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O telescópio grande demais para ser usado

Em algum lugar dentro do edifício histórico do Observatório de Paris, nas margens do rio Sena, na França, estão guardadas em caixas, algumas das maiores lentes de telescópio já fabricadas. Duas dessas lentes medem 1,25 metros de diâmetro e eram os componentes mais importantes do maior telescópio refrator inventado pelo homem.

A construção do telescópio para a Grande Exposição de Paris, idealizado por François Delonde, começou em 1892, pouco meses depois do governo francês anunciar planos para a Paris Universal Exhibition of 1900. A ideia era construir uma estrutura tão impressionante como a Torre Eiffel, que tinha sido construída para a Feira Mundial de 1889, e que depois acabou virando permanente. Feiras como essas, eram realizadas por toda a Europa, com a intenção de mostrar ao mundo os avanços dos países sedes na indústria, ciência e tecnologia. Os países competiam por prestígio, exibindo seus produtos, máquinas, realizações culturais e ambições imperiais.

O telescópio grande demais para ser usado

Três anos antes, a França tinha realizado com sucesso a Feira Mundial de 1889 e estava usufruindo ainda da fama, quando chegou a notícia de que a Alemanha planejava realizar uma feira internacional em 1896 ou, eventualmente, em 1900. A notícia caiu como uma bomba, porque a França acreditava que o país que sediou a exposição no limiar do novo século iria definir ao mundo, a filosofia do século 19. O governo francês decidiu agir rápido e anunciou a Feira Universal de 1900, só para sair na frente da Alemanha.

A peça central da exposição era o Grande Telescópio de Exposições de Paris alojado dentro do pavilhão Palais de l’Optique. O telescópio tinha duas lentes objetivas intercambiáveis de 1,25 metros de diâmetro cada, uma para observação visual e a outra para fazer chapas fotográficas. Elas tinham uma distância focal de 57 metros, e o tubo de aço que as abrigava, tinha 1, 50 metros de diâmetro por 60 metros de comprimento, construído sobre sete pilares de concreto e aço, a sete metros acima do solo. Devido ao seu tamanho extremamente grande, o telescópio foi montado numa posição horizontal fixa. A luz dos objetos astronômicos era captada e redirecionada para o conjunto de tubo óptico, através de um espelho plano móvel com dois metros de diâmetro e quatro toneladas, chamado Siderostat de Foucault, que levou nove meses para ser fabricado. A lente ocular do telescópio tinha sido colocada em trilhos para que se pudesse ser deslocada 1,50 metros para a focagem. Com a menor potência de 500 ×, o telescópio tinha um campo de visão de três minutos de arco.

O telescópio grande demais para ser usado

François Delonde que ficou conhecido como “A Lua a um metro“, muito antes de o telescópio estar exposto e ser experimentado, ele já anunciou num discurso à Sociedade Francesa de Economia Industrial e Comercial, que o telescópio permitiria que se pudesse observar a superfície da Lua à um metro de distância. Na realidade, o telescópio não permitiu ver a Lua a um metro, mas a 67 quilômetros de distância, o que já era um resultado considerável na época e nunca antes alcançado.

O telescópio ficou em exposição durante cerca de um ano, durante o qual foram feitas apenas algumas observações científicas. Os astrônomos observaram manchas solares e nebulosas, e também foram feitas grandes fotografias da superfície da Lua, apesar do fato de que a localização do telescópio, não era ideal para a observação astronômica, sendo muito próximo a luzes potentes e brilhantes. No final, o telescópio acabou por ser em grande parte um truque e não um instrumento astronômico sério. Durante a feira, milhares de pessoas vieram ver o telescópio, pagando alguns francos, para olhar através da ocular.

O telescópio grande demais para ser usado

A empresa, que tinha sido escolhida em 1886 para construir o telescópio declarou falência após a exposição, e o telescópio foi colocado em leilão em 1909. Ninguém se interessou em comprar o “elefante branco”, e assim, ele foi desmontado e vendido como sucata. O espelho de dois metros de diâmetro está desde então, em exibição no Observatório de Paris e as duas lentes foram recentemente descobertas guardadas no depósito do observatório. Ao longo de sua existência, o telescópio foi alvo de muitas piadas e caricaturas, muito comum na época. Em parte, isso deveu se à crença da comunidade acadêmica de que o telescópio era completamente inútil, o que certamente pode ter sido para a ciência, mas como peça central numa exposição, mostrando o melhor dos recentes avanços da indústria e da tecnologia, no entanto, pode ter servido a um propósito.

O telescópio grande demais para ser usado

Atualmente, quase todos os grandes telescópios ópticos utilizados para fins astronômicos são telescópios refletores, porque não tem limitações em tamanho e restrições tecnológicas como os telescópios refratores. O maior telescópio refrator em funcionamento é o do Observatório de Yerkes, em Williams Bay, Wisconsin, EUA e utiliza um refrator de 40 polegadas (1.02 metros), 23 centímetros menor que o telescópio da Grande Exposição de Paris.

O telescópio grande demais para ser usado

O telescópio grande demais para ser usado

O telescópio grande demais para ser usado

O telescópio grande demais para ser usado
Uma caricatura de 1892 ridicularizando a proposta de François Deloncle “de ver a Lua a um metro”.

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“Tudo o que o homem não conhece não existe para ele. Por isso, o mundo tem para cada um o tamanho que abrange o seu conhecimento”. – Carlos Bernardo González Pecotche

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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