Animais & Natureza

Kambô: O polêmico ritual de cura com veneno de sapo

O kambô é um antigo ritual amazônico realizado na América do Sul, onde as secreções venenosas de rã-macacos-gigantes são aplicadas no corpo para efeitos desintoxicantes e supostamente benéficos à saúde.

O Kambô, kampô ou kamboa, como é chamado dependendo da região da Amozônia, também conhecido como “vacina-do-sapo”, é um antigo ritual praticado em várias nações da América do Sul. Ele envolve a aplicação das secreções venenosas de um sapo, conhecido por vários nomes como sapo-macaco-gigante, rã-kambô, perereca-kambô no corpo, alegadamente para promover desintoxicação e melhoria da saúde. Durante a cerimônia, conduzida por um curandeiro xamã, uma área específica, como o ombro, perna ou pé, é queimada, seguida pela aplicação da secreção de kambô na ferida, resultando em cicatrizes duradouras.

Kambô: O polêmico ritual de cura com veneno de sapo

O nome “kambô” homenageia a substância venenosa obtida das secreções da pele da barriga do rã-macaco-gigante, Phyllomedusa bicolor. Este ritual, sempre controverso devido aos graves efeitos colaterais, é uma prática antiga empregada por séculos por comunidades indígenas da Floresta Amazônica para cura e purificação do corpo.

As secreções da rã kambô, utilizadas por tribos indígenas, como os índios catukinas, têm sido associadas à afastar a má sorte na pesca e caça, além de dissipar a “panema”, um estado de espírito negativo que, segundo crenças indígenas, está ligado a doenças. O veneno da rã contém dermorfina, dermaseptina e deltorfina, afetando receptores neuronais sensíveis aos opiáceos e podendo alterar o nível de consciência. Os sintomas de envenenamento incluem náuseas, vômitos, diarreia, perda de controle da bexiga, tonturas, palpitações cardíacas e dores abdominais.

Kambô: O polêmico ritual de cura com veneno de sapo

Apesar de estudos controversos iniciados na década de 80, alguns componentes isolados da secreção foram patenteados. A deltorfina, por exemplo, é comercializada como medicamento. Dermaseptinas, presentes na secreção, têm propriedades antibacterianas e anti-protozoárias. No Brasil, a “vacina do sapo” in natura é considerada sem comprovação científica, sendo proibida desde 2004 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

O ritual começa com a ingestão de água ou sopa de mandioca, seguida pela queima da pele da pessoa e a aplicação do kambô nas feridas. O veneno entra na corrente sanguínea, causando efeitos quase instantâneos, como vômitos, que podem durar entre 5 e 30 minutos, ou até horas em casos raros. Após o ritual, os praticantes precisam consumir líquidos para eliminar a toxina residual, mas mesmo seguindo as instruções, ficam expostos a riscos como vômitos prolongados, espasmos musculares e convulsões.

Kambô: O polêmico ritual de cura com veneno de sapo

O kambô é proibido em alguns países, embora seja legal nos Estados Unidos, não sendo regulamentado por órgãos de saúde. A coleta do kambô é desafiadora, pois os rã-macaco-gigantes são animais noturnos. A vocalização única desses sapos serve como guia para os xamãs localizarem seus ninhos, e após a coleta, os sapos são libertados na floresta.

O ritual amazônico, entretanto, atraiu escrutínio, especialmente após investigações sobre as mortes relacionadas ao kambô. Em 2019, Natasha Lechner, de 39 anos, realizou uma cerimônia de kambô em sua casa para aliviar dores crônicas nas costas. Após a aplicação do veneno, ela desmaiou e faleceu minutos depois.

Outro caso envolveu Jarrad Antonovich, de 46 anos, que morreu após experimentar o kambô em um retiro em Byron Bay para tratar doenças crônicas. Testemunhas relataram que ele parecia indisposto após o ritual, e horas depois, não conseguia mais andar, apresentando inchaço significativo no rosto. Às 23h30, após a ingestão de ayahuasca, ele desmaiou, e os paramédicos não conseguiram salvá-lo. Apesar dos riscos associados a rituais como o kambô, algumas pessoas ainda optam por eles como alternativa à medicina convencional, especialmente quando se sentem desiludidas com esta última.

Kambô: O polêmico ritual de cura com veneno de sapo

A rã-kambô, encontrada na Bacia Amazônica na América do Sul, habita áreas que incluem Venezuela, Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia e Guianas, variando em altitudes de 0 a 800 metros acima do nível do mar. Pertencente à família das pererecas-arborícolas, essa rã também é conhecida como rã-macaco-gigante devido ao seu comportamento de escalar e ser frequentemente encontrada em galhos de árvores na floresta.

Essas pererecas são noturnas, e os machos, durante a noite, emitem chamados altos para defender territórios e atrair parceiras, enquanto as fêmeas concentram-se na busca por alimentos. Carnívoras, alimentam-se de insetos e outras pequenas criaturas. A predação dos ovos da rã-kambô é significativa, com uma taxa de até 61%, envolvendo besouros estafilinídeos, moscas forídeas, macacos-prego e outros predadores.

Kambô: O polêmico ritual de cura com veneno de sapo

Uma adaptação interessante da rã-kambô é sua capacidade de se enterrar no solo durante períodos de seca, reduzindo a exposição a altas temperaturas e conservando água. A espécie está classificada como “Pouco Preocupante” na Lista Vermelha da IUCN, indicando que, atualmente, não há evidências de ameaças significativas, dada sua distribuição ampla e população estável.

Com um comprimento médio de 9 a 12 cm, as fêmeas são maiores que os machos, impulsionadas pela necessidade de produzir ovos. Elas constroem ninhos com folhas onde depositam os ovos, geralmente em árvores penduradas sobre corpos d’água, permitindo que os girinos, ao eclodirem, caiam na água para se desenvolverem em rãs.

Fontes: 1 2

Avalie este artigo!
[Total: 0 Média: 0]
Atenção! Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do usuário e não expressa a opinião do site.

Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

Adicionar comentário

Clique para deixar um comentário