Em Dawson City, às margens do rio Yukon, no norte do Canadá, há um peculiar estabelecimento que oferece uma experiência única aos seus visitantes: a possibilidade de solicitar uma dose de uísque acompanhada de um dedo humano autêntico e desidratado. Este ritual, conhecido como “Coquetel Yukon Sourtoe”, teve início em 1973 e se transformou em quase um rito de passagem para todos que exploram Dawson City, e mais de 100.000 pessoas de todo o mundo já o provaram.
Na década de 1920, Otto e seu irmão Louie desempenharam um papel peculiar durante a Lei Seca, contrabandeando bebidas alcoólicas para o Alasca a pedido de mineiros sedentos. Os irmãos realizavam suas atividades clandestinas correndo ousadamente durante tempestades de neve, buscando dificultar o rastreamento pelas autoridades. Em uma dessas incursões, Louie acabou molhando o pé, desencadeando uma série de eventos extraordinários.
Ao retornarem para casa, depararam-se com um dilema, pois o dedão do pé congelado de Louie ameaçava gangrenar. Armados com coragem e fortificados com rum, Louie submeteu seu dedo a uma remoção que, ao longo do tempo, gerou diferentes versões da história. Há relatos variados sobre como o dedo foi removido – seja por Louie, por seu irmão ou através de métodos como serragem, corte com machado, disparo e cauterizado com ferro em brasa.
Em um gesto peculiar, os dois decidiram preservar o dedão do pé amputado em um vidro de compota, transformando-o em uma lembrança singular. Cinquenta anos depois, o Capitão Dick Stevenson, um morador de Yukon, comprou a cabana que era de Otto Lykens na foz do rio Sixtymile. O Capitão Dick encontrou o dedo num frasco de picles na cabana, conservado em sal.
Uma ideia surgiu para o capitão “como um raio após cerca de 10 rodadas de cerveja” enquanto estava com amigos no Sluice Box Lounge, no Eldorado Hotel, revelou ele a um repórter em Dawson City, em 1973. Como uma homenagem ao 75º aniversário da Corrida do Ouro de Klondike em 1898, o capitão teve a brilhante inspiração de criar o Yukon Sourtoe, um coquetel com um toque distintivo. O champanhe era servido em um copo de cerveja, e usando uma pinça de gelo, o barman mergulhava o dedo mumificado na bebida. Sem pestanejar, o capitão Dick sorvia o espumante, fazendo com que a ponta do pé roçasse seus lábios. Foi assim que nasceu a ilustre Ordem do Yukon Sourtoe.
Até o momento, o Sourdough Saloon adjacente ao Downtown Hotel, situado às margens do rio Yukon, testemunhou a passagem de pelo menos oito dedos diferentes, todos doados generosamente por seus clientes. Infelizmente, a grande maioria desses dedos teve destinos peculiares – alguns foram furtados, enquanto outros desapareceram ao serem ingeridos corajosamente. A primeira ocorrência desse tipo foi totalmente acidental, quando, em 1980, um mineiro, já em sua décima terceira taça de champanhe Sourtoe, acabou engolindo o dedo original.
Desde então, a tradição continuou, com novas doações de dedos mantendo a excêntrica prática viva. No entanto, a saga tomou um rumo desafiador quando o oitavo dedo do Saloon foi roubado em junho de 2017, adicionando mais uma reviravolta intrigante à história do Coquetel Sourtoe e à galeria de curiosidades do Sourdough Saloon.
Naquela época, era comum que os participantes simplesmente levassem o dedo à boca e o devolvessem ao recipiente. É provável que tenha sido assim que ocorreu a ingestão acidental. Atualmente, as regras foram alteradas, impondo uma multa para quem engolir o dedo, seja de maneira acidental ou intencional. A ideia de ingerir deliberadamente um apêndice humano preto e mumificado parecia improvável, até 2013, quando um homem entrou no Saloon, solicitou um coquetel Sourtoe, o engoliu, pagou a multa de US$ 500 e saiu serenamente. Em resposta, o hotel aumentou a multa para US$ 2.500.
Para aqueles menos inclinados à aventura extrema, as regras são claras – para tornar-se membro do Sourtoe Cocktail Club, é necessário permitir que os lábios toquem o dedo do pé durante a experiência. Como exposto no bar, só existe uma regra: “Você pode beber rápido. Você pode beber devagar. Mas seus lábios devem tocar aquele dedo nodoso. Após completar o desafio com sucesso, será concedido a você um certificado de bravura e seu nome será registrado no livro de honra para que todos saibam da sua coragem!” Este gesto, menos drástico do que a ingestão, ainda permite aos visitantes participar do peculiar ritual sem a necessidade de enfrentar as multas elevadas e as consequências da ingestão do dedo.
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