Animais & Natureza

Como um anime popular causou uma infestação de guaxinins no Japão

Uma infestação de guaxinins no Japão teve início após o sucesso de um anime baseado no livro "Rascal: A Memoir of a Better Era". Inspiradas pela história de um garoto e seu guaxinim de estimação, as pessoas começaram a importar guaxinins dos Estados Unidos como animais de estimação.

Quando algo é apresentado na TV ou no cinema, isso muitas vezes desencadeia um aumento significativo na popularidade relacionada, e isso também se aplica aos animais. Um estudo de 2014 destacou que, na década de 1940, houve um aumento de 40% nas adoções de collie após o lançamento de “Lassie Come Home”. Da mesma forma, a popularidade dos dálmatas cresceu após “101 Dálmatas”, e cães da raça São Bernardo tornaram-se mais desejados com “Beethoven”. Até mesmo os chihuahuas tiveram um aumento na procura após “Legalmente Loira”.

Nos anos 70, algo semelhante aconteceu no Japão, mas com guaxinins. Embora não sejam nativos do Japão, essas criaturas peludas conseguiram naturalizar-se em 44 das 47 províncias do país, criando desafios para os humanos e outras espécies animais. Curiosamente, tudo começou com uma adorável série de anime!

Em 1963, o escritor americano Sterling North lançou seu livro mais aclamado, “Rascal: Uma recordação de uma era melhor” (em inglês: Rascal: A Memoir of a Better Era). A história centra-se em Sterling, um garoto que embarca em aventuras com seu companheiro guaxinim, Rascal. O sucesso do livro levou à adaptação cinematográfica pela Disney. No Japão, a narrativa inspirou a série de anime Raskal, o Guaxinim (Araiguma Rasakaru, em japonês), que, em 1977, tornou os guaxinins os animais de estimação mais cobiçados do país.

A popularidade da história levou muitas crianças e adultos no Japão a desejarem um guaxinim como animal de estimação. No entanto, surgiu um problema: não havia guaxinins nativos no Japão, levando as pessoas a importá-los dos Estados Unidos em uma média de 1.500 animais por mês.

Infelizmente, aqueles que desejavam guaxinins como animais de estimação não consideraram o desfecho do livro ou a série de anime completa. A história, na verdade, não teve um final tão feliz, já que o protagonista Sterling percebe que os animais selvagens pertencem à natureza e os liberta. Famílias reais no Japão que importaram guaxinins como animais de estimação descobriram, da mesma forma, que guaxinins maduros não são ideais como animais de estimação.

Quando o governo japonês percebeu a extensão do problema, proibiu a importação de guaxinins. No entanto, os danos já estavam feitos, com os engenhosos mamíferos expulsando espécies selvagens, destruindo colheitas, templos e casas tradicionais. Dezenas de milhares de guaxinins se reproduziam incontrolavelmente, sem predadores naturais, e pouco podia ser feito para conter a situação.

Na busca por comida, os guaxinins invadiram o lixo nas cidades, chegando a atacar pessoas que tentavam impedi-los. Relatórios indicam que causaram danos significativos às colheitas, resultando em prejuízos agrícolas anuais de cerca de 300 mil dólares apenas na ilha de Hokkaido.

Uma das espécies mais ameaçadas pelos intrusos são os cães-guaxinins japoneses, ou tanukis, que perderam muito território devido a alta adaptabilidade de seus primos ocidentais mais competitivos. Isso coloca em risco outras espécies nativas, como raposas vermelhas e corujas, que compartilham os mesmos recursos. A competição tem impactos negativos, e o guaxinim americano é mais eficaz em proteger seus recursos.

Algumas prefeituras japonesas tomaram medidas controversas, como o abate de guaxinins, na tentativa de proteger colheitas e estruturas tradicionais. Essa abordagem gerou críticas de ativistas dos direitos dos animais e teve pouco impacto no controle da população de guaxinins.

Apesar dos desafios causados pela infestação de guaxinins no Japão, o anime que iniciou a tendência continua popular. Rascal permanece querido, embora seja reconhecido que é melhor deixar os guaxinins em seus habitats naturais na América do Norte, ou na tela da TV.

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Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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