Jabal al Emir e Jabal al Faish, na Cordilheira Ahnum, noroeste do Iêmen, a ponte continua sendo um elo vital para aldeias locais. Com 20 metros de comprimento e 3 metros de largura, é predominantemente construída com calcário abundante nas montanhas, conectando-se artisticamente às paisagens. Situada a 140 quilômetros da capital, Sanaa, a ponte conduz à cidade de Shaharah.

Habitadas por séculos, as montanhas Ahnum, parte do Iêmen antigo, testemunharam uma história rica. No fundo da Península Arábica, o Iêmen, fértil e com chuvas regulares, serviu como rota natural para o comércio entre a África Oriental e o Oriente Médio. Evidências arqueológicas indicam assentamentos significativos nas montanhas desde 5000 aC, destacando a importância histórica e a resiliência dessa região.

Ao longo dos milênios, os habitantes dessas montanhas enfrentaram desafios ao obter suprimentos, uma tarefa árdua e perigosa. Apesar da proximidade entre Jabal al Emir e Jabal al Faish, a falta de uma conexão direta obrigava os aldeões a escalarem o fundo do cânion para se encontrarem ou trocarem mercadorias. Essa jornada, além de árdua, apresentava trechos perigosos, tornando quase impossível o transporte de grandes quantidades de bens.

A invasão dos turcos otomanos em 1500 agravou a situação, levando à ocupação de Shaharah. Após recuperar a liberdade no século 17, o líder local Al-Usta Saleh tomou medidas para proteger sua cidade. Contratou o arquiteto Salah al-Yaman para construir uma ponte única e estratégica que poderia ser destruída em caso de nova invasão. A construção, que levou três anos e custou uma soma significativa na época, utilizou ferramentas tradicionais e recursos locais.

A forma exata da construção da ponte no século 17 permanece envolta em mistério, com lendas sugerindo diferentes explicações. Uma narrativa conta sobre várias pontes menores construídas abaixo da principal para facilitar a transferência de suprimentos em terreno acidentado, com vestígios dessas estruturas ainda visíveis. Outra lenda atribui a Salah al-Yaman apenas dez metros da ponte, sugerindo que os dez metros restantes foram concluídos por uma pessoa desconhecida da montanha adjacente (Khalife, 2015).

A Ponte Shaharah, única entrada para a cidade fortificada de Shaharah, resistiu como um bastião inacessível até os ataques aéreos durante o conflito civil dos anos 1960 no Iêmen. A cidade, um refúgio de paz por mais de 300 anos, abriga os Imans da interpretação Zaidi do islamismo xiita, destacando seu papel central na erudição religiosa desde o século X.

Shaharah transcende uma simples aldeia em busca de tranquilidade, sendo a cidadela dos Zaidis. No século X, Abul Qasim Muhammad bin Yahya bin Al-Husayn, segundo líder dos Zaidis, escolheu as terras altas do norte como centro do pensamento religioso. Hoje, as mesquitas e escolas Zaidis pontuam o norte do Iêmen, e os Zaidis, conhecidos pela ala política, os houthis, mantêm sua influência.

Antes da guerra civil, a Ponte Shaharah era uma atração turística popular, apelidada de “Ponte dos Suspiros”. A caminhada até esta ponte de pedra rudimentar, estendendo-se entre montanhas, oferecia uma visão espetacular que deixava os aventureiros sem palavras.

Fontes: 1 2

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