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Victor Noir: Uma estátua com uma ereção post mortem

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O Cemitério Père-Lachaise, em Paris, é o último lar de muitas figuras célebres, desde ícones da cultura como Jim Morrison e Oscar Wilde até personagens menos conhecidos, como Victor Noir. Este jovem jornalista, cuja vida foi tragicamente interrompida aos 22 anos, ganhou notoriedade não só pelo seu trabalho, mas também pela forma como encontrou a morte.

O monumento imponente

No coração deste cemitério repousa um monumento singular: a estátua de Victor Noir, uma obra magistral do escultor francês Jules Dalou. Feita em bronze, a estátua retrata Noir em sua última pose, vítima de um tiro desferido pelo príncipe Pierre Bonaparte, sobrinho-neto do imperador Napoleão Bonaparte e primo do então governante, Napoleão III.

A representação de Noir, com sua camisa desabotoada e a cartola caída ao lado, é tão realista que parece congelada no tempo.A estátua também mostra de forma clara uma grande ereção post mortem, um priapismo habitual nos cadáveres de homens que são enforcados.

Um episódio trágico

A história por trás da morte de Victor Noir remonta ao século XIX, quando ele trabalhava como aprendiz de jornalista para o jornal La Marseillaise. O dono do jornal, Henri Rochefort e o editor, Pascal Grousset, se envolveram numa discussão com Pierre Bonaparte. A fim de resolver a questão de uma forma honrosa, Pascal Grousset enviou Victor Noir e outro empregado para a casa de Bonaparte para entregar um desafio para um duelo.

O príncipe Pierre Bonaparte originalmente recusou o desafio e afirmou sua vontade de lutar com Henri Rochefort. Uma discussão entre o príncipe e os funcionários do jornal, resultou no príncipe sacar sua pistola e atirar a queima roupa em Victor Noir, matando-o na hora.

A atriz e modelo Dita Von Teese beijando a estátua

A revolta popular

O funeral de Noir se tornou um evento de grande comoção, com dezenas de milhares de pessoas comparecendo à sua residência em Neuilly. A absolvição de Pierre Bonaparte gerou ainda mais revolta, exacerbada pela queda do império poucos meses depois e pela invasão prussiana. A morte de Noir, inicialmente esquecida, ressurgiu décadas depois, quando decidiu-se erguer um memorial em sua homenagem.

O memorial controverso

A estátua de Victor Noir, baseada em desenhos da imprensa da época, foi concebida com detalhes impressionantes, inclusive uma ereção póstuma. A partir de 1970, o túmulo de Noir se tornou um local de peregrinação incomum, com visitantes seguindo rituais supersticiosos para atrair fertilidade ou encontrar um parceiro amoroso.

O culto ao túmulo

Segundo a lenda, quem visita o túmulo deve colocar uma flor na cartola de Noir, beijar seus lábios e, por fim, tocar sua área genital. Esses gestos, acredita-se, trazem benefícios como fertilidade e sucesso romântico. Outras versões afirmam que a simpatia serve para mulheres solteiras conseguirem um marido. Com o tempo, a estátua adquiriu um brilho peculiar em suas partes íntimas, resultado da repetição desses rituais ao longo dos anos.

A polêmica da cerca

Em 2004, uma cerca foi erguida ao redor do túmulo para proteger a estátua da indevida manipulação. No entanto, a reação popular foi imediata: as mulheres, especialmente, ficaram indignadas com a restrição e derrubaram a cerca em protesto.

Conclusão

A história de Victor Noir transcende sua breve vida e morte trágica, tornando-se um símbolo de persistência na memória coletiva. Seu túmulo, adornado com uma estátua marcante e envolto em rituais supersticiosos, continua a atrair visitantes de todo o mundo, alimentando a aura de mistério e reverência em torno de sua figura.

Texto publicado originalmente em julho de 2015

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