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Castelo de Cachtice, o castelo da condessa sanguinária

Nas profundezas de uma região remora da Eslováquia, escondesse um castelo em ruínas com um passado particularmente sangrento. Castelo Cachtice fica no lado íngreme no topo de uma montanha dos Cárpatos, com vista para a aldeia Cachtice abaixo. Destruído em batalhas em séculos passados, o edifício de pedra em ruínas é ligado à uma história sombria a uma suposta torturadora e assassina: Elizabeth (Erzsébet) Bathory (1560-1614), mais conhecida como a Condessa Sanguinária ou Condessa Drácula.

Castelo de Cachtice, o castelo da condessa sanguinária
Crédito da foto

Durante a maior parte da sua história, a Eslováquia que pertencia a Hungria esteve sob o domínio de oligarcas e ditadores que enterraram e desacreditaram a história da Condessa Sanguinária. Foi só após a queda da URSS em 1989, que os historiadores tiveram a chance de descobrir o que realmente aconteceu por trás daquelas muralhas em ruínas.

Em 1611, a condessa húngara Elizabeth Bathory foi acusada de torturar e matar cerca de 650 jovens mulheres dentro do castelo. Diz a lenda que os servos de Bathory atraíram mulheres jovens para os castelos da condessa com a promessa de trabalho, casa e comida, apenas para que a condessa tivesse vítimas novas permanente.

Com o tempo, a história começou a incluir acusações de ataques sexuais e transformou Elizabeth em uma pessoa obcecada pela ideia de um juventude eterna, banhando-se em sangue de virgens. Agora, talvez irremediavelmente atolada em mitos e especulações, pode ser impossível separar completamente o fato da ficção.

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O que se sabe é que Elizabeth realmente existiu e viveu no castelo, e sendo membro de uma família real húngara. Ela se casou em 1575, e como parte de um casamento arranjado aos catorze anos de idade, ela recebeu a propriedade do Castelo Cachtice e as dezessete aldeias circundantes como presente de casamento da família de seu marido, Ferenc Nádasdy.

O primeiro registro do castelo data do ano de 1276, quando foi mencionado como uma fortaleza protetora da fronteira e como sentinela na estrada para a Morávia. Originalmente construído no século 8, o castelo serviu de residência para várias famílias nobres, até ser dado a Elizabeth.

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Morando em Viena, nos primeiros anos, eles pareciam ser uma família aristocrática igual a qualquer outra de sua época – ele lutava longas batalhas longe de casa, ela administrava sua casa, as propriedades da família e cuidava dos três filhos do casal.

Embora se tenha registro de algumas acusações estranhas no início dos anos 1600, as coisas ficaram feias após a morte de seu marido em 1604, quando ela se mudou definitivamente para a Eslováquia. Passou algum tempo em sua propriedade de Beckov e no solar de Cachtice, para depois se mudar para o Castelo Cachtice. Esses foram os cenários de seus atos mais famosos e depravados.

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Alegadamente, as punições rotineiras (ainda que brutais) aos servos se transformaram em tortura e morte por infrações menores. Ela não apenas punia os que infringiam seus regulamentos, como também encontrava todas as desculpas para infligir castigos, deleitando-se na tortura e na morte de suas vítimas. O gosto pela violência levou Elizabeth a enviar seus empregados leais às aldeias vizinhas e ao campo para atrair jovens mulheres, na verdade apenas adolescentes, para trabalhar e morar no castelo.

Os moradores locais também ofereciam às filhas para que tivessem uma educação. Em todas as grandes casas e castelos aristocráticos naquela época, as esposas eram responsáveis pela atenção médica. Esse era o papel delas, além de supervisionar a preparação dos alimentos. Elizabeth estava ensinando esses tipos de habilidades, que na época envolveriam poções e rituais de ervas.

Castelo de Cachtice, o castelo da condessa sanguinária
Planta baixa do castelo

Ao longo de sua carreira sanguinária, contou também com a ajuda de quatro fieis cúmplices: Janos (também apelidado de “Ficzko”), um jovem demente mental que ajudava no ocultamento dos cadáveres e no funcionamento dos instrumentos de tortura, Helena Jo, ama dos filhos de Elizabeth e enfermeira do castelo, Dorothea Szentos (ou “Dorka”), uma velha governanta e Katarina Beneczky, uma jovem lavadeira acolhida pela condessa.

Nos anos que se seguiram à morte do marido, a companheira de Elizabeth nos crimes foi uma mulher de nome Anna Darvulia, de quem pouco se sabe a respeito: muitos afirmam que Darvulia teria sido uma temida ocultista e talvez praticante de rituais de magia negra, que terá incutido na própria Elizabeth, de quem se diz ter sido amante (é conhecida a bissexualidade da condessa).

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Quando Darvulia faleceu (cerca de 1609), Elizabeth se voltou para Erzsi Majorova, viúva de um fazendeiro local, seu inquilino. Majorova parece ter sido responsável pelo declínio mental final de Elizabeth, ao encorajá-la a incluir algumas mulheres de estirpe nobre entre suas vítimas às quais bebia o sangue. Em virtude de estar tendo dificuldade para arregimentar mais jovens como servas à medida que os rumores sobre suas atividades se espalhavam pelas redondezas, seguiu os conselhos de Majorova.

Elizabeth então, abriu uma escola de etiqueta feminina em 1609, então conhecida como Gynaecaeum. Mulheres jovens de famílias nobres distantes começaram a chegar para receber instruções nas artes femininas da viúva. Mas foi essa decisão de se envolver com famílias nobres que foi sua ruína, quando as jovens senhoras desapareciam, seus pais e irmãos furiosos começaram a notar os estranhos acontecimentos no Castelo Cachtice.

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No início do verão de 1610, tiveram início as primeiras investigações sobre os crimes de Elizabeth Bathory. Todavia, o verdadeiro objetivo das investigações não era conseguir uma condenação, mas sim confiscar-lhe os bens e suspender o pagamento da dívida contraída ao seu marido pelo rei Matias II.

A condessa foi presa no dia 26 de dezembro de 1610. O julgamento teve início alguns dias depois, conduzido pelo Conde György Thurzó, um primo de Elizabeth a quem muito convinha a condenação da condessa. Uma semana após a primeira sessão, foi realizada uma segunda, em 7 de janeiro de 1611. Nesta, foi apresentada como prova uma agenda encontrada nos aposentos de Elizabeth, a qual continha os nomes de 650 vítimas, todos registrados com a sua própria letra.

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Elizabeth não esteve presente em nenhuma das sessões do julgamento. Seus cúmplices foram condenados à morte, sendo a forma de execução determinada por seus papéis nas torturas: Ficzko foi decapitado e queimado; Dorka, Helena e Erzsi viram seus próprios dedos serem cortados e foram atiradas para a fogueira ainda vivas. Apenas Katarina foi ilibada e sua vida poupada, provavelmente devido a esta se ter envolvido amorosamente com um dos juízes.

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Elizabeth foi condenada à prisão perpétua, em solitária. Foi encarcerada em um aposento do castelo de Cachtice, sem portas ou janelas. A única comunicação com o exterior era uma pequena abertura para a passagem de ar e de alimentos. A condessa permaneceu aí os seus três últimos anos de vida, tendo sido encontrada morta em 21 de agosto de 1614, aos 54 anos de idade.

Não se sabe ao certo a data da sua morte, já que foram encontrados no aposento vários pratos de comida intactos. Ela foi originalmente enterrada no cemitério local, mas devido a revolta dos moradores locais, seu corpo foi transferido para a casa de sua família em Ecsed, Hungria.

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Após sua morte, os registros de seus julgamentos foram lacrados porque a revelação de suas atividades constituiriam um escândalo para a comunidade húngara reinante. O rei húngaro Matias II proibiu que se mencionasse seu nome nos círculos sociais. Nos séculos seguintes, sua história foi alternadamente esquecida e depois virou manchete sensacionalista.

A especulação transformou-a em uma tirana vampira lésbica que buscou a juventude eterna através do sangue de virgens, mas a verdade parece já ser bastante sangrenta sem os ornamentos sobrenaturais. Devido aos supostos crimes horrendos que teria cometido, Bathory tornou-se numa das personagens históricas mais inspiradoras da arte, nomeadamente a gótica: incontáveis referências lhe têm sido feitas nas áreas do cinema, literatura, música, entre outros.

O castelo foi abandonado em 1708 e continua em ruínas, porém foi restaurado alguns partes e reaberto ao público em 2014. Os visitantes podem fazer uma caminhada de 45 minutos até as ruínas da cidade de Cachtice, onde há também um pequeno museu na praça principal e há também a ser visitado a igreja onde seu corpo foi inicialmente enterrado. As ruínas do castelo foram utilizadas como cenário no clássico de terror Nosferatu, filme alemão de 1922 do diretor Friedrich Wilhelm Murnau e que teve uma refilmagem em 1979, dirigido por Werner Herzog.

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As lendas em torno da Condessa Sanguinária

Não foi senão cem anos mais tarde que um padre jesuíta, László Turoczy, localizou alguns documentos originais do julgamento e recolheu histórias que circulavam entre os habitantes de Cachtice. Turoczy incluiu um relato de sua vida no livro que escreveu sobre a história da Hungria. Seu livro sugeria a possibilidade de Elizabeth ter-se banhado em sangue. Publicado no ano de 1720, o livro surgiu durante uma onda de interesse pelo vampirismo na Europa oriental. Assim começou a espalhar-se o mito de que Isabel eventualmente bebia e se banhava no sangue das meninas que matava.

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Escritores posteriores retomariam a história, acrescentando alguns detalhes. Duas histórias ilustram as lendas que se formaram em torno de Elizabetht Bathory, apesar da ausência de registros jurídicos sobre sua vida e das tentativas de remover qualquer menção a ela na história da Hungria:

Diz-se que certo dia a condessa, já sem o frescor da juventude, estava a ser penteada por uma jovem criada, quando esta puxou os seus cabelos acidentalmente. Instintivamente, Elizabeth virou-se para ela e espancou-a com tamanha brutalidade, que algum sangue espirrou e algumas gotas caíram na sua mão. Ao remover o sangue, pareceu-lhe que este havia rejuvenescido a sua pele. Foi após esse incidente que passou a banhar-se em sangue de virgens, pois estas não estavam corrompidas pelo pecado original, sendo assim seu sangue puro e eventualmente milagroso.

Reza a lenda que, em um calabouço, existia uma gaiola pendurada no teto construída com lâminas, ao invés de barras. A condessa se sentava em uma cadeira embaixo desta gaiola. Então, era colocada uma donzela nesta gaiola e Ficzko espetava e atiçava a prisioneira com uma lança comprida. Esta se debatia, o que fazia com que se cortasse nas lâminas da gaiola, e o sangue resultante dos cortes banhava Elizabeth.

Uma segunda história refere-se ao comportamento de Elizabeth após a morte do marido, quando se dizia que ela se envolvia com homens mais jovens. Numa ocasião, enquanto passeava na aldeia na companhia de um desses homens, viu uma mulher de idade avançada e perguntou a ele: “O que farias se tivesses de beijar aquela bruxa velha?“. O homem respondeu com palavras de desprezo. A velha, entretanto, ao ouvir o diálogo, acusou Elizabeth de excessiva vaidade e acrescentou que a decadência física era inevitável, mesmo para uma condessa. Diversos historiadores têm relacionado a morte do marido de Elizabeth e esse episódio com seu receio de envelhecer.

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Hoje em dia, também há quem creia que a condessa tenha sido, ela própria, uma vítima da ambição humana: ela era a mulher mais rica da Hungria, o próprio rei lhe devia uma fortuna, seu latifúndio correspondia a cerca de 2/3 do território húngaro e ela era, de longe, a aristocrata mais poderosa do clã Bathory. Nunca foram encontradas provas concretas dos crimes bárbaros creditados à condessa, podendo toda a história da sua vida ter sido forjada pelos nobres da época.

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Muitos historiadores também acreditam que Elizabeth era uma mulher de personalidade forte, que precisava ser afastada e assim foi traída e envolvida em conspirações. Mulheres poderosas eram vistas como antinaturais e isso era uma verdade incontestável naquela época e tal fato, ocorria por toda a Europa.

Os estudiosos que tiveram acesso as suas cartas, relataram que ela era uma mulher muito inteligente que muitas vezes intimidava homens que tentavam ameaça-la, portanto, havia muitas pessoas com motivos para incriminá-la. Sendo verdade ou não, toda a lenda envolvendo a vida de Elizabeth Bathory, o Guinness Book of World Records registra ela como a assassina feminina mais prolífica de todos os tempos.

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Estátua de madeira de Elizabeth Bathory e uma de suas vítimas na praça central de Cachtice | Crédito da foto
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Elizabeth Bathory a Condessa Sanguinária
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Vista da vila de Cachtice | Crédito da foto
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Maquete de como era o castelo no passado | Crédito da foto
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Alegadamente Bathory cometeu seus crimes nos túneis de fuga embaixo de seu castelo. Este foi reconstruído para turistas e contém um esqueleto falso estendido sobre uma mesa no final do túnel | Crédito da foto
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Este é o ambiente em que Elizabeth foi trancada a própria sorte e sendo alimentada por uma fresta na parede. Se percebe que há realmente uma passagem lacrada com pedras, porém não se sabe se foi lacrada por causa da condessa ou posteriormente | Crédito da foto
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Placa informativa contando a história da condessa e de seu castelo |  Crédito da foto
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Atualmente a lenda da condessa sanguinária e se castelo atrai muitos visitantes. Isso também gerou uma infinidade de produtos relacionados a ela, inclusive uma bebida doce com gosto de sidra | Crédito da foto

Fontes:  1 2 3 4 5

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