Histórias

Batalha de Zappolino, a inusitada Guerra do Balde

De certa forma, todas as guerras são estúpidas – mas nenhuma foi mais estúpida do que a Batalha de Zappolino que foi travada por causa de um balde de madeira. A Guerra do Balde de Carvalho, como é popularmente conhecida, foi travada em 1325 entre as cidades-estados rivais de Bolonha e Modena, na Itália. Começou quando um grupo de soldados modeneses entrou furtivamente em Bolonha e roubou um balde de carvalho usado para tirar água de um poço localizado no centro da cidade cheio de objetos saqueados.

Embora o balde em si não tivesse valor histórico ou sentimental, a afronta prejudicou o orgulho de Bolonha, e os bolonheses humilhados exigiram que o balde fosse devolvido. Os modeneses recusaram devolver o balde, o que indignou os bolonheses e a guerra foi declarada entre eles.

A inusitada Guerra do Balde
Crédito da foto

Naquela época havia muita rivalidade política entre facções na Itália. Os Guelfos, que apoiavam o poder do papa na região do norte e no centro da Itália e os gibelinos, que apoiavam o poder do Sacro Império Romano na região. Esses conflitos e rivalidades estavam presentes desde o século 6, com o Conflito de Investidura, começando com uma declaração do papa Gregório VII, de que o Imperador estava sob poder direto da igreja.

Modena, uma cidade que apoiava os gibelinos, era constantemente assaltada e saqueada pelas cidades rivais, mais notadamente Mantua e Bolonha. Talvez o mais famoso conflito Guelfos-Gibelino seja a disputa entre as famílias fictícias de Montague e Capuleto em Romeu e Julieta, de Shakespeare.

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Bolonha reuniu um enorme exército de 30.000 soldados a pé, desastradamente armados, mais 2.000 cavaleiros, que marcharam em direção ao campo de batalha localizado perto do que hoje é a comuna de Zappolino. Enfrentando-os havia um exército insignificante de apenas 5.000 homens e 2.000 cavalheiros que Modena conseguiu reunir. Quem liderava ambos os exércitos, de Modena e Bologna respectivamente, eram Cangrande della Scalla, líder dos gibelinos e Azzone Visconti de Milan, contra Rinaldo, marques de Ferrara.

A inusitada Guerra do Balde
Réplica do balde sendo exibido na Câmara Municipal de Modena | Crédito da foto

Os soldados de Bolonha, que estavam descendo uma ladeira, acabaram sendo atraídos por um ardil enquanto estavam sendo atacados pelas forças de Modena. Os bolonheses acabaram ordenando a retirada deles. Apesar de estar em desvantagem de quase seis contra um e praticamente cercado pelo inimigo, o exército de Modena lutou bravamente e em questão de horas a batalha acabou – com os bolonheses correndo em retirada e seus inimigos perseguindo-os. O exercito de Modena não só perseguiu os bolonheses humilhados, como conseguiram romper os portões da Bolonha e destruíram vários castelos e uma eclusa do rio Reno, privando assim a cidade de água.

O exército de Modena poderia sitiar a cidade, mas preferiram não fazê-lo. Em vez disso, eles decidiram humilhar seus inimigos. Então no lado de fora dos portões da cidade, os homens de Modena provocaram seus inimigos derrotados organizando um evento esportivo medieval, com os dizeres: “A eterna memória daqueles enviados na expedição e a eterna vergonha de Bolonha“.

Duas mil pessoas morreram durante a batalha, de ambos os lados. Como se os bolonheses não estivessem envergonhados o suficiente, antes de retornar a Modena, os homens roubaram um segundo balde de um poço, fora de um dos portões da cidade. Vinte e seis homens proeminentes de Bolonha foram capturados e ficaram encarcerados por onze semanas em Modena.

A inusitada Guerra do Balde

Após a guerra, as duas partes concordaram com a paz e Modena devolveu algumas propriedades que anteriormente havia capturado em Bolonha, como um gesto de boa vontade, mas o balde nunca foi devolvido e está em exibição até hoje, no porão da Torre della Ghirlandina, a torre do sino da Catedral de Modena. A batalha também mudou o cenário entre guelfos e gibelinos na Itália, deixando dessa vez, os gibelinos como facção dominante. Entretanto, os conflitos estavam longe de acabar e eles só tiveram um fim no século 16, com as guerras italianas, que alterou tanto o cenário político da região que tal rivalidade entre facções se tornou obsoleta.

O conflito foi tão sem sentido que o escritor Alessandro Tassoni escreveu um épico simulado heróico chamado “La Secchia Rapita” (O balde roubado), publicado em 1622. Mais tarde, em 1772, o compositor Antonio Salieri, conhecido rival de Mozart, compôs uma ópera cômica com o mesmo nome, realizada em Viena.

A inusitada Guerra do Balde
Torre della Ghirlandina | Crédito da foto

Fontes:  1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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