Histórias

Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricos

Desde a invenção das armas de fogo por volta do século 18, os fabricantes de munição se esforçaram para produzir balas de chumbo que ficassem perfeitamente esféricas. Um método óbvio era derramar chumbo derretido dentro de moldes, mas era um processo caro e trabalhoso, e que produzia apenas uma quantidade limitada de projéteis de cada vez. Além disso, o processo deixava rebarba que tinham que ser aparadas manualmente, e às vezes tornando às balas ineficientes aerodinamicamente.

Os fabricantes tentaram derramar chumbo derretido através de uma peneira suspensa a alguns centímetros acima de um barril de água, mas isso acabava produzindo balas em forma de gotas com cauda. Outro método que foi utilizado até o início do século 19, era agitar pequenos cubos de chumbo dentro de um barril, até que os cantos dos cubos fossem abastados e polidos e ficassem redondos. No entanto, nenhum destes métodos eram satisfatórios, e a demanda por balas de revolveres e espingardas, tanto para fins militares ou recreativos cresciam continuamente.

Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Remington Shot Tower em Bridgeport, EUA | Crédito da foto

A grande sacada veio em 1782, quando um encanador britânico chamado William Watts, de Bristol descobriu que o segredo para se produzir balas perfeitamente redondas, era deixar cair o chumbo derretido não apenas alguns centímetros dentro de barris de água, mas sim, de grande altura. Para chegar a isso Watts, apenas imitou a natureza, observando os pingos de chuva esféricos caírem do céu. Quando os líquidos são deixados cair de uma altura, a tensão superficial do líquido puxa-os para uma forma que tenha a menor área de superfície, que passa a ser uma esfera. Quanto maior a tensão da superfície, mais facilmente o líquido se tornará uma esfera, e a tensão superficial do chumbo é muito maior do que a da água.

Para colocar sua ideia em prática, Watts construiu uma torre, adicionando mais três andares em sua casa, dobrando a altura da mesma. Nos três andares existentes, ele cortou buracos nos pisos e cavou um poço no piso térreo para conseguir a altura necessária. Do topo, ele despejou chumbo derretido por uma peneira e ao atingir a água no poço, seis andares abaixo, o chumbo havia se transformado em esferas perfeitas. No momento que às gotas de chumbo atingiam a água, elas começavam a se solidificar. Watts percebeu que sua descoberta poderia cortar em muito o custo de produzir balas esféricas e não perdeu tempo, em patentear sua invenção.

Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Placa na Clifton Hill Shot Tower | Crédito da foto

Não demorou muito para que torres de munição esféricas (Shot Tower) começassem a surgir por toda a Inglaterra e Europa. No decorrer dos anos, o processo mudou pouco. Fabricantes de munição adicionaram um fluxo de ar no trajeto da gota de chumbo e assim conseguiram variações no diâmetro da esfera. Na América, a primeira torre alta para produção de munição esférica foi erguida na Filadélfia em 1808 e até 1813, três grandes torres estavam operando perto de St. Louis. Nos anos seguintes, essas torres se espalharam por todo os Estados Unidos.

Em 1848, o método “torre de vento” foi patenteado por uma empresa de Nova Iorque, que usava uma rajada de ar frio para reduzir drasticamente a queda necessária para a produção de balas de chumbo esféricas. Isso significou o fim das torres altas para a produção desses projeteis. Mas mesmo assim, muitas ainda continuaram com o método de Watts, inclusive sua fabrica, que continuou produzindo do mesmo modo até 1968, quando fechou às portas e foi demolida.

Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Clifton Hill Shot Tower, a torre de produção de projétil mais alta já construída | Crédito da foto

Uma nova redução na queda necessária para a produção de balas esféricas se deu em 1961, com a invenção do “método Bliemeister”, do inventor Louis W. Bliemeister, de Los Angeles. Nesse método, o chumbo derretido é gotejado a partir de pequenos orifícios em água quente em vez de água fria e, em seguida, laminado ao longo de uma calha inclinada e depois continuam a passar por água quente, até estarem prontas. A temperatura da água controla a velocidade de arrefecimento de chumbo, enquanto que a tensão superficial do líquido e a superfície inclinada trabalham em conjunto para transformar as gotas de chumbo numa forma esférica. Em vez de uma queda de dezenas de metros de altura, pode se produzir o mesmo resultando numa altura de poucos centímetros. Esse método é usado para se produzir esferas de chumbo pequenas, já as grandes são produzidas pelo processo de estampagem no metal.

Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Detalhes da Clifton Hill Shot Tower | Crédito da foto

A torre para a produção de projeteis esféricos mais alta construída no mundo e que ainda permanece em pé, fica no subúrbio de Clifton Hill, Melbourne na Austrália. Esta estrutura de tijolos foi construída em 1882 e mede 49 metros de altura. Outra torre famosa é a The Jackson Ferry Shot Tower em Wythe Country, Virgínia, Estados Unidos. Sua construção começou por volta de 1800, sendo construída de pedras, com paredes de quase um metro de espessura, uma vez que não era aconselhável usar tijolos na área para uma construção tão alta. A torre tem 23 metros de altura e foi construída na beira de um penhasco, e um poço do mesmo comprimento foi aberto para dobrar a altura da estrutura.

Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Chester Shot Tower, em Boughton, distrito de de Chester, na Inglaterra. Construída em 1799, é a torre mais antiga ainda de pé no mundo |  Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
A Schrotkugelturm em Berlim, Alemanha | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Cheese Lane Shot Tower na cidade inglesa de Bristol. Foi construída em 1969, para substituir a torre original construída por William Watts.  | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
A Coop’s Shot Tower encoberta pelo cone da Melbourne Central, na Austrália. A torre tem 50 metros e foi concluída em 1888. A estrutura histórica foi salva da demolição em 1973 e incorporada ao complexo da Melbourne Central em 1991, coberta por um telhado de 84 metros de altura  | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Taroona Shot Tower, na Tasmânia, construída em 1870 e tem 48 metros de altura | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
O interior da Taroona Shot Tower | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Phoenix Shot Tower localizada em Baltimore, Maryland. Quando foi concluída em 1828, foi a estrutura mais alta dos Estados Unidos | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
O interior da Phoenix Shot Tower, com vista do 14º nível | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Torre em Dubuque, Iowa, EUA, construída em 1856. Produzia balas de chumbo perfeitamente esférica usadas em mosquetes. Em pleno funcionamento, podia produzir até 8 toneladas de projéteis por dia | Crédito da foto
Shot Tower, torres para produzir projéteis esféricas
Berlim, Alemanha | Crédito da foto

Fontes: 1 2 3

“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)

Postagens por esse mundo afora

Avalie este artigo!
[Total: 0 Média: 0]
Atenção! Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do usuário e não expressa a opinião do site.

Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

Adicionar comentário

Clique para deixar um comentário