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Mike: A história do frango sem cabeça

Mike, o frango sem cabeça, viveu por 18 meses após um fazendeiro remover sua cabeça em 1945. Sobreviveu alimentando-se por uma abertura no pescoço.

Você já ouviu a expressão “correr como uma galinha sem cabeça”? Geralmente, ela é usada para descrever alguém em estado de pânico ou agindo de maneira descuidada. Essa analogia peculiar refere-se ao comportamento das galinhas, que são conhecidas por correr por um curto período após terem suas cabeças cortadas, às vezes até 15 minutos. No entanto, existe uma história extraordinária que desafia todas as expectativas: a saga de Mike, o Frango Sem Cabeça, que viveu 18 meses após perder a sua cabeça.

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A história de Mike teve início em setembro de 1945, em uma fazenda localizada em Fruita, 320 quilômetros a oeste de Denver, Colorado, EUA, pouco após o término da Segunda Guerra Mundial. Lloyd Olsen e sua esposa Clara, agricultores dedicados, estavam ocupados preparando um lote de 40 a 50 frangos para o mercado. Enquanto Lloyd decapitava as aves, Clara se encarregava de depenar e limpar.

Ao final do dia, a dupla notou algo extraordinário: um dos galos ainda estava se locomovendo, mesmo sem a cabeça. Embora seja conhecido que a medula espinhal de uma galinha continue enviando sinais nervosos por um curto período após a decapitação, o caso de Mike, da raça Wyandotte, desafiou a lógica ao continuar funcionando horas após a perda da cabeça. Diante desse fenômeno intrigante, os Olsen decidiram levar Mike para a varanda e colocá-lo cuidadosamente em uma caixa.

Clara e Lloyd Olsen | Crédito da imagem

Na manhã seguinte, ao constatarem que Mike ainda exibia vitalidade, os Olsen decidiram adotar uma abordagem curiosa e cuidar da ave para ver por quanto tempo ele resistiria. Levaram-no consigo ao vender o restante das carcaças de frango no mercado. Lloyd, de maneira divertida, começou a apostar que transportava uma galinha viva e sem cabeça em sua carroça. A notícia sobre o milagroso Mike se espalhou rapidamente, e não demorou para que a imprensa local batesse à porta dos agricultores.

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Em poucas semanas, Hope Wade, uma promotora de espetáculos, percorreu 480 quilômetros, vindo de Salt Lake City, Utah para visitar a fazenda Olsen. Convenceu-os de que Mike poderia ser uma atração lucrativa em uma turnê nacional. Diante das dificuldades financeiras, a perspectiva de ganhar algum dinheiro rápido era tentadora para os agricultores, e eles concordaram em pegar a estrada.

Antes que o público pudesse testemunhar a visão intrigante de uma galinha viva sem cabeça, Mike foi levado à Universidade de Utah, em Salt Lake City. Lá, os cientistas elucidaram as razões por trás da persistência surpreendente de Mike.

Mike, o frango sem cabeça, em cima de um cortador de grama em Fruita, Colorado, 1945 | Crédito da imagem

A maior parte do cérebro de uma galinha está, na verdade, localizada na parte posterior do crânio, atrás dos olhos. Assim, quando Lloyd cortou a maior parte da cabeça de Mike, incluindo o bico, os olhos e uma orelha, surpreendentemente, a maior parte do cérebro de Mike permaneceu intacta. Isso permitiu que ele continuasse controlando funções vitais do corpo, como respiração e digestão. Um coágulo de sangue felizmente evitou que Mike sangrasse até a morte; em resumo, Mike era um frango extraordinariamente sortudo.

Apesar disso, Mike ainda exigia cuidados especiais para manter-se vivo. Alimentação líquida e água eram administradas diretamente em seu esôfago por meio de um conta-gotas, enquanto o muco era removido de sua garganta com uma seringa. Durante sua estadia em Salt Lake City, a fama de Mike atingiu níveis nacionais quando a revista Life escreveu um artigo sobre ele e realizou uma sessão de fotos. Apenas um mês e meio depois da decapitação de Mike, ele apareceu em uma das revistas mais importantes do país! 

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Os Olsens, em parceria com Hope Wade, embarcaram em uma turnê com Mike, percorrendo a Califórnia, Arizona e o sudeste dos Estados Unidos. Apesar das viagens, diversas paradas em casa na fazenda da família pontuavam a jornada.

Durante esses momentos, os Olsens tinham a oportunidade de acompanhar as cartas enviadas por fãs de Mike, provenientes de diversos lugares. Contudo, nem todas as reações eram positivas, com algumas pessoas expressando desaprovação em relação ao comportamento dos Olsen.

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Num trágico desfecho, durante uma turnê em Phoenix, Arizona, na primavera de 1947, um acidente infeliz resultou na morte de Mike. Durante uma noite em um quarto de motel, os Olsens foram despertados pelo som de Mike engasgando com muco. Ao buscar a seringa para limpar seu esôfago, perceberam que a haviam deixado no local do espetáculo do dia anterior.

Incapazes de encontrar uma alternativa para desobstruir a garganta de Mike, o frango morreu por sufocamento. Diante da trágica situação, e talvez influenciados pelo constrangimento, Lloyd optou por contar às pessoas que havia vendido Mike para outro promotor do circuito de espetáculos secundários, evitando assumir publicamente a responsabilidade pela morte da “galinha dos ovos de ouro“.

A verdadeira história da morte de Mike só veio à tona na década de 1980, quando Lloyd contou a história a seu neto, Troy Waters. Graças a Mike, os Olsens conseguiram modernizar seus equipamentos agrícolas e adquirir uma nova picape. Mesmo após o episódio trágico, eles seguiram cultivando a terra, mantendo boas lembranças dos dias em que percorreram o país.

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Mike permanece uma figura singular na história, sendo a única galinha conhecida a viver por tanto tempo sem cabeça. Apesar de tentativas de replicar o feito, incluindo por um vizinho dos Olsens, nenhum outro teve sucesso. O legado de Mike continua a prosperar em Fruita, evidenciado pelo festival anual de verão, devidamente batizado de ‘Mike the Headless Chicken Festival‘. A celebração inclui uma corrida de 5 km, música, comida, jogos e uma profusão de fantasias e produtos relacionados à galinha sem cabeça.

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Uma escultura de metal à imagem de Mike ao lado do Aspen Street Coffee House em Fruita | Crédito da imagem
Troy Waters fica ao lado de uma estátua de Mike em Fruita, que realiza o festival Headless Chicken todos os anos em maio | Crédito da imagem

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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