Imagine o cenário perfeito para um conto de fadas: em um lago azul profundo e cintilante, uma ilha solitária desafia o teste do tempo. Sobre ela, emergindo da névoa, encontram-se as ruínas de um castelo outrora majestoso; suas torres, agora envoltas pela hera, suas paredes desmoronando, ainda emanam uma aura mágica. Esta visão extraordinária é uma realidade ao sul de Boyle, na República da Irlanda.
Este lugar encantado é a Ilha do Castelo (Castle Island), uma das muitas ilhas pequenas que adornam as vastas e pitorescas florestas de Lough Key, onde o Castelo de McDermott desafia o curso do tempo. Destruído, reconstruído e abandonado inúmeras vezes, este castelo de contos de fadas possui um cenário cativante. Como testemunha de quase mil anos de história irlandesa, a Ilha do Castelo de McDermotts abrigou diversas gerações de governantes e dinastias, servindo como palco para batalhas, celebrações, conquistas e histórias de amor condenadas.
A história do castelo de McDermott
As torres e muralhas do castelo em ruínas, agora envoltas pela natureza e hera, carregam um passado mais complexo do que sua aparência majestosa sugere. No século XIX, o renomado arquiteto galês John Nash, responsável pelo projeto do Palácio de Buckingham, adquiriu Castle Island. Surpreendentemente, ele abandonou a ilha, deixando para trás as estruturas que vemos hoje, optando por construir um castelo pessoal extravagante.
Entretanto, a história da ilha transcende as criações de Nash, remontando ao início da Idade Média, quando os reis gaélicos governavam a Irlanda. Nessa época distante, a Ilha do Castelo era não apenas um local estratégico, mas também o lar e reduto dos monarcas, representando um capítulo significativo na rica tapeçaria da história irlandesa.
Na era medieval, a Irlanda gaélica era composta por vários reinos, ocasionalmente unificados sob um único monarca supremo. Entre esses reinos estava o Reino Moylurg (Magh Luirg), situado na área do atual Condado de Roscommon, que permaneceu sob o domínio do Clã McDermott (Mac Diarmata) por cinco séculos.
Os Anais de Loch Cè, um registro histórico essencial da Irlanda medieval, apontam que a Ilha do Castelo, então chamada de “A Rocha”, servia como residência central dos McDermotts no coração do Lough Key (Loch Cé em irlandês). Estes anais abrangem eventos em Connacht e Moylurg de 1014 a 1590, proporcionando uma narrativa abrangente da história do Castelo de McDermott ao longo dos séculos.
O Rei Diarmata, que deu nome ao Clã McDermott (uma forma anterior de McDermott é Mac Diarmata), faleceu no castelo em 1159, após um reinado de 35 anos. Em 1184 ou 1887, um raio atingiu o castelo, desencadeando um terrível incêndio. No ano de 1235, durante a Conquista de Connacht, o castelo foi sitiado por Richard Mór de Burgh. Com o uso de catapultas e fogo, o rei Cormac McDermott se rendeu, levando o clã a abandonar o lugar por uma década.
Em uma carta posterior do rei Einigh McDermott, é detalhada a história da Bruxa de Lough Key, uma mulher que visitou o Castelo McDermott durante o governo de Cormac McDermott e recusou-se a partir por um ano inteiro. Nos últimos 300 anos do governo de Moylurg pelos McDermott, o castelo enfrentou turbulências constantes, com disputas de sucessão, ataques e conflitos com o reino de Connacht, às vezes aliado, às vezes inimigo, pintando a Ilha do Castelo com uma história repleta de complexidade. Inúmeros reis McDermott viveram, governaram e morreram no castelo.
O Clã McDermott foi permanentemente expulso do castelo na década de 1580 por invasores anglo-normandos. A ilha permaneceria abandonada durante séculos, com pedaços dos castelos construídos e reconstruídos ao longo de todos os séculos e depois deixado para apodrecer.
A influência do Castelo de McDermott sobre a imaginação das pessoas remonta a séculos. O castelo é o cenário da trágica lenda de Una Bhàn – a história da bela filha de um rei McDermott que se apaixonou por Tomás Láidir, um jovem de classe baixa, a proibiu de deixar a ilha. Quando o rapaz tentou nadar até ela, afogou-se, e a tristeza levou à morte da jovem e que ela e seu parceiro permaneceram enterrados sob duas árvores entrelaçadas na ilha desde então.
No século XVII, durante o período de Oliver Cromwell, a família King assumiu a ilha com a intenção de utilizá-la para eventos sociais, mas acabou negligenciando-a, deixando-a em mau estado. Em 1899, o renomado autor William Butler Yeats buscou adquirir o castelo da família King para transformá-lo em patrimônio, mas sua oferta foi recusada.
Após permanecer vazio e abandonado por três séculos, o castelo foi adquirido pelo arquiteto John Nash no início do século XIX. Nash empreendeu a construção de uma mansão extravagante em estilo nostálgico medieval. Utilizando as ruínas das verdadeiras fortalezas medievais como cenário, o castelo foi transformado em uma casa de veraneio para festas suntuosas.
O Castelo, utilizado pela última vez como residência de verão, encontrou seu destino nas chamas, durante a Segunda Guerra Mundial, transformando-se em ruínas. Apesar dos mitos que cercam a guerra de cerco e as tragédias de Lough Key, os eventos posteriores, incluindo o leilão de 2018, são incontestáveis.
Em escavações realizadas na ilha em 2018, arqueólogos descobriram diversas estruturas de base e artefatos luxuosos. A ilha revelou vestígios de distintos séculos, sendo o mais antigo deles o muro do recinto que circunda a ilha, representando o maior remanescente das fortalezas medievais e precedendo mesmo as primeiras construções dos castelos de McDermott.
Embora tenha sido listado por cerca de US$ 110.000 no BidX1, a propriedade permanece um importante local histórico nacional da Irlanda. Atualmente, oferece passeios de barco locais e visitas in loco, disponíveis para historiadores e entusiastas do folclore.
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