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A cidade perdida de Nan Madol

Poucos estão cientes de um sítio arqueológico enigmático situado nos Estados Federados da Micronésia, mais precisamente na ilha de Pohnpei, na vastidão da Oceania. Esta ilha, distante cerca de 2.600 km da Austrália, abriga um tesouro histórico em forma de uma cidade construída inteiramente com pedras basálticas.

A datação desta cidade, entretanto, é um ponto de debate entre os especialistas, aumentando ainda mais o véu de mistério que a envolve. Acredita-se que este lugar tenha desempenhado um papel crucial como centro político de um reino de grande importância, apesar dos recursos escassos da região, notadamente a limitada oferta de água doce, que tem gerado discussões acerca do estilo de vida e do progresso alcançado por seus antigos habitantes.

A cidade perdida de Nan Madol

Nan Madol, mais conhecida como “A Veneza do Pacífico”, conforme a tradição local, foi o domínio da lendária dinastia Saudeleur, uma narrativa que adiciona um toque de mito à sua história. A época áurea dessa cidade é frequentemente situada no intervalo entre os anos 1200 e 1700. Erguida sobre um intrincado recife de coral, suas ruínas figuram como um dos conjuntos mais antigos e enigmáticos encontrados no vasto Pacífico, rivalizando em mistério até mesmo com os famosos “moais” da Ilha de Páscoa.

Hoje, o complexo arqueológico repousa sobre 92 ilhotas artificiais, interligadas por uma complexa rede de canais. Essa formação cria uma lagoa protegida das investidas do mar, resultado da engenhosidade da construção de muros que a separavam das águas revoltas do oceano.

A cidade perdida de Nan Madol

Diante de nós se estende um complexo arqueológico de proporções grandiosas, compreendendo uma variedade de estruturas em pedra basáltica, que incluem templos, residências, sepulturas e construções diversas, algumas delas com paredes que se elevam a impressionantes 7 metros de altura. Um feito monumental, já que milhares de toneladas dessas pedras foram transportadas de locais distantes.

No entanto, a interrogação central persiste: como essas pedras foram transportadas até a ilha de Pohnpei e como as obras foram realizadas? Tudo isso ocorreu em um contexto de limitações tecnológicas, com a notável ausência de equipamentos como roldanas e ferramentas de metal. Este enigma tem instigado inúmeros especialistas desde então.

A cidade perdida de Nan Madol

Desde que conquistou o status de Patrimônio Mundial em 2016, o local tem sido alvo de um constante fluxo de perguntas por parte de especialistas que buscam decifrar seus segredos. O mistério é ampliado pela ausência de baixos-relevos ou outras formas de expressão artística que poderiam fornecer pistas sobre os construtores da enigmática cidade de Nan Madol.

Estudos indicam que os primeiros assentamentos na área podem remontar ao século I d.C., mas somente no século XII começaram as impressionantes empreitadas megalíticas que ainda subsistem hoje. A própria cidade ocupa uma área vasta, abrangendo cerca de 75 hectares. As pedras utilizadas na construção têm em média cinco toneladas, algumas chegando a impressionantes cinquenta toneladas. Os muros, com alturas que chegam a quinze metros, são um testemunho incrível de habilidade construtiva, cujas técnicas continuam um enigma, desafiando o nosso entendimento atual.

A cidade perdida de Nan Madol

Os pesquisadores calculam que uma colossal quantidade de aproximadamente 750 mil toneladas de pedra basáltica foi mobilizada para a realização dessas construções monumentais. Além do que se encontra à vista, a cidade reserva surpresas submersas, reveladas por aqueles que ousaram mergulhar em suas águas. Ruas, cemitérios e várias edificações emergem abaixo da superfície, sugerindo a possibilidade de uma civilização perdida que talvez fosse muito mais influente e vital do que se imaginava. Estudos que se utilizam de imagens de satélite apontam para a presença de muitos mistérios ainda não revelados nesse intrigante sítio arqueológico.

A cidade perdida de Nan Madol

A mitologia local, compartilhada num artigo da renomada revista National Geographic, desenha uma narrativa fascinante para explicar a origem da cidade. De acordo com a lenda, Nan Madol teria sido erguida por gêmeos feiticeiros chamados Olisihpa e Olosohpa, os quais, em sua canoa, chegaram procedentes de um lugar de natureza mítica: Katau Ocidental. Os ilhéus atuais preservam essa tradição, que narra que os gêmeos bruxos contrastavam em estatura com os habitantes locais, sendo notavelmente mais altos.

Sua jornada os conduziu à ilha em busca de um espaço adequado para erigir um altar dedicado a Nahnisohn Sahpw, o deus da agricultura que veneravam. Para concretizar tal feito, conduziram um ritual mágico que envolveu um dragão voador, permitindo que pedras basálticas de grande porte fossem levitadas. Vale destacar que a temática da levitação de pedras em larga escala não é exclusiva deste contexto, pois, na Ilha de Páscoa, uma lenda autóctone também descreve os moais levitando para suas plataformas por meio de uma força espiritual conhecida como “mana”.

A cidade perdida de Nan Madol

Após o falecimento de Olisihpa, seu irmão Olosohpa ascendeu ao posto de primeiro líder da dinastia Saudeleur, cujo nome traduz-se como “Era do Senhor de Deleur”. Ele contraiu matrimônio com uma nativa e sua descendência deu origem a uma sequência de governantes que transformaram Nan Madol no epicentro político, religioso e capital de sua dinastia.

As limitações de recursos na área impeliram os governantes de Nan Madol a buscar suprimentos essenciais, como água e alimentos, em lugares distantes. A escassez de sustentabilidade revelou-se um desafio, afetando de maneira aparente a cidade de Nan Madol. Eventualmente, problemas relacionados ao fornecimento de água e alimentos levaram ao abandono da cidade. É estimado que, em seu auge, a população da cidade alcançava aproximadamente 25.000 indivíduos.

A cidade perdida de Nan Madol

O complexo urbano incluía um recinto especial, apontado como o provável local onde a elite religiosa e política da cidade residia. Nos registros locais, é narrada a chegada de guerreiros liderados por Isokelekel, que chegaram à ilha vizinha de Kosrae por volta de 1628. Estes guerreiros estabeleceram um regime tribal, cujas raízes ainda se mantêm nos tempos atuais.

Dentro deste complexo arqueológico, encontram-se túmulos circundados por imponentes muros com uma altura de 8 metros. Estes sepulcros eram reservados como propriedade de reis e sacerdotes, reforçando a importância religiosa e política que a cidade representava naqueles tempos distantes.

A cidade perdida de Nan Madol

A tradição local envolve as ruínas de Nan Madol com um ar de mistério e superstição, sugerindo que a morte espreita nos resquícios da cidade durante a noite. Isso resulta em um verdadeiro tabu para muitos habitantes locais, que evitam a área. Apesar disso, o turismo foi permitido a uma escala limitada, visto que Nan Madol permanece relativamente desconhecida fora da região da Micronésia. No entanto, a UNESCO reconhece a urgência da situação, designando-a como um patrimônio em perigo, especialmente devido à condição dos canais artificiais. Existe a preocupação de que, em um futuro não muito distante, a cidade misteriosa possa ser engolida pelas águas lamacentas que a cercam.

A cidade perdida de Nan Madol

Nan Madol, sem sombra de dúvida, deixa mais perguntas do que respostas para os pesquisadores. A identidade de seus antigos habitantes, o verdadeiro alcance da influência política exercida pelos governantes dessa cidade intrigante, bem como as técnicas de construção utilizadas, permanecem envoltos em incerteza. Apesar da localização das pedreiras utilizadas, a natureza do desenvolvimento cultural das populações do Pacífico na época da construção do complexo gera mais interrogações do que certezas. E o desfecho enigmático da cidade, que gradualmente foi abandonada, só acrescenta às incógnitas que a cercam. Parece que algumas dessas questões podem permanecer sem resposta, evocando o fascínio contínuo de um mistério insondável.

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Créditos das imagens acima

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Na animação abaixo, poderá ter uma ideia de como seria Nan Madol

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Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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