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The Roller Ship: O navio que andava sobre rodas

O "The Roller Ship" de Ernest Bazin era uma embarcação esférica projetada para rolar sobre as ondas, oferecendo uma abordagem única para navegação marítima.
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No período entre 1892 e 1893, o inventor francês Ernest Bazin deu um passo revolucionário ao registrar a patente de um projeto naval verdadeiramente inovador. Desafiando as convenções estabelecidas, Bazin optou por um caminho pouco convencional: em vez de simplesmente deslizar sobre as águas como os navios tradicionais, ele visava minimizar o atrito e aumentar a eficiência, concebendo uma embarcação equipada com rodas giratórias (The Roller Ship).

Após extensos anos de experimentação, refinando e testando um modelo de navio com rodas em uma escala meticulosamente reduzida de 1:25, Bazin estava preparado para lançar sua revolucionária invenção aos mares.

The Roller Ship: O navio que andava sobre rodas

Em dezembro de 1893, Bazin, em parceria com seu irmão Marcel, estabeleceu a Societe en Participation du Navire-Express-Rouleurs Bazin, uma associação de investidores comprometidos com o desenvolvimento e financiamento do inovador navio de rolos. Dois anos depois, a Societe d’Etudes et d’Exploitation des Navires Rouleurs Bazin Societe Anonyme foi oficialmente incorporada em Paris, dando um passo crucial rumo ao avanço do conceito pioneiro de Bazin. Concomitantemente, teve início a construção do primeiro navio equipado com rodas no estaleiro Cail, situado em Saint-Denis.

The Roller Ship: O navio que andava sobre rodas

O navio concebido por Bazin era uma proeza de engenharia, composto por uma imponente plataforma retangular com aproximadamente 86 metros de comprimento e 12 metros de largura. O diferencial deste navio residia em sua estrutura singular: um casco retangular elevado acima da água pela flutuabilidade de seis rolos ocos em forma de lente, cada um com cerca de 12 metros de diâmetro e 3,60 metros de espessura. Cada par desses rolos era impulsionado por um motor de cinquenta cavalos de potência, e sob uma carga normal, apenas um terço dos rolos ficava submerso na água.

Bazin tinha grandes expectativas para seu projeto revolucionário. Ele previa que seu navio poderia alcançar velocidades em torno de 18 nós, possivelmente chegando a 20 nós em sua potência máxima. Em comparação, um navio convencional com estrutura e potência semelhantes mal conseguia atingir metade dessa velocidade.

The Roller Ship: O navio que andava sobre rodas
Ilustração do Ernest-Bazin concluído 
, 1897

Bazin imaginou que seu projeto, equipado com um motor de 10.000 cavalos de potência, seria capaz de transportar uma carga adicional de 600 toneladas a uma velocidade de 32 nós através do Atlântico. Isso contrastava com os navios a vapor convencionais, que necessitavam de 30.000 cavalos de potência para atingir uma velocidade de 20 nós, com uma capacidade de carga inferior.

Além disso, Bazin antecipava uma economia significativa de combustível, estimando que seu navio consumiria apenas 800 toneladas de carvão para atravessar o Atlântico, em comparação com as 3.000-4.000 toneladas queimadas por um transatlântico convencional.

The Roller Ship: O navio que andava sobre rodas

Bazin argumentou que seu navio aumentaria a segurança marítima, alegando que, em caso de colisão, pelo menos um par de rolos permaneceria intacto, permitindo que a embarcação continuasse sua jornada até o próximo porto com segurança.

Confiantemente, Bazin planejou testes em Rouen e posteriormente no rio Tâmisa, batizando seu navio em sua própria homenagem como o “Ernest Bazin”. Ele anunciou audaciosos planos para a construção de uma embarcação maior, equipada com quatro pares de rolos, visando viagens transatlânticas.

The Roller Ship: O navio que andava sobre rodas

Entretanto, os resultados dos testes do “Ernest Bazin” no Canal da Mancha foram decepcionantes. Revelou-se instável e com potência insuficiente. As rodas levantaram tanta água que, ao invés de impulsionar o navio para frente, acabaram retardando sua velocidade. Longe das expectativas de atingir 20 nós, o navio mal alcançou uma velocidade máxima de 7 nós.

Infelizmente, Bazin não viveu para ver a conclusão desse empreendimento. Faleceu pouco depois, em janeiro de 1898, com o coração decepcionado. Ambas as associações Bazin foram dissolvidas no mesmo ano. O navio, que consumiu uma fortuna estimada em US$ 100.000, foi colocado à venda publicamente em 1899, em Liverpool, sob o nome de “French Roller Steamer”. Contudo, não houve interessados e, eventualmente, a embarcação foi desmantelada. A triste saga do visionário “navio de rolos” de Bazin chegava ao fim.

Projetos semelhantes

Em 1897, Frederick Knapp, um advogado sediado em Prescott, Ontário, concebeu uma alternativa ao projeto de Bazin: o “barco com rodas”. Este projeto consistia essencialmente em um único cilindro longo posicionado na água. Um motor instalado em seu interior, suportado por rolamentos giratórios, fazia com que a superfície externa do cilindro girasse, funcionando como uma espécie de roda de pás.

No entanto, o “barco com rodas” de Knapp enfrentou desafios semelhantes aos do design de Bazin. Apesar das expectativas de atingir uma velocidade hipotética de “uma milha por minuto”, na prática, mal conseguia ultrapassar cinco nós. Além disso, a embarcação revelou-se difícil de controlar, frustrando as esperanças de seu inventor.

Após uma série de testes, o protótipo acabou sendo deixado atracado no porto por uma década inteira, antes de ser finalmente vendido como sucata. A história do “barco com rodas” de Knapp seguiu o triste destino de muitos projetos audaciosos que não conseguiram superar os desafios da realização prática.

O barco com rodas de Knapp, em Prescott, Ontário
O barco com rodas de Knapp, em Prescott, Ontário

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