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Stonehenge Brasileiro: O sítio arqueológico do Amapá

O Parque Arqueológico dos Equinócios, no Amapá, Brasil, revela petroglifos ancestrais. Marcando equinócios, as rochas esculpidas testemunham a conexão sagrada das antigas culturas com os fenômenos celestiais.

As impressionantes estruturas megalíticas do Parque Arqueológico dos Equinócios, localizado no interior do município de Calçoene, no litoral norte do Amapá, inicialmente documentadas por Emilio Goeldi no final do século XIX. O interesse científico cresceu na década de 1920, quando Curt Nimuendajú identificou nove grupos de megálitos na região, levando a investigações contínuas. O primeiro programa abrangente de pesquisa começou em 2005, focando no observatório megalítico do Calçoene. Descobertas recentes revelam uma cultura antiga intrigante na América do Sul, fora dos Andes.

No entanto, a idade precisa da cultura megalítica amapanense permanece desconhecida. Acredita-se que tenha prosperado entre os séculos I e X d.C., possivelmente até o século XV. As áreas costeiras do Amapá fazem parte do extenso delta do Amazonas, sujeitas a inundações frequentes e com amplitude das marés de 5,2 metros. As condições ambientais desafiadoras, incluindo as transformações na paisagem durante a estação das chuvas, adicionam complexidade à compreensão da vida e da atividade cultural dessa antiga sociedade megalítica.

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As imponentes estruturas megalíticas do Amapá, como o observatório megalítico de Calçoene, estão localizadas a cerca de 17 km do oceano devido às condições ambientais desafiadoras. Nessa região, as inundações frequentes e a elevação gradual da topografia resultam em planícies aluviais durante a estação seca, pontuadas por ilhas florestais.

Até o final de 2005, foram identificadas 20 estruturas megalíticas, 8 cavernas funerárias e diversos sítios arqueológicos, incluindo aldeias antigas e sepulturas. Os megálitos são encontrados em pequenas colinas estrategicamente posicionadas perto de corpos d’água, como rios. À medida que nos afastamos da costa, surgem outros tipos de monumentos, como grutas com urnas funerárias de cerâmica.

Diferentemente da Guiana Francesa, não foram identificados indícios de práticas agrícolas próximas às estruturas, mas na região norte do Amapá, foram descobertos vestígios de grandes assentamentos, estendendo-se por mais de 1 km. Essa cultura também produziu notáveis vasos de cerâmica, com uma beleza singular, embora possivelmente menos refinados em comparação à cultura Marajoara vizinha.

Megálitos

A cultura megalítica do Amapá se destaca não pela monumentalidade das pedras, mas pela notável preservação e integridade das estruturas, ao contrário de muitos monumentos megalíticos em todo o mundo. Os megálitos nesta região, predominantemente situados no topo de colinas, formam arranjos circulares visíveis, com blocos de granito verticais e inclinados.

Variando em dimensões, desde círculos menores até a estrutura AP-CA-18, com mais de 30 metros de diâmetro e blocos de até 4 metros de altura, nota-se que estruturas maiores tendem a apresentar pedras maiores. Além dos arranjos circulares, alguns megálitos adotam formas lineares, com lajes de pedra alinhadas ao longo dos rios, estendendo-se por colinas estreitas.

A disposição ao longo dos rios, com aproximadamente 2 km de distância entre eles, sugere que essas estruturas podem ter servido como centros de unidades territoriais menores. A relação íntima entre os megálitos e a paisagem natural é evidente, com pedras ásperas sem sinais de trabalho intencional, levantando especulações sobre a preservação do estado original dessas rochas, talvez para manter sua essência inalterada, como um “espírito” intrínseco.

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Estrutura AP-CA-18 – o observatório astronômico

O megálito mais proeminente do Amapá, conhecido como estrutura AP-CA-18, desempenha um papel central na compreensão da cultura megalítica da região. Este monumento, situado no topo de uma colina que se eleva acima do rio Rego Grande, revela-se extremamente bem preservado, com grandes lajes de pedra vertical, algumas alcançando até 4 metros de altura, servindo como um notável cemitério e antigo observatório.

As escavações meticulosas realizadas em 2005, preservando as rochas intactas em suas posições originais, transformaram o AP-CA-18 em um atrativo turístico autêntico e renomado no Amapá. Composto por duas estruturas megalíticas distintas, cada uma no topo de uma colina, o local abriga um observatório circular famoso por sua função astronômica, além de outros monumentos arqueológicos, como fossas contendo fragmentos de cerâmica.

A cravação circular de pedra, composta por 127 blocos de granito, evidencia a complexidade e a maestria da engenharia megalítica dessa antiga civilização. As escavações detalhadas revelaram que o AP-CA-18 desempenhou múltiplos papéis, não apenas como local de sepultamento, mas também como um observatório cuidadosamente projetado, possivelmente utilizado para observações astronômicas ou rituais ligados ao ciclo celestial.

A preservação excepcional deste megálito e a manutenção da autenticidade do local tornaram o Amapá um destino turístico de destaque, oferecendo aos visitantes uma oportunidade única de explorar as maravilhas da cultura megalítica sul-americana e desvendar os mistérios que permanecem enraizados nessas antigas estruturas.

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Poços com cerâmica e ossos

Durante as escavações no Amapá, as descobertas notáveis incluíram cerâmica impressionante e incomum. Duas fossas revelaram narrativas únicas e intrigantes. A primeira, com cerca de 1,7 metros de profundidade, continha cacos de cerâmica com diversos padrões decorativos. Uma urna quase intacta, contendo fragmentos de ossos cremados, foi encontrada, e três urnas com pigmento vermelho foram dispostas em um triângulo na camada mais profunda, sugerindo um uso repetido.

A segunda fossa, coberta por uma pesada laje de granito, apresentava sete grandes urnas de cerâmica quase intactas, cada uma contendo terra com ossos carbonizados. O arranjo preciso sugere um uso singular e ritualístico deste poço.

Além disso, fossas menores revelaram tigelas de cerâmica, e em certas áreas, camadas inteiras de fragmentos cerâmicos foram encontradas, especialmente próximas a uma pedra proeminente com um buraco. A cerâmica exibe decorações escultóricas notáveis, representando cabeças humanas, animais e formas antropomórficas peculiares, com fragmentos indicando o uso de cerâmica policromada.

Uma especulação intrigante sugere que a presença de ossos nas estruturas megalíticas pode não indicar cemitérios, mas sim uma prática destinada a conferir-lhes maior significado ritualístico. Essa interpretação adiciona mistério às práticas associadas a essas antigas estruturas no Amapá, comparável aos relicários de santos medievais em igrejas europeias.

Arqueoastronomia ou Stonehenge Amazônico

Antes das escavações, notou-se que as pedras do megálito no Calcoene poderiam ter uma orientação astronômica específica, levantando a intrigante possibilidade de sítios arqueoastronômicos no Brasil, não apenas nos Andes. Embora algumas representações de constelações tenham sido identificadas em sítios petróglifos brasileiros, a estrutura megalítica do Calcoene sugere que os povos indígenas amazônicos aplicavam conhecimentos astronômicos em projetos estruturais.

No entanto, nem todos concordam com a conexão entre o AP-CA-18 e a arqueoastronomia. A presença de 127 blocos de granito pode ser considerada coincidência, e atualmente, acredita-se que o megálito esteja orientado para o nascer do sol no solstício de inverno, sem evidências relacionadas ao solstício de verão ou equinócios.

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Outras investigações revelaram que algumas pedras seguem a trajetória do Sol, minimizando sombras durante o solstício de inverno. Pedras de suporte mantêm essas pesadas pedras na posição desejada, algumas agora abaixo do solo. A fina laje de pedra cria uma faixa de sombra estreita durante todo o dia do solstício de inverno, possivelmente funcionando como um calendário eficaz. Além disso, uma pedra com um buraco, durante o solstício de inverno, oculta o Sol por grande parte do dia ao ser observada através desse buraco, sugerindo propósitos astronômicos e rituais complexos para o megálito do Calçoene.

Inexplicável e emocionante

As pesquisas revelam que o observatório megalítico de Calçoene é verdadeiramente singular no contexto brasileiro. Embora algumas questões tenham sido esclarecidas durante as escavações, muitas novas surgiram, demandando uma abordagem abrangente e multidisciplinar. Desafios técnicos incluem a investigação sobre se os megálitos foram criados por uma única cultura ou em épocas distintas, bem como a análise mais profunda das diversas tradições funerárias na região.

Além do valor arqueológico, o local possui potencial turístico, e esforços meticulosos foram feitos para preservar e promover o local. O Parque Arqueológico do Solstício foi criado como resultado da abordagem estratégica dos cientistas, representando um marco na promoção e conservação do patrimônio arqueológico da região.

A descoberta do observatório não apenas enriqueceu o entendimento da história do Amapá, mas também transformou a percepção pública sobre a riqueza cultural e arqueológica da região, consolidando-a como um destino de grande importância histórica e turística.

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Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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